João Pessoa 26.13ºC
Campina Grande 23.9ºC
Patos 25.67ºC
IBOVESPA 124171.15
Euro 5.5997
Dólar 5.233
Peso 0.0061
Yuan 0.7233
Conselho de ética arquiva processo contra Eduardo Bolsonaro por declaração sobre volta do AI-5
08/04/2021 / 13:06
Compartilhe:

08/04/2021

DANIELLE BRANT

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O Conselho de Ética da Câmara dos Deputados decidiu arquivar, nesta quinta-feira (8), a representação contra Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), por declarações sobre a volta do AI-5 no Brasil.

A decisão foi tomada por 12 votos a 5. A maioria acompanhou o relator do parecer preliminar, deputado Igor Timo (Podemos-MG), que não viu justa causa para admitir o processo e, por isso, votou pelo arquivamento.

A oposição, que discordou do parecer, apresentou voto separado e pediu que fosse declarada a suspeição do relator.

Durante o processo, Timo foi criticado pela proximidade com o presidente Bolsonaro.

Reportagem do UOL mostrou que o deputado gravou um vídeo com Bolsonaro agradecendo o presidente por ter repassado verbas para seu estado.

No parecer alternativo, Rede, PSOL, PT e PCdoB afirmam que a postura do relator compromete a credibilidade do parecer apresentado pelo deputado. Na época, em nota enviada ao UOL, a assessoria de Igor Timo afirmou que o parlamentar mantinha sua imparcialidade e disse que o episódio não interferia no trabalho que ele realiza no conselho.

Na sessão desta quinta, Timo afirmou que o vídeo foi feito para divulgar recursos que estavam sendo disponibilizados para municípios do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. Segundo o relator, Bolsonaro não foi sua primeira opção de voto para presidente em 2018, e sim o senador Álvaro Dias (Podemos-PR). No segundo turno, “a opção ficou franqueada” e, por isso, disse, votou em Bolsonaro.

“Meu cuidado foi exclusivamente em levar informação para que a população tivesse ciência de que os recursos estavam disponibilizados”, disse Timo, negando qualquer relação anterior com Bolsonaro e afirmando que o conselho não poderia ser transformado numa “caça a parlamentares.”

Em seu parecer alternativo, a oposição afirmou que Eduardo Bolsonaro “tem, em seu modus operandi, falas que ofendem e ameaçam os princípios democráticos que, de acordo com a Constituição Federal, constituem os fundamentos, objetivos e princípios da República, remetendo a um dos períodos mais tristes da história brasileira.” “Aceitar esse tipo de conduta de forma reiterada é uma forma de se legitimar essas atitudes.”

A maioria dos membros do conselho, no entanto, votou a favor do parecer de Igor Timo.

Na reunião desta quinta, o relator repetiu o que já tinha dito na segunda-feira (5) sobre o AI-5 e afirmou que o “Brasil não permite, em tempo algum, referenciar ou citar com saudosismo tempos sombrios” de sua história.

“O que seria mais danoso ao Congresso Nacional, a possibilidade ou a prática de uma ação em seu desfavor? Essa ação seria a censura. Essa mesma aventada pelo representado, mas que agora pode ser praticada pelos seus pares em seu desfavor”, criticou.

“Se estamos aqui para discutir e combater a censura, é importante que nós não pratiquemos contra um colega. Quando digo a um colega, me refiro a todos”.

Já Eduardo Bolsonaro negou fazer campanha pelo fechamento do STF ou do Congresso e fez críticas à oposição. “Esses mesmos que me acusam de ter conduta ditatorial, como o próprio presidente Jair Bolsonaro, que nunca matou uma pessoa em sua vida”, disse.
“Esses mesmos que o acusam de ser genocida fazem apologia à revolução bolchevique [de 1917], celebram mais de 200 anos do nascimento de Karl Marx e tantos outras figuras, como Marighella. Que a gente viu nesta casa, no Congresso Nacional, uma sessão em homenagem a Carlos Marighella, que fez um mini manual do guerrilheiro urbano, pregando o assassinato e como fazer isso, de matar policiais militares e todos aqueles que eram vistos como obstáculos para a sua conquista de poder.”

Eduardo era alvo do conselho desde novembro de 2019 por dizer que o resultado de uma hipotética radicalização da esquerda seria a volta do AI-5, o ato que marcou o início do período mais duro da ditadura militar (1964-1985).

As declarações foram dadas em entrevista à jornalista Leda Nagle em 31 de outubro do ano passado. Na conversa, o deputado disse que, se o Brasil tivesse protestos como os que ocorriam na ocasião no Chile, chegaria um momento igual ao do final dos anos 1960, quando houve sequestros de aviões e autoridades durante a ditadura militar.

“Se a esquerda radicalizar a esse ponto, a gente vai precisar ter uma resposta. E a resposta, ela pode ser via um novo AI-5, via uma legislação aprovada através de um plebiscito, como ocorreu na Itália. Alguma resposta vai ter que ser dada”, afirmou, fazendo referência ao ato institucional que determinou o fechamento do Congresso e a suspensão da garantia de habeas corpus no país.

Duas representações foram protocoladas no conselho por causa do episódio: uma pela Rede, e outra assinada por PSOL, PT e PC do B -essa última foi incorporada à primeira.
No final de fevereiro, Eduardo já havia tido outro processo arquivado pelo conselho de ética. O deputado era acusado de ter ofendido a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) nas redes sociais, em 2019.