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Em relato comovente, Klara Castanho revela ter engravidado após estupro e entregue criança para adoção
26/06/2022 / 08:48
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A atriz Klara Castanho, 21, publicou uma carta aberta nas redes sociais, na noite deste sábado (25), revelando que engravidou após ser vítima de um estupro e entregou a criança diretamente para adoção.

O relato veio após Klara sofrer uma série de ataques nas redes sociais e ver seu nome sendo um dos assuntos mais comentados no Twitter. “Sempre mantive a minha vida afetiva privada, assim, expô-la dessa maneira é algo que me apavora e remexe dores profundas e recentes. No entanto, não posso silenciar ao ver pessoas conspirando e criando versões sobre uma violência repulsiva e de um trauma que sofri”, escreveu a jovem durante o relato que considera o “mais difícil da minha vida”.

Klara contou que estava sozinha quando sofreu a violência, longe dos amigos e da família, e que não conseguiu realizar um Boletim de Ocorrência (BO) por vergonha. “Me senti culpada. Tive a ilusão de que se eu fingisse que isso não aconteceu, talvez eu esquecesse, superasse. Mas não foi isso que aconteceu”.

“As únicas coisas que tive forças para fazer foram: tomar a pílula do dia seguinte e fazer alguns exames. E tentei, na medida do possível e da minha frágil capacidade emocional, seguir adiante, me manter focada na minha família e no meu trabalho. Mas mesmo tentando levar uma vida normal, os danos da violência me acompanharam. Deixei de dormir, deixei de confiar nas pessoas, deixei uma sombra apoderar-se de mim”.

A artista relatou que apenas sua família sabia da história e que só descobriu a gravidez perto do término da gestação. “Foi um choque. Meu mundo caiu. Meu ciclo menstrual estava normal, meu corpo também. Eu não tinha ganhado peso e nem barriga”.

Ela ainda relatou a dor de ter passado por outras violências e situações de constrangimento durante uma consulta, quando disse ao médico sobre o estupro e mesmo assim foi obrigada a ouvir o coração da criança.

“O médico não teve nenhuma empatia por mim. Eu era uma mulher que estava grávida por vontade e desejo, eu tinha sofrido uma violência. E mesmo assim esse profissional me obrigou a ouvir o coração da criança, disse que 50% do DNA eram meus e que eu seria obrigada a amá-lo. Essa foi mais uma da série de violências que aconteceram comigo. Gostaria que tivesse parado por aí, mas, infelizmente, não foi isso que aconteceu”.

No dia em que a criança nasceu, ainda anestesiada do pós-parto, Klara foi abordada por uma enfermeira que estava na sala de cirurgia e que ameaçou contar a história para um colunista. “Ela fez perguntas e ameaçou: ‘Imagina se tal colunista descobre essa história’. Eu estava dentro de um hospital, um lugar que era para supostamente para me acolher e proteger”.

Quando chegou ao quarto, diz a atriz, já haviam mensagens do colunista, com todas as informações, exceto o estupro. “Eu conversei com ele, expliquei tudo que tinha me acontecido. Ele prometeu não publicar. Um outro colunista também me procurou dias depois querendo saber se eu estava grávida e eu falei com ele. Mas apenas o fato de eles saberem, mostra que os profissionais que deveriam ter me protegido em um momento de extrema dor e vulnerabilidade, que têm a obrigação legal de respeitar o sigilo da entrega, não foram éticos, nem tiveram respeito por mim e nem pela criança”, contou.

Adoção

Conforme a legislação brasileira, Klara teria o direito de realizar um aborto legal, previsto em três casos: anencefalia, estupro e risco de vida para a gestante. Ela, no entanto, optou pela entrega para adoção, prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

“Eu procurei uma advogada e conhecendo o processo, tomei a decisão de fazer uma entrega direta para a adoção. Passei por todos os trâmites: psicóloga, ministério público, juíza, audiência, todas as etapas obrigatórias. Um processo que, pela própria lei, garante sigilo para mim e para a criança. A entrega foi protegida e em sigilo. Ser pai e/ou mãe não depende tão somente da condição econômica-financeira, mas da capacidade de cuidar. Ao reconhecer a minha incapacidade de exercer esse cuidado, eu optei por essa entrega consciente e que deveria ser segura”.

A atriz encerra a carta dizendo que está sendo amparada pela família e cuidando da saúde física e mental. Diz ainda que a história ter se tornado pública não foi um desejo seu, mas espera que, “ao menos tudo o que me aconteceu sirva para que mulheres e meninas não se sintam culpadas ou envergonhadas pelas violências que elas sofram. Entregar uma criança em adoção não é um crime, é um ato supremo de cuidado. Eu vou tentar me reconstruir, e conto com a compreensão de vocês para me ajudar a manter a privacidade que o momento exige”.

Veja o relato na íntegra: