O ex-ministro da Fazenda e ex-gerente do Banco Mundial, Joaquim Levy, participou do painel “Crise Climática e Transição Energética: Qual a Agenda para o Brasil?” no XVII Congresso da Associação Brasileira de Direito e Economia (ABDE), que ocorre de 30 de outubro até hoje (1) em João Pessoa. Durante sua participação, Levy abordou os desafios enfrentados pelo Brasil para o desenvolvimento de energias como hidrogênio verde, biogás, biometano e GLP, além de debater a eletrificação no setor de transportes.
Para Levy, “a eletrificação híbrida tem efeito positivo” na transição energética.Ele se referiu com simpatia aos avanços da utilização dos biocombustíveis em substituição aos combustíveis fósseis através dos veículos híbridos. Atualmente diretor de Estratégia Econômica e Relações com o Mercado do Banco Safra, o economista já tem defendido essa posição em outros eventos e entrevistas.
Donizete Tokarski, diretor superintendente da Ubrabio, também discutiu a eletrificação dos transportes, mas com uma visão crítica. Ele alertou sobre o consumo de carros elétricos, cuja energia é gerada por combustíveis fósseis: “Não vamos consumir carros elétricos que são carregados com geradores queimando combustível fóssil. Isso está acontecendo em algumas concessionárias. Temos que ter um pensamento crítico”.
Tokarski ainda defendeu a necessidade da metrificação “do berço ao túmulo” para medir as emissões. Ele ainda criticou a inversão de prioridades e apontou o desequilíbrio na política de subsídios no Brasil, que destina cerca de R$ 81 bilhões aos combustíveis fósseis, enquanto os biocombustíveis recebem apenas R$ 18 bilhões.
O pesquisador Donato Aranda, diretor do PROCAT e do LIPCAT na UFRJ, também participou do painel, enfatizando a vocação brasileira para os biocombustíveis. Aranda destacou que, de 2022 e 2023, a indústria de biocombustíveis no país registrou um aumento de 18% no número de empregos, enquanto a indústria em geral teve um crescimento de apenas 1,5%. Ele também ressaltou o potencial de descarbonização do setor sucroenergético, como mensurado pelo programa RenovaBio.
Aranda ainda afirmou que é possível produzir hidrogênio verde a partir do etanol a um custo inferior a dois dólares por quilo, um caminho vantajoso para a produção do hidrogênio verde, ou de baixo carbono, além da eletrólise. Na sua visão, o que interessa ao Brasil é mais indústria e renda para os brasileiros.
A professora Joisa Dutra Saraiva, da FGV EPGE, abordou o alto custo da energia no Brasil, atribuível ao elevado custo de capital e aos subsídios múltiplos que aumentam os preços.
O presidente-executivo do Sindalcool-PB, Edmundo Barbosa, também participou do congresso e comentou os assuntos abordados.
“Na nossa visão, além do empilhamento de subsídios cruzados que tornam o Brasil um país de energia barata e a conta cara, o evento trouxe à discussão a urgente contabilização das externalidades positivas dos biocombustíveis e os benefícios de redução dos custos na saúde pública. O evento apontou os combustíveis fósseis com elevados subsídios com efeito perverso. Por outro lado, na visão dos economistas e dos juristas, os biocombustíveis começam a ser melhor compreendidos na circularidade e aproveitamento de todos subprodutos para a produção do SAF para os aviões, do biometano para substituir o diesel, e e-metanol para reduzir os impactos do transporte marítimo”, declarou Barbosa.
O XVII Congresso Anual da ABDE reúne especialistas, acadêmicos e autoridades para discutir inovações e reformas em Análise Econômica do Direito, focando na discussão de políticas públicas para o futuro do país. O evento, que acontece no Centro Cultural Ariano Suassuna, no Tribunal de Contas do Estado da Paraíba (TCE-PB), se encerra nesta sexta-feira.