Donald Trump escolheu J.D. Vance como vice de chapa na disputa pela Presidência dos EUA.
O anúncio, feito nesta segunda (15) na rede social Truth em paralelo à convenção republicana, encerra um mistério que vinha sendo feito há meses. A demora é atribuída tanto a um cálculo político —estender o suspense ao máximo para impulsionar o impacto da notícia— quando a uma indecisão de Trump sobre seu companheiro de chapa.
“Após longas deliberações e reflexões, e considerando os talentos extraordinários de muitos outros, decidi que a pessoa mais adequada para assumir a posição de Vice-Presidente dos Estados Unidos é o Senador J.D. Vance, do grande estado de Ohio. J.D. serviu honrosamente ao nosso país no Corpo de Fuzileiros Navais, se formou na Universidade Estadual de Ohio em dois anos, com Summa Cum Laude, e é formado pela Faculdade de Direito de Yale”, disse Trump em um post na rede social Truth.
“J.D. teve uma carreira empresarial muito bem-sucedida em Tecnologia e Finanças e agora, durante a campanha, estará fortemente focado nas pessoas por quem lutou tão brilhantemente, os trabalhadores e agricultores americanos na Pensilvânia, Michigan, Wisconsin, Ohio, Minnesota e muito além”, completou.
Também nesta segunda, Trump se tornou oficialmente o candidato do Partido Republicano à Casa Branca na convenção da sigla. O ex-presidente venceu as primárias republicanas com facilidade no início do ano, derrotando adversários como a ex-governadora da Carolina do Sul Nikki Haley e o governador da Flórida, Ron DeSantis.
Vance, 39, é senador por Ohio. Originalmente um investidor de risco, ele ganhou projeção nacional em 2016 com o livro best-seller “Hillbilly Elegy” (“Era uma Vez um Sonho”, na tradução para o português), adaptado para o cinema em 2020. Na obra, Vance faz um retrato da classe trabalhadora branca americana ao contar sua própria origem pobre no Cinturão da Ferrugem.
O senador foi eleito pela primeira vez em 2022, endossado por Trump. A relação entre os dois, no entanto, começou conflituosa: Vance era um duro crítico do republicano. Ele já chegou a comparar Trump com Hitler, chamar o trumpismo de “ópio das massas” e afirmar que o empresário “não está apto para o mais alto cargo de nossa nação” em 2016.
Anos depois, quando decidiu lançar-se ao Senado, ele procurou Trump e ganhou o endosso do ex-presidente. Em entrevistas, Vance justificou a mudança radical de posição dizendo que mudou de opinião ao longo da presidência do empresário, que avalia como positiva.
Sua curta carreira no Congresso, porém, é vista como um dos pontos negativos da escolha. Outra questão é a posição de Vance sobre aborto —enquanto Trump tem defendido uma postura moderada, para não alienar eleitores, o senador já apoiou a proibição do procedimento adotada no Texas e criticou exceções feitas para casos de estupro e incesto. Recentemente, ele tem suavizado seu discurso para se aproximar de Trump.
Já os pontos fortes de Vance são sua idade —em uma corrida em que o tema ganhou centralidade— e sua eloquência. Ele é um convidado frequente em programas de TV, e sua performance é elogiada por Trump. O senador também tinha apoio do filho mais velho do ex-presidente, Donald Trump Jr.
“Vance começou como um ‘Trump nunca’, mas depois disse que ele estava errado sobre Donald Trump. Sua jornada não é muito diferente da de outros republicanos que não apoiaram Trump em 2016. Ele se tornou um grande nome do movimento Maga [como é chamada a base do presidente]”, disse à CNN Scott Jennings, que já foi assessor de diversos republicanos, como Mitt Romney.
Analistas estão vendo a escolha do senador como um sinal de que Trump está passando o bastão, tendo em vista a idade do escolhido.
A convenção republicana, que ocorre em Milwaukee, no Wisconsin, vai oficializar a chapa do partido à Presidência. Na quarta, o vice deve fazer um discurso e, na quinta, Trump aceitará a nomeação.
O evento, que atrai ampla cobertura da imprensa, serve como uma oportunidade de projeção da candidatura para um eleitorado mais amplo, e está atraindo ainda mais atenção após a tentativa de assassinato sofrida por Trump durante um comício no sábado na Pensilvânia.
O republicano lidera das pesquisas de intenção de voto e, desde que perdeu a Casa Branca, ampliou ainda mais seu domínio sobre o partido. Diferentemente de 2016, quando o empresário precisava de um vice que fosse uma ponte com o establishment do partido e o eleitorado evangélico, encontrada em Mike Pence, dessa vez um vice importa muito pouco para ele em termos eleitorais.
Assim, pesou mais no cálculo de Trump a lealdade, reflexo do conflito vivido entre ele e Pence. A tensão atingiu o ápice no 6 de Janeiro, quando o ex-presidente o pressionou para rejeitar a confirmação da vitória de Joe Biden pelo Congresso —nos EUA, o vice preside o Senado e a sessão conjunta das duas Casas.
Pence se negou a fazer isso, afirmando que não teria poder constitucional para tal. Apoiadores do ex-presidente invadiram o Capitólio nesse dia, interrompendo o procedimento pela força. Desde então, os dois romperam relações, e Pence se tornou um dos principais críticos de Trump no partido, chegando a concorrer contra o empresário pela nomeação republicana.
Vance, por sua vez, já afirmou que não teria certificado o resultado da eleição imediatamente se estivesse na posição de Pence.
Com informações da Folha SP