SÃO PAULO – Uma diretora de uma escola estadual, onde o Enem será realizado, em São Paulo, denunciou, nesta sexta, que foi exigida a retirada de duas professoras da listagem original de aplicadores da prova, para darem lugar a dois policiais. Na sua conta do Twitter, Hélida Lança, que também é professora na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (Feusp), informou que a comunicação veio através da Fundação Cesgranrio, organizadora do exame. Em uma outra postagem, a diretora informou que o motivo da troca seria uma avaliação da Polícia Federal, que não teria aprovado as professoras.
As postagens foram publicadas na noite desta sexta. Primeiro, ela disse que “uma pessoa da Cesgranrio mandou mensagem, informando que é pra gente retirar dois aplicadores da lista, que entrarão dois policiais federais no lugar. Tá bom pra vocês?”. Em seguida, chegou a postar uma atualização, em que levantava a possibilidade da denúncia ter surtido efeito, e evitado a necessidade de troca: ” Escutei muito bem o aviso inicial, mas agora estão dizendo que não será bem assim. Se a minha denúncia serviu pra mudarem o rumo das coisas, então viva!”.
Numa nova atualização, porém, ela transmitiu a versão que teria sido lhe dada, pela Fundação Cesgranrio: “na verdade, as duas profs foram tiradas porque não passaram pela avaliação da Pol Federal, em razão de terem sido alocadas por último”. A partir deste ano a PF avalia fichas dos aplicadores (???!!!) É eita atrás de eita!”
Por fim, a diretora Hélida Lança agradeceu a solidariedade recebida após a postagem, que já teve 17 mil curtidas e quatro mil compartilhamentos. Numa outra publicação, na manhã deste sábado, a professora se posicionou sobre o Enem 2021: “As vagas na universidade pública devem ser ocupadas. Toda essa turbulência também é uma estratégia pra que os jovens desanimem e acabem desistindo. Está bacana o ENEM? Não. Vamos desistir em razão disso? TAMBÉM NÃO.”
Edição do Enem marcada por polêmicas
Há duas semanas, 37 servidores do Inep pediram exoneração, alegando “fragilidade técnica e administrativa da atual gestão”, além de acusarem o presidente do instituto, Danilo Dupas, de assédio moral e interferências políticas na organização das provas. Alguns dos funcionários chegaram a denunciar a entrada de um agente da Polícia Federal a uma área restrita do Inep com pedidos de mudanças em perguntas que tratavam da “história recente do país”.
Nesta sexta, a Associação dos Servidores do Inep (Assinep) acusou o governo Bolsonaro de “censurar” a publicação de um artigo científico que mostrava a evolução nos indicadores de alfabetismo no país em função do Pnaic (Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa), um programa do primeiro mandato do governo Dilma Roussef.
Na terça, Milton Ribeiro, ministro da Educação, negou denúncias de interferência política na elaboração da prova do Enem e atribuiu a crise interna no Inep a uma “questão administrativa, de pagamento ou não de gratificação”. Mas, em uma assembleia no começo do mês, funcionários também destacaram que há indícios de que processos sejam deletados do Sistema Eletrônico de Informações (SEI), onde são registrados todos os andamentos administrativos feitos pelos órgãos públicos.
O GLOBO