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Em protesto, delegações deixam plenário da ONU antes do discurso de Netanyahu
26/09/2025 / 13:10
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Delegações abandonam plenária da ONU antes de discurso de Netanyahu – Foto: Jeenah Moon/Reuters

Dezenas de delegações, incluindo a do Brasil, deixaram o plenário da Assembleia-Geral das Nações Unidas antes da fala do primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, nesta sexta-feira (26), em um protesto à guerra na Faixa de Gaza.

Por outro lado, o premiê foi aplaudido por parte dos presentes —muitos deles, seus convidados na galeria, que estava cheia—, enquanto o presidente da sessão pedia ordem. Ao longo da sua fala, recheada de ataques a líderes ocidentais, era possível ouvir alguns protestos.

Do lado de fora da sede, na Times Square, centenas de manifestantes comemoraram quando as delegações saíram do plenário. O grupo carregava cartazes nos quais se lia frases como: “Acabem com toda a ajuda dos EUA a Israel”, “Prendam Netanyahu” e “Parem de matar Gaza de fome agora”.

As duras críticas do líder se devem à onda de reconhecimento do Estado palestino após o conflito —movimento que ganhou tração durante a Assembleia-Geral com o anúncio de países como França, Reino Unido e Canadá.

“Dar um Estado aos palestinos a uma milha de Jerusalém depois do 7 de Outubro é como dar um Estado para a Al Qaeda a uma milha de Nova York depois do 11 de Setembro. Isso é loucura, é insano, e nós não vamos fazer isso”, afirmou Netanyahu.

“Aqui vai outro recado para esses líderes ocidentais [que reconheceram a Palestina]: Israel não vai permitir que vocês nos empurrem um Estado terrorista garganta abaixo. Não vamos cometer suicídio nacional porque vocês não têm coragem de enfrentar uma mídia hostil e multidões antissemitas que exigem bloqueio de Israel”, completou o premiê.

A fala de Netanyahu se dá em um momento diplomático adverso para Tel Aviv. Além da pressão internacional crescente pelo fim da guerra em Gaza, o premiê viu na véspera seu principal aliado, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmar que não dará seu aval à anexação da Cisjordânia, hoje um território ocupado por forças israelenses. “Já chega, agora é hora de parar”, declarou o americano no Salão Oval da Casa Branca.

Durante sua fala, Netanyahu também voltou a mostrar mapas do Oriente Médio, como fez em outras oportunidades na ONU, mostrando o que chama de “maldição” —o Irã e países em que existem grupos aliados e financiados por Teerã. Ele ainda exibiu cartões com um quiz que mostrava os inimigos de Tel Aviv.

O premiê afirmou que vai caçar o Hamas, em suas palavras, se o grupo terrorista não libertar todos os reféns em Gaza. “Abaixem suas armas, deixem meu povo ir. Libertem os reféns, todos eles, agora. Se o fizerem, vão viver. Se não, Israel vai caçar vocês”, disse.

Em dado momento do discurso, o premiê se dirigiu aos sequestrados e falou em hebraico que eles não foram esquecidos. “Não vacilaremos, não descansaremos, até que tragamos todos vocês para casa”, disse, ao ler o nome dos reféns vivos.

Segundo o líder, esse trecho foi transmitido nos telefones e alto-falantes de Gaza com a ajuda do serviço de inteligência israelense, embora moradores do território palestino tenham falado ao jornal americano The New York Times que não conseguiram ouvir o discurso.

Netanyahu subiu ao púlpito das Nações Unidas com um grande broche contendo um QR code que, ao ser escaneado, leva a um vídeo com imagens dos ataques terroristas que mataram cerca de 1.200 pessoas, fizeram 251 reféns e iniciaram a guerra. “Este site contém conteúdos extremamente difíceis de assistir do terrível massacre que o Hamas realizou no dia 7 de outubro”, diz um alerta da página.

Na quinta-feira (25), o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, fez seu discurso na Assembleia-Geral por vídeo —os EUA lhe negaram visto para ir a Nova York. Ele criticou a visão de um “Grande Israel”, conceito de expansão da nação sobre Cisjordânia, Gaza e partes de países vizinhos como Egito e Líbano defendido por Netanyahu.

A Cisjordânia é administrada oficialmente pela ANP, mas sob ocupação militarmente por Israel, que é quem exerce, na prática, o controle territorial e o papel de polícia.

Abbas ainda fez declarações duras contra os ataques de Israel em Gaza e disse que o conflito entrará para os livros de história como um dos capítulos mais horríveis dos séculos 20 e 21. “O povo palestino em Gaza encara uma guerra de genocídio, destruição, fome e deslocamento travada pelas forças de ocupação israelenses”, afirmou ele, por videoconferência.

Desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, as forças de Tel Aviv cercaram Gaza e seus mais de 2 milhões de habitantes, que estão ameaçados por uma “fome generalizada”, segundo as Nações Unidas. A ofensiva israelense já matou mais de 65 mil pessoas, a maioria civis, segundo dados do Ministério da Saúde do território palestino, controlado pelo grupo terrorista.

Os dados são considerados confiáveis pela ONU e não podem ser checados de forma independente devido ao bloqueio de Israel à entrada da imprensa internacional em Gaza.

Com informações da Folha de São Paulo