O feriado municipal em referência ao Dia de Nossa Senhora da Conceição, celebrado em João Pessoa nesta sexta-feira, 8 de dezembro, é também a data em que a Paraíba presta reverências para Iemanjá, divindade cultuada em religiões de matriz africana como a umbanda e o candomblé, considerada a mãe de quase todos os orixás, rainha do mar e das águas, símbolo de fertilidade, proteção, amor e generosidade, a “mãe cujos filhos são peixes”, afrodite brasileira.
Em Cabedelo, região metropolitana da capital, acontecerá a quinta edição do “Cortejo de Iemanjá”, com caminhadas em direção à praia, louvações, apresentações culturais e as tradicionais entregas de oferendas. O evento é realizado pelo Fórum Diversidade Religiosa Paraíba, através da sua seccional em Cabedelo, que é coordenada pelo reverendo Willams da Penha Silva.
“Ela no sincretismo religioso é a Nossa Senhora, é a mãe, quem amamenta, quem alimenta, cuida. E no candomblé, na umbanda, é aquela que acolhe os mais desprezados. A celebração no dia 8 de dezembro tem muito a ver com o sincretismo religioso, por isso o Dia de Nossa Senhora da Conceição é também o Dia de Iemanjá”, explica Willams, pastor da ICM – Igrejas da Comunidade Metropolitana de Cabedelo, conhecida por ser uma igreja inclusiva.
As comemorações, reforça o líder, também são convites à reflexão sobre intolerância, diversidade e liberdade religiosa.
“Essa é a bandeira maior que nós celebramos todos os anos no Dia de Iemanjá, não à intolerância religiosa, não à discriminação, não a todos os tipos de intolerância, e esse momento é um dia para além de celebração, é um dia de luta, de militância, de respeito”.
Dentro do Brasil, em outras cidades, há ainda celebrações para Iemanjá em datas como 31 de dezembro, 15 de agosto e 2 de fevereiro.
Willams conta que os festejos para a divindade, em Cabedelo, foram retomados há cinco anos após passarem mais de uma década parados em decorrência de intolerância religiosa, que atinge fortemente os adeptos das religiões de matriz africana no Brasil.
“Os terreiros quando chegavam na praia pra fazer sua louvação a Iemanjá eram apedrejados, vilipendiados. As pessoas escutavam muitas frases de deboche, de chacota, que menosprezavam as pessoas de religião de matriz afro. Por conta disso passou-se mais de uma década sem nenhuma celebração, e então há cinco anos nós retomamos aguerridos essa luta contra a intolerância religiosa”.
Nesse ano, o evento também homenageará pessoas símbolo do enfrentamento à intolerância religiosa na região. A programação tem início às 17h, com concentração em frente da ICM Cabedelo, na Rua Antônio Moreira Cardoso, 177. Após saudação e acolhimento, o ato segue em direção ao Monumento N. S Navegantes, puxado pelo Maracatu Pé de Elefante.
A chegada na praia está prevista para ocorrer às 18h30, com agradecimentos e falas de honra, seguidas de apresentações culturais e louvações. O encerramento deve ocorrer às 23h, com a saída do barco carregando os presentes para Iemanjá.
Reverendo Willams, que articula o cortejo em parceria com representantes de religiões de matriz afro na cidade, afirma que muitas pessoas ficam surpresas ao verem um pastor evangélico à frente dos festejos de Iemanjá.
Enquanto membro do Fórum Diversidade Religiosa PB e da igreja inclusiva do estado, no entanto, ele destaca que a missão fundamental é semear o amor, a concórdia e o respeito entre todas as pessoas e religiões.
“Deus é amor, e é reconhecido por tantos nomes. A gente diz no credo das Igrejas da Comunidade Metropolitana, a ICM, que ele é reconhecido por muitos nomes além da nossa compreensão, mas revelado a nós em Jesus Cristo, mas ele pode ser chamado e invocado por tantos nomes, tantas profissões de fé, por tantas formas de cultuação”, lembra o reverendo.
“A própria constituição garante que nós temos o livre arbítrio de ir e vir, de culto, então é isso que nós estamos cobrando das autoridades, e mostrando à sociedade civil o que é necessário, o respeito”.