A família do cantor e ex-ministro da Cultura Gilberto Gil entrou com uma ação judicial por danos morais contra o padre Danilo César de Sousa Bezerra, da Paróquia de São José, em Areial, no Agreste da Paraíba, após declarações consideradas intolerantes e ofensivas à memória de Preta Gil, morta em agosto deste ano.
De acordo com o processo, protocolado no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), a família pede R$ 370 mil em indenização, valor que seria dividido entre os autores da ação — Gilberto Gil, Flora Gil, Francisco Gil (filho de Preta) e os irmãos da cantora.
Durante uma missa realizada no dia 27 de julho, o padre fez comentários que associavam a morte de Preta Gil à fé em religiões de matriz afro-brasileira. Em meio à homilia, ele ironizou:
Eu peço saúde, mas não alcanço saúde, é porque Deus sabe o que faz, ele sabe o que é melhor para você, que a morte é melhor para você. Como é o nome do pai de Preta Gil? Gilberto Gil fez uma oração aos orixás, cadê esses orixás que não ressuscitaram Preta Gil? Já enterraram?, disse durante a missa.
A celebração foi transmitida ao vivo pelo canal da paróquia no YouTube, mas o vídeo foi retirado do ar após a repercussão negativa.
Além da referência direta à cantora, o padre também fez outras falas discriminatórias, chamando práticas religiosas de matriz afro de “coisas ocultas” e afirmando que desejava “que o diabo levasse” quem recorresse a essas crenças.
E tem católico que pede essas coisas ocultas, eu só queria que o diabo viesse e levasse. No dia seguinte quando acordar lá, acordar com calor no inferno, você não sabe o que vai fazer. Tem gente que não vai aqui (Areial), mas vai em Puxinanã, em Pocinhos, mas eu fico sabendo. Não deixe essa vida não pra você ver o que acontece. A conta que a besta fera cobra é bem baratinha, disse.
Segundo o documento judicial, os advogados da família Gil afirmam que foi concedida uma oportunidade extrajudicial para retratação, antes da abertura do processo, mas o padre não se manifestou.
A defesa argumenta ainda que as falas configuram crimes como intolerância religiosa, racismo religioso, injúria e ultraje religioso, e que o episódio atingiu a família em um momento de luto e fragilidade emocional.
A ação argumenta que as declarações são de alta reprovabilidade e foram referendadas pela Diocese de Campina Grande, responsável pela paróquia.
A Diocese de Campina Grande informou ao Jornal da Paraíba que ainda não foi oficialmente notificada e, por isso, não vai se pronunciar no momento, mas o setor jurídico “está resolvendo”.
Os representantes da família Gil destacam que, após a divulgação do vídeo, houve uma onda de comentários preconceituosos nas redes sociais e em sites de notícias.
“A maioria desses comentários afirma que o padre estaria correto; que Jesus Cristo seria o único salvador possível e somente ele poderia curar; que o réu só disse “a verdade”; que a sua fala seria ‘sensata e corajosa’; que os artistas estariam ‘cheios de mimimi’; entre outros”, diz outro trecho da ação.
Além da ação judicial no Rio, três boletins de ocorrência foram registrados na Paraíba contra o padre Danilo César. A Polícia Civil investiga as denúncias de intolerância religiosa.
O delegado Danilo Orengo, responsável pelo caso, informou que o inquérito deve ser concluído até a próxima semana.
Em depoimento, o padre negou as acusações e disse que apenas professava a fé católica, sem intenção de desrespeitar outras religiões ou a memória de Preta Gil.
O caso segue em análise pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, que vai avaliar a procedência das alegações da família Gil.