SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Tarcísio Meira chegou à conclusão de que era o homem que mais tinha decorado palavras nessa vida. “Ninguém seria tão idiota a ponto de decorar inutilmente tanta coisa”, disse ele em entrevista à Folha em 1996.
De lá para cá, já se passaram 25 anos, e mais milhares de palavras foram decoradas e enunciadas pelo ator, cuja trajetória se funde com aquela das novelas brasileiras.
Os trabalhos de Tarcísio Meira para a televisão começam em 1959, na obra de teleteatro “Noites Brancas”, da TV Tupi. Depois, em 1963, ele atuou ao lado de Glória Menezes, já sua mulher na época, na primeira telenovela diária –e gravada– do país, “2-5499 Ocupado”, da TV Excelsior.
Em 1967, estreou na TV Globo, onde ficou por 50 anos até ter o contrato encerrado no ano passado. Nesse período, fez papéis marcantes, como João, o mais velho dos irmãos Coragem; o Araponga da novela de mesmo nome, um agente atrapalhado que tomava mamadeira; Raul Pellegrini, o mais abjeto dos personagens que interpretou, segundo o próprio ator; o moderninho João Medeiros de “Um Anjo Caiu do Céu” e outros, como um vampiro em “O Beijo do Vampiro”, em 2002, e até mesmo uma árvore, em “Saramandaia”, de 2013.
Confira abaixo alguns dos trabalhos mais marcantes de Tarcísio Meira:
‘2-5499 Ocupado’ (1963)
Primeira telenovela diária e gravada do Brasil, a trama se desenrola a partir de uma ligação por engano ao número do título. A chamada foi feita por Emily, personagem vivida por Glória Menezes que era presidiária e trabalhava como telefonista no presídio. Quem atende é Larry, advogado interpretado por Tarcísio Meira. A história foi contada ao longo de 42 capítulos, cada um com 20 minutos, e foi escrita pelo argentino Migré.
‘Sangue e Areia’ (1967)
Em sua estreia na TV Globo, Tarcísio Meira interpreta Juan Gallardo, um toureiro que tem o coração dividido entre Dolores, a filha do patrão com quem teve um filho, e Pilar, com quem casou e engravidou. Ao longo da trama, ele conhece outra mulher, a misteriosa Donã Sol (Glória Menezes), que arranca os próprios olhos para provar sua paixão por Gallardo. No final da história, Pilar morre durante o parto, Gallardo e Sol se casam e cuidam do bebê recém-nascido.
‘Irmãos Coragem’ (1970)
A novela, um pilar da teledramartugia brasileira, é uma superprodução para os padrões da época, teve até uma cidade cenográfica construída para as gravações. A trama, escrita por Janete Clair, misturava faroeste, futebol e uma história de amor entre João (Tarcísio Meira), o mais velho dos irmãos Coragem, e Lara (Glória Menezes), filha do coronel Barros, homem que comandava a cidade fictícia de Coroado. O conflito central começa quando João encontra um diamante e o coronel, ao ficar sabendo, mandar capangas atrás do irmãos para pegar a pedra preciosa.
‘Escalada’ (1975)
A novela, que se passa entre 1930 e 1960, é centrada na trajetória de Antônio Dias (Tarcísio Meira), um caixeiro-viajante que sai do interior de Minas Gerais e se estabelece em Rio Pardo, São Paulo. Lá, ele encontra Marina, por quem se apaixona, e Cândida, com quem casa. Dias investe em uma fazendo de algodão, mas a iniciativa é um fracasso e ele se muda com a esposa para o Rio de Janeiro. Na então capital federal, ele se torna um pequeno empresário com algum sucesso enquanto o casamento desmorona. Ao saber da construção de Brasília, começa fazer negócios com as empreiteiras. Fica rico, se separa de Cândida e reencontra Marina, com quem se casa.
‘Guerra dos Sexos’ (1983)
A novela credenciou Tarcísio Meira para fazer papéis de comédia. Na trama, ele é Felipe, sobrinho de Otávio (Paulo Autran) e filho adotivo de Charlô (Fernanda Montenegro), dois primos que tiveram uma paixão quando jovens e têm de viver juntos para com a herança deixada por um tio. Felipe fica ao lado de Otávio, e os dois tentam sabotar todas as tentativas das mulheres de tornar bem sucedidade uma loja herdada.
‘Roda de Fogo’ (1986)
Tarcísio Meira é Renato, um empresário com sede de poder que muda de vida ao descobrir que suas fortes dores de cabeça são sintomas de um tumor. Os médicos lhe dão mais seis meses de vida e Renato começa as mudanças. Termina com a esposa, Carolina (Renata Sorrah), e inicia um caso com a Lúcia (Bruna Lombardi), juíza de um caso que envolve suas as empresas. Depois, Renato destina o lucro da companhia para uma instituição de caridade, o que revolta acionistas e outros empresários.
‘Araponga’ (1990)
Um agente aposentado do Serviço Nacional de Informações que tomava mamadeira, promovia sessões de autoflagelo, sofria de asma, colecionava calcinhas, tinha fixação pela figura materna e idolatrava James Bond. Esse era Aristênio Catanduva, o Araponga, personagem de Meira na novela que fazia sucesso com as mulheres, mas ele as ignorava porque não qeuria trair a mãe.
‘De Corpo e Alma’ (1992)
A trama da novela traz Diogo (Tarcísio Meira), um juiz que decide larga a esposa Antônia (Betty Faria) após se apaixonar por Bettina (Bruna Lombardi). Eles vão viajar juntos, mas ele se arrepende e a deixa o esperando no aeroporto. Ao ir embora, Bettina sofre um acidente e tem morte cerebral. O coração dela é doado para Paloma, que tinha problemas cardíacos. Diogo, então, se vê apaixonado por Paloma. A novela trouxe ao debate a doação de órgãos, mas ficou marcada pelo assassinato da atriz Daniella Perez.
‘Pátria Minha’ (1994)
Foi Raul Pelegrini, o personagem mais nojento, abjeto, execrável e desprezível que já interpretou, segundo o próprio Tarcísio Meira. Pelegrini é um empresário rico, dono de várias empresas e negócios escusos, que tem uma filha de perfil oposto ao dele. Os atritos entre pai e filha se acentuam quando ela o vê demitindo um motorista com insultos racistas.
‘O Rei do Gado’ (1996)
A pausa nos papéis de galã continuou e Meira deu vida ao fazendeiro Berdinazzi, inimigo de Mezenga, interpretado por Antônio Fagundes. A rivalidade entre os dois acontece por conta de uma disputa de terra, uma faixa que divide as fazendas de café das duas famílias. A chapa esquenta quando Berdinazzi descobre que sua filha está apaixonada pelo filho de Mezenga.
‘Torre de Babel’ (1998)
Tarcísio Meira dá vida a César Toledo, empresário e dono do shopping Tropical Tower, a torre do nome da novela. A história começa anos antes, em 1970, durante a festa de inauguração do shopping, quando o pedreiro José Clementino (Tony Ramos) vê a esposa de Toledo tendo relação dois outros homens. Ele mata ela e um dos sujeitos. Toledo, então, chama a polícia e depõe contra Clementino. Anos mais tarde, Clementino sai da prisão e bota seu plano de vingança em prática.
‘A Muralha’ (2000)
Nessa minissérie, Tarcísio Meira fez o papel do vilão Dom Jerônimo, um comerciante sem escrúpulos que escraviza Ana (Letícia Sabatela), com quem teria um casamento arranjado. Em paralelo, ele estupra regularmente a índia Moatira (Maria Maya) e Ana se apaixona por Guilherme Shetz (Alexandre Borges). A fim de provar sua autoridade, Jerônimo manda prender e botar na fogueira o casal. Guilherme, porém, escapa e consegue esfaquear o vilão.
‘Um Anjo Caiu do Céu’ (2001)
De visual moderninho, com brincos e piercings, Meira é João Medeiros, um fotógrafo que retrata um neonazista e, por isso, sofre um atentado do grupo em Praga, República Tcheca. Medeiros é resgatado por um anjo Rafael (Caio Blat) e recebe mais seis meses de vida para ajustar os problemas com sua família. Ao retornar ao Brasil, ele tem dificuldades para lidar com os parentes, descobre que tem uma terceira filha e ainda que os neonazistas estão atrás dele. Enquanto isso, Rafael vive como um mortal e se apaixona por Cuca (Débora Falabella).
‘O Beijo do Vampiro’ (2002)
Duque Bóris e Igor Pivomar são dois nomes para o mesmo personagem, um vampiro de oito séculos de vida, que Tarcísio Meira interpreta na novela. Bóris/Igor quer um encontrar um descendente para a raça de vampiros, e vê em Lívia (Flávia Alessandra) um amor antigo, uma princesa do século XII que se recusou a se casar com ele. Séculos depois, no Brasil, o vampiro quer não só conquistar Livia, mas também recuperar Zeca (Kayky Brito), filho de Bóris/Igor com uma amante.
‘A Favorita’ (2008)
Meira interpreta Copola, que tem como inimigo Gonçalo (Mauro Mendonça), de quem foi amigo próximo durante a época do movimento operário. Os dois são apaixonados por Irene (Glória Menezes), filha do dono da fábrica em que trabalhavam. A amizade termina quando Copola descobre que Irene terá um filho de Gonçalo. Depois, quando Gonçalo morre, Copola e Irene se reaproximam.
‘Saramandaia’ (2013)
Interpreta, nesta segunda versão da novela, o papel de Tibério, patriarca da família Villar que, de tanto ficar sentando, cria raízes na sala de sua fazenda. Na outra família da trama, os Rosado, está a matriarca Candinha, com quem Tibério teve um caso quando jovem. Depois de muitos anos, os dois se reencontram com a ajuda dos netos. Eles se beijam e viram uma árvore.