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Dona da Ray-Ban prepara chegada ao Brasil de óculos com IA feitos com a Meta
18/08/2025 / 10:11
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Óculos Ray-Ban Meta – Foto: Bloomberg/Reprodução

Maior fabricante de lentes e armações do mundo, a franco-italiana EssilorLuxottica está apostando na obsessão do brasileiro por redes sociais e tecnologia para trazer ao mercado local o que o presidente Giorgio Pradi chama de “smartphone dentro dos óculos”. A companhia prevê lançar aqui, no quarto trimestre, o Ray-Ban Meta, smart glass criado em parceria com a controladora de Instagram e WhatsApp.

O produto surgiu no fim de 2023 e, além dos EUA, já chegou a países como Emirados Árabes Unidos, Índia e México. Até fevereiro, 2 milhões de unidades haviam sido vendidas. Na primeira metade do ano, as vendas cresceram 200%, segundo balanço da empresa.

— Esses óculos registram vídeos e fotos, fazem chamadas, tocam música e, no ano passado, incluímos recursos de inteligência artificial. Você pode pedir a tradução de um cardápio que está na sua mão ou a tradução simultânea de uma conversa — exemplifica Pradi.

O executivo italiano assumiu o controle da companhia no Brasil em janeiro, após três décadas no negócio e passagens por Portugal, Espanha, Itália e EUA. Como presidente para o mercado americano da rede Sunglass Hut — varejista que faz parte do grupo —, Pradi participou ativamente da chegada do Ray-Ban Meta às lojas.

Agora, ele está montando um time para trazer os óculos inteligentes ao Brasil e já iniciou conversas com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para sua homologação.

— O brasileiro já conhece o produto. Vendi pessoalmente muitos deles a brasileiros em Nova York. As pessoas que viajam e estão ligadas à tecnologia já perguntam por ele nas lojas por aqui. Nossa expectativa é que seja um lançamento ainda mais acelerado que no México, onde sua chegada, em maio, foi determinante para inverter o sinal do trimestre naquele país e tornar o desempenho positivo — explica Pradi, cuja companhia foi resultado da fusão, há oito anos, entre as líderes dos segmentos de armações (a italiana Luxottica) e lentes (Essilor).

Tanto a EssilorLuxottica quanto a dona do Facebook apostam na colaboração entre como caminho para ocuparem a dianteira do uso da IA no cotidiano. Em maio, lançaram juntas versão dos óculos inteligentes com a marca Oakley, que também pertence ao grupo franco-italiano. (Segundo a companhia, ela está “comprometida em tornar essa novidade acessível aos consumidores do Brasil ainda este ano.”)

Em julho, a simbiose se aprofundou: a Bloomberg reportou que a firma de Mark Zuckerberg gastou US$ 3,5 bilhões na compra de fatia minoritária da EssilorLuxottica.

Na avaliação de Pradi, a estratégia se justifica porque a tecnologia inaugura uma “terceira onda” para essa indústria:

— As armações nasceram para sustentar as lentes. Primeiro, todo mundo tinha vergonha de usar, mas acabou virando um acessório de moda, com marcas como Armani e Valentino apostando na tendência nos anos 90. Virou um símbolo e fez o mercado explodir. Agora, temos a terceira onda, baseada em inovação e tecnologia. Estamos apenas no princípio e, na minha visão, será ainda mais forte que as anteriores.

A ofensiva de EssilorLuxottica e Meta se dá uma década após o engavetamento da versão para consumidores do Google Glass, precursor da categoria. O modelo surgiu quando os smartphones ainda estavam se popularizando e a IA generativa não estava disponível. E despertou preocupações imediatas sobre privacidade que ainda não foram resolvidas. (Após testar o Ray-Ban Meta, o New York Times sentenciou: “Como a nova câmera facial da Meta anuncia uma nova era de vigilância”).

Mas, para Pradi, o fracasso de iniciativas anteriores não é obstáculo.

— O Google Glass, com todo respeito, era muito feio. Em geral, empresas de tecnologia não são muito boas em design. Além disso, o primeiro produto sempre enfrenta maior dificuldade de compreensão. E temos uma rede de distribuição, o que é determinante— observa.

Ainda sem preço

O plano de Pradi é, de largada, colocar o Ray-Ban Meta em mil pontos de venda no Brasil. A companhia é dona, por exemplo, da Óticas Carol, comprada há oito anos por € 110 milhões, além de redes como as da própria Ray-Ban e Sunglass Hut. O preço ainda não foi definido. Nos EUA, o produto é vendido a partir de US$ 299 (cerca de R$ 1,6 mil).

Embora estejam na dianteira, EssilorLuxottica e Meta não devem nadar sozinhas por muito tempo. A Google se associou à marca de óculos americana Warby Parker e à grife francesa Kering (Gucci, Balenciaga etc.) para voltar ao segmento de smart glasses. E a Apple planeja lançar óculos inteligentes com IA no ano que vem, segundo a Bloomberg.

Mas, para a EssilorLuxottica, os smart glasses são apenas uma perna do seu posicionamento recente como uma firma “medtech” (tecnologia médica). A companhia está lançando no Brasil, por exemplo, uma lente Varilux que, feita a partir de técnicas de IA, promete se adaptar melhor à dinâmica da pupila humana diante da variação de luminosidade.

Em fevereiro, comprou a startup canadense Cellview Imaging, que cria tecnologia de diagnóstico e imagem da retina. Este mês, adquiriu a Automation & Robotics, firma belga de sistemas automatizados para controle de qualidade de lentes.

Com informações do jornal O Globo