A novela “Pantanal”, da “TV Globo”, virou tema de um cortejo que iniciou a jornada de blocos na cidade do Rio, na manhã desta quinta-feira (21). Apesar da decisão da Prefeitura do Rio de não garantir a estrutura necessária para que os carnavalescos curtam uma das festas mais tradicionais, os foliões se fantasiaram de personagens que fazem parte da narrativa da obra de Benedito Ruy Barbosa e saíram da praça ao lado do AquaRio, seguindo por toda a Zona Portuária.
Com o nome de “Pantanal Gostoso Demais”, o grupo de músicos com pouco mais de dez pessoas, em minutos, gerou um movimento que atraiu foliões de pernas de pau, muitas “onças” e o personagem principal da novela.
Curtindo as tradicionais marchinhas de carnaval, o professor de história Fabiano Lima decidiu ir com a fantasia de Jove, um dos personagens da obra.
— Não consigo acompanhar o ritmo das séries e prefiro as novelas. Como eu tinha uma onça de pelúcia, decidi vir como Jove, aí fiz uma câmera de papelão e vim brincar com o pessoal — disse Lima.
Representada pela jornalista Michele Oliveira, a onça de Pantanal também decidiu aparecer para curtir o primeiro dia de festa. Atualmente morando em São Paulo, a jovem veio para o Rio só para curtir o feriado pelas ruas da cidade.
— Eu vim inspirada na Juma Marruá. Descobri o bloco por um grupo de amigos e decidi me juntar para curtir essa festa maravilhosa. Vim para compor o time da novela — disse Michele enquanto dançava com as amigas.
De acordo com a temática da festa, o que mais se via eram pessoas com roupas de oncinha. Alguns em referência ao antigo bloco “Amigos da onça” e outros para combinar com o tema da folia.
O assessor de imprensa, Pedro Motta, foi quem sugeriu o nome do bloco. Segundo o jornalista, tudo foi fruto de uma brincadeira em um grupo de mensagens.
— Eu fiz um grupo de WhatsApp e coloquei todo mundo. A ideia era fazer um bloco que todo mundo pudesse participar e expressar um pouquinho suas vontades no carnaval — contou Motta.
À procura da folia na Cinelândia
Antes de curtir a folia, é preciso encontrá-la. E a procura começou cedo para Yuri Baptista, que caminhou por mais de 20 minutos atrás do bloco “Amores Líquidos”. O folião, que não pode pegar o VLT por estar sem camisa, disse que nada vai estragar a sua paz e vontade de aproveitar o carnaval.
Janaína Araújo, que trabalha como secretária, não abre mão de fazer as suas próprias fantasias. Ontem preparou o cocar verde que está usando e já tem mais fantasias preparadas para os próximos dias de carnaval. Enquanto aguarda o início do bloco, ela dá uma volta de bicicleta para manter a energia e não deixar o sono chegar. E a agenda delas não para, com o bloco Bonytos de Corpo, também na Cinelândia, nesta sexta-feira.
Segundo Diana Almeida, uma das diretoras do bloco, o “Mistério há de pintar” foi criado em 2019 e só tinha desfilado em 2020, e então veio a pandemia de Covid-19.
— São momentos difíceis para músicos e artistas como a gente. Ficamos sem energia com a pandemia e a situação que o governo nos colocou, mas chegar aqui e ver todas essas pessoas passa a tristeza. Não esquecemos, mas melhora. O carnaval é sim para curtir muito, mas também é momento de luta e por isso homenageamos o Gilberto Gil — conta Diana.
— A gente tem um grupo de mães do mesmo bairro, as crianças são amigas e a gente procura blocos pela manhã que sejam mais tranquilos para aproveitar o carnaval e trazer as crianças. Elas precisam ocupar espaços e participar desses momentos — disse a professora Gabriella Serpa, mãe de um pequeno folião Otto, que aproveitava o cortejo com fantasia de diabinho.
O bloco traz um jogral para repetir com os foliões, como disse Gilberto Gil, enquanto ministro da Cultura:
“A cultura é o espaço da experimentação
Da abertura para a criatividade popular
Da aventura e da ousadia
O espaço da memória e da invenção”
Por O Globo