De acordo com dados do Sindicato da Indústria de Fabricação de Álcool na Paraíba (Sindalcool-PB), em 2020 o consumo total de etanol hidratado (etanol comum) no estado foi de cerca de 146 milhões e 229 mil litros. No ano passado, o uso do biocombustível, derivado da cana-de-açúcar, evitou a emissão de 171 mil toneladas de dióxido de carbono (CO2), também conhecido como gás carbônico, um dos principais gases associados ao aumento do efeito estufa no planeta.
Ainda segundo o sindicato, o consumo de etanol hidratado voltou a subir na Paraíba. Em fevereiro de 2021 (último mês contabilizado), os paraibanos consumiram cerca de 21 milhões de litros de etanol, o que representa um aumento de 24% em comparação ao mesmo período do ano passado. Só no mês de fevereiro deste ano, pelo consumo do etanol hidratado no estado, foram evitados 24.385 mil toneladas de CO2eq.
Já o etanol anidro, aquele adicionado à gasolina comum num percentual de 27% por litro, evitou a emissão de 214.845 mil toneladas de CO2eq em 2020, visto que a venda total de gasolina C registrada na Paraíba no ano passado foi de cerca de 622 milhões de litros. O etanol anidro é adicionado à gasolina para reduzir a quantidade de monóxido de carbono na atmosfera. Além desse benefício ambiental, o etanol eleva a lubrificação do veículo e aumenta o índice de octanagem da gasolina.
O “combustível verde” vem mostrando uma recuperação gradual após a queda nas vendas provocada pela pandemia do novo coronavírus, que restringiu a mobilidade urbana e afetou o mercado de combustíveis como um todo.
O presidente do Sindalcool-PB, Edmundo Barbosa, acredita que o aumento do consumo do etanol hidratado deve continuar nos próximos meses. “Acredita-se em uma retomada da demanda para os próximos meses, ainda mais se compararmos aos mesmos meses do ano passado, que foram bastante afetados pela pandemia, diminuindo a mobilidade urbana”, disse Barbosa.
“Por causa da pandemia, em 2020 houve uma redução de 17% no consumo do etanol hidratado no estado em relação a 2019. As pessoas estão mais conscientes de que é preciso cuidar do meio ambiente, a pandemia ressaltou isso. As pessoas não compram etanol só pelo seu melhor preço, agora estão levando em consideração o seu real valor para o meio ambiente, para a geração de emprego e renda e para uma qualidade do ar cada vez melhor”, complementou o presidente do Sindalcool-PB.
O relatório anual da Agência Internacional de Energia, publicado na última terça-feira (20), apontou que as emissões globais de CO2 terão o segundo maior aumento da história em 2021. A entidade calcula que o aumento nas emissões será de 1,5 bilhão de toneladas, sendo motivada, principalmente, pela demanda de carvão no setor de energia
Desde 2019, a indústria da cana-de-açúcar deixou de lançar na atmosfera 535 milhões de toneladas de gás carbônico. Este dado foi apontado pelo levantamento “Cenários de Oferta de Etanol e Demanda do Ciclo Otto”, recém-publicado pela área de biocombustíveis da diretoria de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
“A maior parte da poluição nas grandes cidades é advinda da queima de combustíveis fósseis dos veículos. Uma alternativa para a melhoria da qualidade do ar seria a utilização de biocombustíveis, como o etanol, que reduz a emissão de gases do efeito estufa na sua queima, trazendo efeitos positivos para a redução do aquecimento global e também para diminuição da poluição local nas grandes cidades”, pontuou Edmundo.
O etanol já é usado em outros países para melhorar a qualidade do ar. “Sabe-se que o etanol emite até 90% menos dióxido de carbono do que o combustível fóssil, isso sem considerar todo o ciclo de vida da cana que capta CO2 da atmosfera no seu processo de fotossíntese, limpando o ar. Alguns países já estão em processo de implementação para adicionar etanol à gasolina a fim de melhorar o ar nas cidades, pois, em algumas delas, mal conseguimos ver o céu, pela imensa quantidade de material particulado solto no ar”, finalizou o presidente do Sindalcool-PB.
A redução de poluentes contribui para a boa qualidade do ar e, consequentemente, para a saúde das pessoas. Além de não poluir a atmosfera, o etanol também não polui a água e o solo. O biocombustível é defendido, inclusive, pelos profissionais de saúde, pois evita a emissão de material particulado, um resíduo extremamente tóxico que resulta da queima de combustíveis fósseis e de outros processos.
“O etanol, realmente, tem uma melhor qualidade do que os combustíveis fósseis porque durante a sua queima há apenas uma pequena produção de material particulado que vai para o ar. O ideal seria que tentássemos caminhar fortemente na direção da substituição de combustíveis fósseis pelo biocombustível. Precisamos avançar e evoluir na produção do etanol e superar as dificuldades que alguns lugares ainda têm nesse processo”, diz a pneumologista Maria Enedina Scuarcialupi.
Segundo Maria Enedina, sete milhões de pessoas morrem por ano, no mundo inteiro, pelo fato de respirarem ar poluído. “O ar poluído contém material particulado. Essas partículas vão para os pulmões, provocando um processo inflamatório que pode se difundir para todo o corpo e causar doenças não só respiratórias, mas também cardiovasculares. As doenças respiratórias, de uma forma geral, podem ser potencializadas, como as pneumonias virais e as doenças cardiovasculares também, como infarto e acidente vascular cerebral”, argumenta a doutora Maria Enedina.