Entender a personalidade do candidato para quem vamos desenvolver um trabalho de marketing é um fator crítico de sucesso em uma campanha eleitoral. Este conhecimento vai nos orientar como precisamos preparar o candidato para a extenuante maratona da campanha com entrevistas, debates, comícios, encontros, reuniões com eleitores e militantes, longas gravações para TV, rádio ou redes sociais etc.
A personalidade humana é desafiadora e intrigante, estimulando muitos especialistas a buscarem meios para decifrá-la. Hoje, existe uma metodologia que é amplamente aceita pela psicologia para avaliar a personalidade dos indivíduos – o Modelo dos Cinco Grandes Fatores, ou em inglês, Five Factor Model, o Big Five. Os traços de personalidade Big Five são uma das medidas científicas mais usadas atualmente.
O Big Five surgiu por meio dos estudos da Teoria dos Traços de Personalidade, descritos pelo método lexical, ou seja, baseado em análise linguística. O modelo Big Five é o resultado empírico de um longo processo de desenvolvimento que envolveu estudos feitos por diversos pesquisadores independentes.
Por meio de testes e análises específicas, permite compreender o modo como as pessoas pensam, sentem e reagem em diferentes situações. A técnica estatística utilizada para investigar esses traços – por meio de um questionário – é a Análise Fatorial, empregada para reduzir uma quantidade grande de informações a um conjunto sintético. Os traços Big Five são amplos, compreensivos e geralmente apresentados em uma medida de percentil. Ou seja, os resultados mostram uma escala de graduação, em que um determinado traço é mais dominante e, outros, menos presentes.
No geral, o perfil Big Five, no geral, não apresenta grandes mudanças ao longo da vida. Normalmente, as transformações acontecem em algum aspecto específico, de acordo com as vivências e o processo de desenvolvimento de cada indivíduo. Contudo, estudos apontam que os cinco fatores mais amplos da personalidade são influenciados, principalmente, pela genética. Há também a interferência dos processos culturais e do espaço social em que cada pessoa está inserida. Mas o impacto de características como gênero, idade, cultura e ambiente social é indireto ou marginal.
A metodologia tem como base cinco traços amplos de personalidade, que são representados pela sigla em inglês OCEAN:
1. Openness to experience, ou seja, abertura a experiências; 2. Conscientiousness, que significa conscienciosidade; 3. Extraversion, ou extroversão; 4. Agreeableness, agradabilidade ou simpatia; 5. Neuroticism, ou neuroticismo.
1. ABERTURA PARA EXPERIÊNCIAS
A abertura para experiências se configurada no interesse por novas vivências emocionais. Ou seja, por ideias incomuns, pela arte e pelo amplo uso da imaginação. Além disso, apresentam alto grau de curiosidade. Geralmente, as pessoas que apresentam esse fator como dominante são:imaginativas; criativas; curiosas; apreciadoras da arte e sensíveis à beleza. Tendem a levar em conta seus sentimentos e a terem opiniões não convencionais, fugindo do tradicional.
Por outro lado, aqueles que têm uma menor abertura para experiências costumam ter interesses mais convencionais. Preferem o simples, claro e óbvio ao complexo, ambíguo e sutil. Além disso, podem não gostarem de correr riscos.
2. CONSCIENCIOSIDADE
No geral, a conscienciosidade influencia a maneira como são controlados e dirigidos os impulsos. Pessoas com esse traço dominante são mais rígidas em relação a qualquer eventual quebra de valores. Além disso, tem preferência pelo comportamento planejado em vez do espontâneo. Por isso, são marcadas por características como: autodisciplina;orientação para regras, leis e deveres; foco nos objetivos e ambição.
Já indivíduos com menor grau de conscienciosidadecostumam ser mais flexíveis e espontâneos. Tem, também,certa dificuldade em lidar com normas e regras e em controlar instintos impulsivos.
3. EXTROVERSÃO
A extroversão é o traço pessoal caracterizado por emoções positivas e pela tendência a procura por novos estímulos. Além disso, é marcada pela busca da companhia das outras pessoas e pelo profundo envolvimento com o mundo exterior.Os extrovertidos, usualmente, são cheios de energia, entusiasmo e são voltados para a ação. Dessa forma, se mostram: sociáveis; animados; dispostos a se relacionar com novas pessoas e amantes da diversão.
Por outro lado, os introvertidos não têm a exuberância social e os níveis de atividade dos extrovertidos. Tendem a parecer calmos, ponderados e menos envolvidos com o mundo externo. Além disso, os introvertidos necessitam de menos estímulos e de mais tempo sozinhos. Podem ser bastante ativos e enérgicos em outros campos que não o do relacionamento social.
4. NEUROTICISMO
O neuroticismo representa a tendência a experimentar e vivenciar emoções negativas. Para isso, considera-se a possibilidade daquela pessoa viver momentos de raiva, ansiedade ou depressão de forma persistente. Por remeter ao equilíbrio e ao perfil emocional, às vezes, o neuroticismotambém é associado à instabilidade emocional. Aqueles com um elevado grau de neuroticismo têm predisposição a interpretar situações normais como sendo ameaçadoras e pequenas frustrações como dificuldades instransponíveis. Por isso, tendem a ser: reativas emocionalmente; vulneráveis ao estresse; ansiosas e instáveis. Podem também apresentar uma capacidade reduzida de pensar claramente e tomar decisões em situações de estresse.
No outro extremo da escala, indivíduos com baixo neuroticismo são mais difíceis de serem perturbados e são menos reativos. Eles tendem a ser calmos, emocionalmente estáveis e livres de sentimentos negativos persistentes.
5. AGRADABILIDADE (SIMPATIA)
A agradabilidade ou simpatia é a tendência de o indivíduo ser compreensivo e cooperativo em vez de desconfiado e antagonista em relação aos outros. Esse traço reflete diferenças na preocupação com a harmonia social. Sujeitos com maior amabilidade valorizam a boa relação com os outros. Geralmente, são: respeitosos; amigáveis; generosos;prestativos e comprometidos. Também têm uma visão otimista da natureza humana. Acreditam que as pessoas são honestas, decentes e dignas de confiança.
Indivíduos com pouca agradabilidade colocam o interesse próprio acima da boa relação com os outros. Normalmente, são pouco empáticos e não se preocupam com o bem-estar dos que estão ao seu redor. Por vezes, o seu ceticismo sobre as motivações dos outros os fazem desconfiados e pouco cooperativos e empáticos.
A partir da referência da teoria dos Traços de Personalidadedo Big Five, que apenas mede quais são os traços predominantes em cada um, conclui-se que o indivíduo não escolhe a sua personalidade e que, conhecer este perfil, ajuda muito na condução do trabalho de marketing.
Sabe-se também que não existe um líder político ideal – sempre a pessoa vai ter qualidades e também defeitos, pontos fortes e fracos. Cada pessoa vai ter traços mais ou menos adequados à atividade política. Mas, pode-se perguntar: em tese, quais são os traços mais adaptados a um líder político?
Um político deveria mesclar atributos associados predominantemente à Extroversão e à Agradabilidade, ter algumas características de Consciensiosidade e se afastar do Neuroticismo.
Da Extroversão destaca-se o gosto pela companhia das outras pessoas. O fato dos indivíduos deste traço serem cheios de energia e entusiastas é fundamental para que consigam motivar e buscar a adesão dos liderados. Ser voltado para a ação é, também, essencial na política. Da mesma forma, aos líderes é muito importante as características da sociabilidade e da disposição para se relacionar com novas pessoas.
Da Agradabilidade, destaca-se o desejo pela construção de harmonia social e a
valorização da boa relação com os outros. Todo político, em tese, deveria ser respeitoso, amigável, generoso, prestativo e comprometido. Da mesma forma, é interessante um líder político ter uma visão otimista da natureza humana: acreditar que as pessoas são honestas, decentes e dignas de confiança.
É desejável, mesmo que em menor grau, que os políticos detenham traços de Consciensiosidade: com certa rigidez em relação a seus valores e suas crenças. Ter preferência pelo comportamento planejado e serem autodisciplinados,orientados para os deveres e com foco nos objetivos.
Também seria bom terem baixo neuroticismo, serem calmos, emocionalmente estáveis e livres de sentimentos negativos persistentes.
Por fim, alguma característica voltada à Abertura para Experiências para possibilitar as mudanças sociais, fruto de uma visão inovadora. E fazer política levando em conta os seus próprios sentimentos e terem opiniões não convencionais.
A apresentação do Big Five deixa claro a complexidade que representa o trabalho de formação de uma liderança política. Sabe-se que não é possível moldar a personalidade de ninguém. Contudo, com tempo, é viável, e muito necessário, que alguns aspectos da personalidade sejam trabalhados, reforçando uns e amenizando outros. É possível e fundamental acentuar traços que ajudem na política, para possibilitar a construção de relações baseadas em confiança e no estabelecimento de uma comunicação empática e verdadeira com os eleitores.
Conclusão: a preparação para uma campanha eleitoral começa por conhecer bem o candidato. Definitivamente isto não é algo que se faça nos poucos meses que antecedem a eleição.
Quer ter uma campanha vitoriosa? Comece agora!