SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Quando foi adiado com a chegada da Covid-19 no Brasil, no ano passado, os organizadores do É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários imaginavam que, passados alguns meses, poderiam realizar sua edição de 2020 normalmente. Mas a pandemia não arrefeceu e não apenas a última edição precisou ser virtual, como a de 2021 também vai adotar o formato.
Principal evento destinado a filmes documentais do país, o É Tudo Verdade chega a seu 26º ano exibindo 69 obras de 23 origens, entre os dias 8 e 18 de abril. Os ingressos continuam gratuitos e, agora por darem acesso a sessões de cinema virtuais, estão disponíveis para moradores de todo o Brasil.
As plataformas que receberão a programação, que além dos filmes inclui também debates e palestras, são Looke, Itaú Cultural, Sesc em Casa, Spcine Play e YouTube. O Canal Brasil também abrigará uma fatia dela.
De acordo com o fundador do É Tudo Verdade, Amir Labaki, a decisão de levar o festival novamente à internet foi tomada já no fim do ano passado. Algumas poucas sessões presenciais, respeitando os protocolos de segurança, chegaram a ser consideradas, mas a piora da crise sanitária no estado de São Paulo, nas últimas semanas, complicou ainda mais a equação.
“Sempre vai ser frustrante fazer um festival de cinema de forma digital. Um festival é, essencialmente, inerentemente, um evento convivial, que tem como intenção reunir pessoas para discutir”, diz Labaki. “Mas há algum tempo já estava bem claro para nós que, com a condução desastrosa da pandemia no país, seria improvável ter um evento presencial em abril.”
Desta vez, Labaki preferiu manter a data do É Tudo Verdade em vez de adiá-lo, como aconteceu no passado, quando havia esperança de que a normalidade voltaria no segundo semestre –o que, agora sabemos, não aconteceu.
Ele comemora, no entanto, os bons frutos da versão online do evento. Foram cerca de 116 mil espectadores do Brasil inteiro assistindo à seleção de filmes de 2020, um número cerca de três vezes maior do que o recorde batido numa das edições tradicionais. “Foi uma surpresa e uma alegria”, diz Labaki.
A pandemia alterou não apenas a forma, mas também o conteúdo do É Tudo Verdade, pode-se dizer. Alguns longas e curtas da seleção foram filmados no ano passado e falam justamente sobre a Covid-19, a partir dos mais diversos pontos de vista.
Em “Sob Total Controle”, por exemplo, Suzanne Hillinger, Ophelia Harutyunyan e o oscarizado Alex Gibney analisam como o governo Trump contribuiu para o agravamento da crise nos Estados Unidos. Já em “E14”, Peiman Zekavat observa os moradores de Londres trancafiados em suas casas através de sua janela.
Temática que dominou a safra do ano passado, o autoritarismo também se faz presente na nova seleção. Os documentários são um reflexo de seu tempo, diz Labaki, e muitos países continuam vivendo sob a sombra de líderes populistas truculentos.
Na competição de longas internacionais, “Mil Cortes” mostra como uma repórter da CNN testemunhou a liberdade de imprensa sendo sufocada no Sudeste Asiático, enquanto “Presidente” destrincha os receios quanto às eleições no Zimbábue depois de 38 anos de ditadura.
Ambos integram a coletânea de 12 longas estrangeiros que competem no É Tudo Verdade, ao lado de outros destaques, como “MLK/FBI”, de Sam Pollard, sobre a perseguição do FBI ao ativista Martin Luther King, e “Paraíso”, de Sérgio Tréfaut, que faz parte da safra pandêmica.
Na competição de longas nacionais, são sete os filmes. Entre eles, dois se voltam para os palcos, “Máquina do Desejo – Os 60 Anos do Teatro Oficina”, que celebra o grupo de teatro paulistano, e “Zimba”, sobre o ator e diretor Zbigniew Ziembinski. A música está presente em “Paulo César Pinheiro – Letra e Alma”, sobre o compositor de canções como “Leão do Norte” e “Lapinha”, e em “Dois Tempos”, sobre um encontro entre o violonista argentino Lucio Yanel e o brasileiro Yamandu Costa.
Entre os documentários políticos, “Alvorada”, novo trabalho de Anna Muylaert –que divide a cadeira de direção com Lô Politi–, mostra a intimidade de Dilma Rousseff durante o processo de impeachment que a tirou da Presidência. “Os Arrependidos”, de Armando Antenore e Ricardo Calil, resgata a história de um grupo de militantes que foram presos e torturados, enquanto “Edna” aborda a luta pela demarcação de terras à beira da rodovia Transbrasiliana.
Neste ano, o É Tudo Verdade faz homenagens e retrospectivas destinadas a Chris Marker, documentarista francês que completaria cem anos em julho, ao cineasta e escritor Ruy Guerra, que ministra palestra no dia 13 de abril, e a Caetano Veloso, com sua vida e obra sendo contempladas numa série de nove produções, como “Uma Noite em 67”, dirigida por Calil e Renato Terra, colunista da Folha.
Os filmes de abertura e encerramento do festival são, respectivamente, “Fuga”, de Jonas Poher Rasmussen, que venceu o prêmio de melhor documentário em Sundance, e “A Última Floresta”, longa de Luiz Bolognesi que estreou no último Festival de Berlim e acompanha uma tribo ianomâmi.
Confira a programação completa no site do É Tudo Verdade.
http://etudoverdade.com.br/br/home/