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Desafiando o preconceito no funk nos anos 2000 Lacraia ajudou a popularizar o ritmo
20/01/2024 / 13:04
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“Vai Lacraia, vai Lacraia, vai Lacraia.” Para a nova geração, esse refrão talvez traga apenas a ideia de um animal peçonhento. Mas para quem realmente viveu os anos 2000, ele traz memórias de uma figura nostálgica:Lacraia (1977-2011), a dançarina que acompanhou MC Serginho na missão de tornar o funk palatável para o público brasileiro.

Há duas décadas, Marco Aurélio da Silva Rosa e Sérgio Braga Manhães, respectivamente Lacraia e MC Serginho, foram atrações dos principais programas de auditório do país, com hits como “Vai Lacraia” e “Eguinha Pocotó”.

Cria da favela do Jacarezinho, na zona norte do Rio, Lacraia foi cabeleireira, maquiadora, camareira e camelô. Porém, sempre quis ser artista. Na década de 1990, participou de um grupo de teatro amador. No mesmo período, fazia performances como drag queen com o codinome Volpi Jones, um tributo à diva jamaicana Grace Jones. Mas um encontro na quadra do Salgueiro, no início dos anos 2000, daria um novo rumo à sua vida.

MC Serginho, que também frequentava a escola de samba, era vizinho de Lacraia no Jacarezinho. Primo de Milton Manhães, produtor de Arlindo Cruz e Zeca Pagodinho, entre outros, ele optou por um caminho contrário à tradição “sambística” da família. “Cambaleei para o funk”, brinca. Inicialmente o MC cantava proibidões, rimas que fazem apologia ao sexo e ao crime. O encontro com Lacraia, contudo, fez com que ele adotasse outra estratégia.

As letras sobre sexo quase explícito deram lugar a uma abordagem mais pueril –as crianças adoravam a dupla. Serginho, convenhamos, não é exatamente um poço de magnetismo. Cabia, então, à dançarina a função de chamar a atenção do público através de sua coreografia improvisada e seu inegável carisma.

O surgimento de Lacraia foi importante para uma comunidade que raramente tinha lugar de fala –e de dança. “Naquela época, não havia discussões sobre gênero e não víamos os LGBTQIA+ como ícones”, desabafa a cantora Lia Clark. E, se houve um tempo em que era sinônimo de xingamento, Lacraia hoje é motivo de orgulho.

A dançarina se foi aos 33 anos, longe dos holofotes e sem glamour. Lacraia morreu no dia 10 de maio de 2011, no Hospital Gaffrée Guinle, na Tijuca, na zona norte do Rio, de causas não confirmadas. Mas sua importância para o empoderamento LGBTQIA+ jamais poderá ser ignorada.

Informações da Billboard Brasil