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Da guitarra ao sintetizador: como a inteligência artificial está mudando o mundo do trabalho e a importância do ensino profissionalizante
09/04/2023 / 18:20
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Nem todas as pessoas são feitas para liderar e essa é uma realidade que muitas vezes é ignorada pelas empresas. Acreditar que a liderança é uma habilidade ou um talento que pode ser aprendida por qualquer pessoa é um erro que pode custar caro para as organizações e indivíduos.

Basta pensar em outras competências como a música, artes e esportes, por exemplo. É como dar uma guitarra para alguém que não sabe tocar: o instrumento pode ser de altíssima qualidade, porém, se a pessoa não tiver habilidade e paixão pela música, não vai sair nada além de ruídos desconexos. No mundo corporativo tem sempre aquele colega com um conhecimento técnico de encher os olhos ou que soluciona problemas com criatividade, mas se colocado em posição de liderança, desanda mais rápido que sorvete no deserto.

A liderança requer habilidades e competências específicas, como a capacidade de inspirar, motivar e coordenar pessoas, gerenciar conflitos, tomar decisões difíceis e liderar com ética e responsabilidade.

Pessoas mais técnicas, que preferem focar em soluções e ideias inovadoras, muitas vezes não têm o perfil de líderes e são mais felizes e eficazes quando se especializam em suas áreas ou transitam horizontalmente entre elas. Esses profissionais têm o mesmo valor para a empresa e podem ser fundamentais para a inovação e o sucesso da organização.

É bom lembrar ainda que subir na hierarquia nem sempre é sinônimo de sucesso. É como escalar uma montanha: algumas pessoas querem atingir o topo, outras preferem explorar as trilhas ao redor. E não há problema nenhum nisso. O importante é encontrar um caminho que faça sentido para cada um, seja na liderança ou na técnica.

Para que os colaboradores possam se desenvolver profissionalmente, algumas empresas estão adotando modelos de carreira em Y e W, que oferecem mais flexibilidade e possibilidades de crescimento profissional em diferentes direções. A carreira em Y permite que o colaborador possa crescer em duas direções: liderança ou funções técnicas. Já na carreira em W, o crescimento é de acordo com o propósito estabelecido pelo profissional.

Mas essa mudança de mentalidade também requer uma mudança nas estruturas organizacionais e nos planos de carreira, sem falar em políticas públicas de ensino e os modelos atuais de formação de carreira. No mundo atual, com a inteligência artificial chegando em velocidade da luz (sic), não é mais defensável a obrigação de se ter curso superior para vencer na vida e galgar o sucesso profissional. O que adianta ter um anel no dedo, como os advogados, e ficar dirigindo Uber? Por mais que, sim, precisamos de carros por aplicativo (por enquanto, pois os carros autônomos já são uma realidade), poderíamos adotar o modelo da Alemanha, por exemplo, e estimular o ensino profissionalizante e mudar, de verdade e mais rapidamente, a vida de muitas pessoas.

O modelo alemão é só um exemplo entre outros países como Suíça, Japão, Singapura ou Áustria onde o ensino profissionalizante é altamente valorizado. Se considerarmos países com o perfil do Brasil, faz ainda mais sentido, pois precisamos urgentemente passar por um processo de reindustrialização que vai demandar pessoas com formação técnica profissionalizante.

Do lado corporativo, as empresas também precisam reconhecer o valor dos profissionais técnicos e aproximá-los das lideranças por meio de remuneração atraente, bônus e outros sinais claros de que são perfis valorizados, sem esquecer de mostrar que existem vários caminhos de sucesso a seguir.

E falando em caminhos, não nos esqueçamos dela, a inteligência artificial, que já está transformando em uma velocidade assustadora o mundo do trabalho e a como as empresas se organizam e se relacionam com os colaboradores, com impactos nos modelos de carreiras em Y e W citados e abrindo novas possibilidades de especialização técnica e inovação. É como se a guitarra estivesse sendo substituída por um sintetizador, criando novas possibilidades sonoras e novos desafios para os músicos, para seguir a metáfora da música.

O importante é reconhecer que nem todo mundo nasceu para liderar, e está tudo bem com isso. Cada um tem seu talento e sua paixão, e o mundo precisa de todas as habilidades para funcionar. Como disse Oprah Winfrey, uma das mulheres mais empoderadas e influentes do mundo:  “Não se trata de ser um líder ou um seguidor, mas de encontrar a sua paixão e fazer a diferença.”

Por fim, Michael Jordan, um dos maiores atletas de todos os tempos, foi cirúrgico ao dizer de forma muito simples que “Nem todos podem ser o capitão do time, mas todos têm um papel importante a desempenhar.”