Em sua mensagem natalina, o Papa Francisco criticou neste sábado a polarização crescente em relações pessoais e internacionais, afirmando que só o diálogo é capaz de resolvê-la. Segundo o Pontífice, o mundo está ficando cada vez mais insensível ao sofrimento, chamando a atenção para conflitos “esquecidos” como as guerras na Síria e no Iêmen e pedindo o esfriamento das tensões na fronteira russo-ucraniana.
O argentino, que completou 85 anos na semana passada, deu sua tradicional bênção Urbi et Orbi (à cidade e ao mundo, em latim) na sacada da Basílica de São Pedro, acompanhado por fiéis apesar da chuva. A cerimônia voltou a ocorrer a céu aberto um ano após ser realizada em um salão interno da Santa Sé, com apenas algumas dezenas de convidados.
Os sinais da pandemia, contudo, continuavam presentes em meio à quarta onda que atinge a Europa, causada pela variante Ômicron: a Praça de São Pedro estava mais vazia que o habitual e os fiéis usavam máscaras. O Papa também destacou os impactos da crise sanitária durante sua fala.
— Nesta época de pandemia (…) a nossa capacidade de relacionamento social é posta à prova, se reforça a tendência ao fechamento, de fazer tudo sozinhos, de parar de se esforçar para encontrar os outros e fazer coisas juntos — disse aos fiéis.
No nível global, ele disse, há “risco de evitar o diálogo, risco de que esta crise complexa nos leve a atalhos ao invés de seguir os caminhos mais longos” para resolver conflitos. De acordo com Francisco, as guerras “nunca parecem terminar e, hoje, praticamente nem as notamos”:
— Estamos tão acostumados com eles [os conflitos] que tragédias imensas estão sendo atravessadas em silêncio — disse Francisco. — Quase passam despercebidos porque nos habituamos de tal maneira que corremos o risco de não ouvir os gritos de dor e desespero de muitos de nossos irmãos e irmãs.
O Papa destacou a Síria, Iraque e Iêmen como lugares “onde tragédias enormes negligenciadas por todo mundo ocorrem há anos”, provocando “muitas vítimas e um número incalculável de refugiados”. Pediu também para que o conflito israelo-palestino não seja esquecido e chamou atenção para a crise econômica e social “sem precedentes” no Líbano.
O Pontífice também comentou a crise no Afeganistão, que se acentuou após o retorno do Talibã ao poder em agosto, às vésperas do fim da ocupação de 20 anos dos Estados Unidos e de seus aliados na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Outro país mencionado foi Mianmar, “onde a intolerância e a violência não raramente têm como alvo a comunidade cristã e seus espaços de oração”.
‘Conflito gangrenoso’
Francisco também pediu que não se permita “a propagação na Ucrânia da metástase de um conflito gangrenoso”, consequência das tensões entre Kiev e Moscou, que provocam o temor de uma escalada militar.
Há meses, os russos aumentam sua presença militar na fronteira com a Ucrânia, deslocando dezenas de milhares de soldados e equipamentos militares. Segundo a Inteligência americana, os planos seriam aumentar o contingente para 175 mil, mas Putin ainda não decidiu se prosseguirá ou não com uma invasão, o que poderia acontecer já no mês que vem.
O Kremlin, por sua vez, nega ter planos de invadir o país vizinho e afirma que recuará diante de salvaguardas de que os ucranianos não ingressarão na Otan. Também pedem que armas não sejam posicionadas perto da divisa entre os dois países e que o grupo suspenda suas atividades militares nas ex-repúblicas soviéticas.
Informações: O Globo