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Consciência Negra: a luta que atravessa séculos e molda a história da Paraíba
20/11/2025 / 14:14
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Imagem feita no Brasil em 1861 mostra o trabalho de escravizados no campo — Foto: Frédéric Sorrieu/Biblioteca Nacional

O Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro em alusão à morte de Zumbi dos Palmares, é mais do que uma data simbólica. A data representa um convite para revisitar a formação histórica do Brasil e reconhecer o protagonismo do povo negro na construção do país. Na Paraíba, esse processo ganha contornos próprios, marcados pela resistência, pela violência da escravidão e pela permanência de desigualdades que ainda estruturam a sociedade.

Raízes da escravidão e o papel da Paraíba no período colonial

A Paraíba teve participação significativa no ciclo escravista brasileiro desde o século XVI, principalmente com a produção açucareira no litoral e a pecuária no interior. Engenhos localizados em cidades como Santa Rita, Pilar e Mamanguape dependeram durante séculos da mão de obra de africanos escravizados, trazidos à força de regiões como Guiné, Angola e Congo.

Documentos históricos mostram que a Paraíba manteve ao longo dos períodos colonial e imperial uma grande população escravizada. Essas pessoas eram empregadas em atividades urbanas, domésticas e rurais, estando presentes no comércio, na construção civil, no transporte de cargas e até em serviços ligados à administração pública.

Resistência negra: quilombos e insurreições

A história paraibana também é marcada por focos de resistência negra. Pesquisas acadêmicas registram a existência de diversos quilombos espalhados pelo território, com destaque para o Quilombo do Ipiranga, localizado no atual município de Conde, além de comunidades quilombolas que ainda hoje preservam tradições herdadas de seus antepassados.

Esses agrupamentos foram essenciais para desafiar o sistema escravista, criar espaços de liberdade e manter viva a identidade cultural africana. Suas influências seguem presentes na cultura paraibana por meio da religiosidade, da culinária, da música e de outras manifestações que carregam a memória de seus ancestrais.

Depois da abolição: a liberdade incompleta

Mesmo após a assinatura da Lei Áurea, em 1888, a população negra paraibana, assim como no restante do país, não recebeu condições adequadas para sua inserção social. Sem acesso à terra, moradia ou oportunidades básicas, muitos ex-escravizados continuaram vivendo em condições de extrema vulnerabilidade, o que ajudou a perpetuar desigualdades estruturais que permanecem até hoje.

Bairros periféricos de João Pessoa, Campina Grande e outras cidades do estado ainda refletem esse processo histórico, concentrando grande parte da população negra que descende diretamente de pessoas escravizadas.

Memória, identidade e luta contemporânea

A Consciência Negra não é um ato isolado, mas um movimento permanente de reconhecimento histórico, enfrentamento ao racismo estrutural e afirmação da identidade afro-brasileira. Na Paraíba, universidades, movimentos sociais, coletivos culturais e comunidades quilombolas fortalecem essa construção por meio de projetos, pesquisas e ações que mantêm viva a memória e impulsionam novas conquistas.