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De salva-vidas a profissionais de TI: as profissões que Portugal quer atrair
27/08/2022 / 17:54
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Brasileiros têm sido cada vez mais valorizados no mercado de trabalho português. Embora não exista um estudo minucioso sobre o assunto, há evidências claras das profissões em que ser brasileiro dá uma vantagem na busca por uma vaga. De salva-vidas a especialistas em TI, há muitas lacunas a serem preenchidas em Portugal, país onde o percentual de idosos já é grande.

A quantidade de dentistas, advogados e médicos do Brasil inscritos nas ordens portuguesas está aumentando. Engenheiros têm reconhecimento facilitado. No comércio, serviços ou turismo do país, que inclui restaurantes e cafés e precisa de aproximadamente 50 mil pessoas. É raro pedir um fino no Porto ou imperial em Lisboa sem ouvir depois, com sotaque: “Vai outro chopinho?”.

Como em várias outras partes do mundo, em Portugal a pandemia fez o setor digital deslanchar. Mas logo as empresas detectaram falha no sistema: não havia mão de obra suficiente. Os formados na área de TI anualmente não chegariam a 2 mil, 10% da demanda.

A saída foi recrutar no Brasil, apesar de, às vezes, ser um processo burocrático e demorado. A tendência iniciada há dois anos dura até hoje, como explica a psicóloga Cláudia Pinheiro, que trabalha com recolocação de brasileiros em Portugal e diz ter ajudado 400 profissionais a trocar de país nos últimos quatro anos.

— Há também muitas vagas para técnicos no mercado de tecnologia — disse Pinheiro.

Há diversos exemplos, como a WIT Software, que anunciou 300 vagas para brasileiros na deserta Belmonte, berço de Pedro Álvares Cabral. Passou a ser comum as companhias pagarem pela transferência, cuidarem da burocracia no Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) e até procurarem imóveis para os contratados.

Na Smartex, tecnológica voltada para redução do desperdício têxtil, os brasileiros são 16 (20%) entre 80 funcionários e formam a maior parcela de estrangeiros entre 11 nacionalidades. A empresa afirma que ainda está contratando brasileiros, porque tem interesse no Brasil.

Formado em marketing com experiência na área de tecnologia e operações, Anthony Hunter, 51 anos, chegou a Portugal este ano com contrato fechado no Brasil. É gerente de projetos de TI na Claranet.

Tendência de melhora

A burocracia, muito criticada por empresas, deverá diminuir com o novo visto de trabalho. Com ele, um brasileiro poderá procurar emprego por até 180 dias. Especialistas afirmam que a imigração deverá explodir. Atualmente, um brasileiro pode entrar como turista, conseguir trabalho e pedir permanência legal. Em 2021, as 18.382 primeiras autorizações de residência foram para brasileiros com trabalho: 46,5% do total.

Os engenheiros são beneficiados em Portugal por um acordo recíproco entre o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea) e a Ordem de Engenheiros de Portugal, que permite o exercício da atividade sem maiores burocracias.

Especialistas do setor preveem que estes profissionais serão necessários para garantir e supervisionar a execução técnica das obras do bilionário Plano de Recuperação e Resiliência da União Europeia, do qual Portugal receberá € 16,6 bilhões (R$ 84 bilhões).

A construção civil, que tem empregado muitos brasileiros em obras, precisa de até 70 mil trabalhadores, mas há denúncias de más condições no ramo.

Um atalho para trabalhar na área da engenharia pode ser estudar na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP). A instituição aceita nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e abre portas no mercado, como aconteceu com a engenheira civil Carolina Bôa Santos, carioca empregada da Smartex.

— As empresas contratam brasileiros por admirarem a dedicação e a flexibilidade — contou ela.

Advogados têm uma grande fatia do mercado de regularização de imigrantes e dos pedidos para tirar a cidadania. Ao fim de 2021, havia cerca de 2,7 mil brasileiros registrados na Ordem de Portugal, quase 10% do total de profissionais inscritos no país. Eram apenas 537 há cinco anos.

Os brasileiros ainda são beneficiados pelo princípio de reciprocidade para os profissionais inscritos na OAB. O acordo está em vigor desde 2015 e dispensa a realização de estágio na Ordem de Portugal e também evita a recém-aprovada obrigatoriedade de mestrado para os portugueses.

Mesmo sem as vantagens dos advogados, os dentistas brasileiros continuam a chegar. Em 2021, ano com dados mais recentes, havia 583 dentistas inscritos na Ordem dos Médicos Dentistas, mais 25% que em 2017, dado que representa a metade dos estrangeiros aptos a exercer a profissão.

— Não faltam vagas pra os brasileiros, porque os profissionais portugueses da saúde, como enfermeiros, médicos e outros, tendem a deixar o país em busca de melhores salários, enquanto o brasileiro qualificado procura uma vida melhor que no Brasil, com dignidade e segurança para a família — contou Pinheiro.

Dureza com médicos

Mesmo com o Sistema Nacional de Saúde (SNS) sofrendo com a falta de profissionais, a Ordem dos Médicos tem demorado a conceder autonomia para estrangeiros exercerem a profissão no país. Existem mais de 800 à espera.

Depois de as aprovações chegarem a 102 em 2020, somente 45 tiveram seus pedidos referendados em 2021, a última etapa após terem passado por quatro provas. O número total de inscritos do Brasil é de cerca de mil em um universo de 60 mil médicos.

Estes obstáculos forçam os médicos brasileiros a encontrarem outras soluções ou usarem as economias enquanto esperam na fila, em um processo que pode levar anos. Há quem deixe momentânea ou definitivamente a área para trabalhar em outros setores ou investir em um empreendimento próprio, como um restaurante ou estabelecimento de turismo, setor que está perto da recuperação econômica, quase no nível pré-pandemia.

Recentemente, o presidente da Associação de Turismo do Algarve, João Fernandes, fez um apelo aos brasileiros, porque ainda faltam milhares de trabalhadores neste verão na região dos turistas e onde os brasileiros chegam a ter dois trabalhos.

Já Pinheiro lembra que as áreas da hotelaria e do turismo têm 100% de empregabilidade e adverte que falar inglês é fundamental. Mas cabe o alerta: é preciso ter cuidado com as vagas sem contrato, que esticam o expediente até altas horas e mantêm o salário baixo.

Informações de o Globo