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Em lançamento de pré-candidatura, Bolsonaro insiste em discurso anticorrupção em meio a suspeitas no MEC
27/03/2022 / 13:10
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O presidente Jair Bolsonaro lançou neste domingo sua pré-candidatura à reeleição reciclando um discurso da campanha de 2018, ao insistir no antipetismo e anticorrupção, no momento em que enfrenta suspeitas de corrupção no Ministério da Educação. No evento, também contestou a liderança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas pesquisas e afirmou que a eleição será “do bem contra o mal”. Indicado como vice na chapa, o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, não compareceu.

— O nosso inimigo não é externo, é interno. Não é uma luta da esquerda contra a direita, é uma luta do bem contra o mal. E nós vamos vencer essa luta. Porque estarei sempre na frente de vocês.

O evento em Brasília, realizado em um centro de convenções, ocorreu no mesmo dia em que o PL, partido do presidente, conseguiu barrarmanifestações políticas de artistas no Lollapalooza. Depois de divulgar o evento como lançamento da pré-candidatura, o PL passou a dizer que seria um evento de filiação, para evitar infringir a lei eleitoral. Entretanto, o próprio Bolsonaro disse no sábado que seria a divulgação de sua pré-candidatura.

Na cerimônia, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, tratou Bolsonaro como “futuro presidente pelo segundo mandato”. Já o presidente disse que quer deixar o governo “bem lá na frente”.

Bolsonaro não mencionou a suspeita de cobrança de propina por pastores que atuam como lobistas no MEC e disse que seu governo não tem casos de corrupção:

— Acabou a farra com dinheiro público. Buscam qualquer coisa, qualquer gota d’água para transformar em um tsunami. Todos sabem como nos portamos. Três anos e três meses em paz nessas questões. Se aparecer, nós colaboraremos para que os fatos sejam elucidados.

Ao mesmo tempo, no entanto, afirmou que todos podem errar e merecem uma segunda chance.

— Todos nós somos humanos. Podemos errar. Quem nunca errou, que está nessa plataforma no momento? E devemos ter e podemos ter uma segunda chance para voltarmos a ser úteis para a sociedade.

Ao lado de Bolsonaro, estavam o presidente do PL, Valdemar Costa Netto, e o senador Fernando Collor (PROS-AL). Valdemar já foi condenado em 2012 pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no processo do mensalão e chegou a ficar preso. Collor sofreu impeachment em 1992, quando era presidente da República, após um escândalo de corrupção. Atualmente é réu em uma ação da Lava-Jato no STF.

Próximo de Bolsonaro e de Valdemar estava o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno. Em 2018, Heleno ironizou o Centrão, bloco de partidos do qual o PL faz parte, ao cantar “se grita pega Centrão, não fica um, meu irmão” durante o lançamento da candidatura de Bolsonaro.

Ataques ao PT
Bolsonaro criticou o governo da Venezuela e disse que o Brasil estava “à beira do abismo” antes do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

— Os mais jovens podem não conhecer. Seus pais e avós tem a obrigação de mostrar para eles para onde o país estava indo, bem como, como vivem os jovens em outros países, como por exemplo a Venezuela. Há pouco, estávamos à beira do abismo.

O presidente questionou como Dilma pode ter tido tantos votos “dentro do TSE”. Ele tem um histórico de ataques ao sistema eleitoral.

— As coisas foram aparecendo, o que me moveu a buscar aquele objetivo (eleição) foi reeleição de uma pessoa que não tinha qualquer carisma, que a gente não consegue entender como teve dentro do TSE tanto voto. Quis o destino que viesse um impeachment.

Bolsonaro também volto a afirmar que espera entregar o governo através de um sistema “democrático e transparente”.

— O que nós queremos, juntamente com muitos que estão aqui, é entregar o comando desse pais lá na frente, bem lá na frente, por um critério democrático e transparente.

Em desvantagem em todas as principais pesquisas eleitorais, Bolsonaro fez referência a levantamentos “mentirosos”.

— Vocês já ouviram no passado, ouvem ainda, que uma mentira repetida mil vezes transforma-se em verdade. Vou dizer agora: uma pesquisa mentirosa publicada mil vezes não fará um presidente da República.

Bolsonaro estava acompanhado de ao menos 12 ministros do governo federal, além do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, de parlamentares aliados, da primeira-dama Michelle Bolsonaro e de personalidades como o ex-piloto Nelson Piquet e o jogador de vôlei Mauricio Souza. O evento foi conduzido pelo locutor de rodeios Cuiabano Lima.

Durante a cerimônia, Valdemar Costa Neto anunciou a filiação ao PL dos ministros João Roma (Cidadania) e Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia) e do líder do governo do Congresso, senador Eduardo Gomes (TO).

Neste domingo, o ministro Raul Araújo, do TSE, atendeu ao pedido feito pelo PL para que sejam proibidas manifestações políticas durante as apresentações do festival Lollapalooza. A legenda acionou a Corte neste sábado, após a cantora Pabllo Vittar levantar, durante o show que fez no evento, uma bandeira com a foto do ex-presidente Lula.

Flávio diz que presidente não protege filhos
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) também discursou no evento, tendo sido anunciado como o “homem que fez a realidade desse evento”. Flávio teve papel importante na negociação para a entrada de Bolsonaro no PL.

O senador disse que o presidente, que é seu pai, defende o instituto da família, mas não um filho ou um parente. Há um inquérito aberto no STF para apurar uma possível interferência do presidente na Polícia Federal (PF) a fim de proteger sua família. Seus filhos foram alvos de investigação, incluindo Flávio. A apuração que trata do suposto esquema de “rachadinha” envolvendo o senador quando ele era deputado estadual no Rio de Janeiro foi praticamente enterrada por decisões do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

— Quando ele vem defender a família, o instituto da família, não é defender um filho, um parente, um amigo, de nada de errado que fez, porque não fizemos nada de errado. É defender o instituto da família, coloca de verdade Deus em primeiro lugar — disse Flávio.

Informações: O Globo