Em um artigo escrito pelo jornalista e escritor Raul Juste Lores destaca João Pessoa como uma das capitais mais seguras do país, de acordo com Anuário Brasileiro de Segurança Pública, oito das dez cidades mais violentas do país estão nas regiões metropolitanas do Nordeste.
João Pessoa é a única nordestina no ranking das dez capitais mais seguras do Brasil. Um feito e tanto. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, oito das dez cidades mais violentas do país estão nas regiões metropolitanas do Nordeste.
No último censo divulgado pelo IBGE, João Pessoa foi uma rara capital nordestina a ter aumentado em população. Enquanto a capital paraibana cresceu 15%, ou 110 mil novos moradores de 2010 a 2022, capitais como Salvador, Natal, Recife e Fortaleza encolheram. Salvador, por exemplo, perdeu mais de 250 mil habitantes (ou quase 10% da população) no período.
A segurança certamente é um dos fatores que atrai moradores de outros estados para Jampa (quase metade dos homicídios do Brasil acontecem no Nordeste; Salvador tem o triplo de mortes violentas per capita que João Pessoa, por exemplo).
Mas o crescimento demográfico recente não a transformou em uma metrópole (com 830 mil habitantes, é mais uma cidade média). E uma esperta legislação estadual de décadas, surpreendentemente ainda respeitada, fez que sua verticalização não causasse sombra na praia.
Balneário Camboriú daria um bilhão para ter hoje prédios baixos na avenida costeira, e um crescimento escalonado, gradativo, à medida que os quarteirões se afastam da praia. Apesar de ter alguns dos residenciais mais altos do Brasil, nada de sombra, nada de Hong Kong à beira-mar.
Mas essas vitórias são absolutas desconhecidas no restante do Brasil. A cidade segura e mais planejada que as vizinhas, de escala ainda manejável, é um segredo para boa parte do país. Sem ter uma Ivete ou um Caetano como embaixadores, sem o orgulho superlativo pernambucano, a projeção nacional ainda é bem tímida.
Os projetos turísticos para elevar João Pessoa a outro patamar na constelação de potências do país precisam responder a diversos desafios, da inovação ao valor agregado de sua economia. Apenas verticalização e aumento da população não garantem um turismo sustentável nas décadas seguintes.
De Guarujá a Acapulco, de Benidorm a Boa Viagem, não faltam exemplos de verticalização desenfreada, natureza escalpelada e ofertas magras para se reter novos moradores e aumentar a estadia dos turistas, muito além do sol e da praia.
Aqui esboço uma primeira aproximação de potenciais bastante atingíveis para a capital paraibana.
1. Para que famílias, empresas e talentos com a possibilidade do trabalho remoto vejam João Pessoa como local viável para uma estadia mais permanente, virar um polo de educação seria um diferencial para entrar nos radares mais exigentes. Não são poucos os nordestinos que se mudam anualmente para São Paulo para estudar na USP, na FGV e no Insper.
Nenhuma grande universidade americana tem um campus ou uma joint-venture no Brasil, dada à enorme burocracia e corporativismo nacionais. Virar um polo de pesquisa e de ensino superior de ponta seria uma alavanca para a cidade (como Recife ja testemunhou com seu Porto Digital).
2. O turismo e o entretenimento devem se multiplicar em uma capital nordestina já segura. Qual será a primeira Esfera do Brasil? Las Vegas reinventou a experiência de se ver shows e projeções em seu ginásio-planetário e Londres já vai ganhar logo a sua versão.
Os chineses já imitaram Las Vegas antes, criando também telões horizontais suspensos como o da Freemont, então Macau não deve deixar de responder à altura o desafio de sua prima mais velha. Singapura ja abriu cassinos, atraiu Formula-1, Aberto de tênis e se colocou no roteiro de shows dos maiores astros internacionais. Ali, até jardins botânicos têm o mesmo impacto de visita obrigatória de um Guggenheim Bilbao.Barcelona virou potência de seminários e congressos internacionais, graças ao seu mix de cultura, gastronomia e grande arquitetura. E João Pessoa?
3. Mobilidade é uma das pautas do século 21, prima-irmã de sustentabilidade. Para começar, João Pessoa deve escapar das armadilhas de péssima mobilidade em alta temporada, que afetam de Miami a Los Angeles, de Florianópolis a Dubai. Com transporte público de qualidade, extenso e de horários elásticos. VLT, Tram, bondes modernos, leves e nada barulhentos, se possível jáelétricos desde o início, onde se possa apreciar a vista e embarcar ou desembarcar com facilidade.
Que impeça milhões de circularem de carro dia e noite, com fome e pressão por mais viadutos, mais pistas, mais asfalto para uma cidade onde praia e sossego são ativos que não podem ser sacrificados.
4. O centro histórico de Joao Pessoa tem um rico e extenso patrimônio arquitetônico colonial, barroco, neoclássico e atéartdecor (um dos estilos mais revalorizados no mundo dos últimosanos). Para variar, esse Centro é um grande desconhecido no país (e até entre muitos pessoenses).
Como não é inseguro como os do Rio, Salvador e Recife, e está em relativo bom estado, poderia ser recuperado rapidamente, como Lisboa fez nas últimas duas décadas. Mas um rebranding é urgente, assim como a seleção cuidadosa de usos que não mutilem o conjunto, e que agreguem mais valor a um roteiro de charme em potencial.
5. Com uma crescente população de aposentados e de gente que se muda para lá justamente por qualidade de vida, a indústria da saúde e da beleza poderia se estabelecer na cidade (Miami ficou tão famosa pelo negócio da cirurgia plástica, que foi cenárioate de uma serie popular sobre tais clinicas, Nip-Tuck).
Do bom envelhecimento ao antienvelhecimento, dos exercícios na praia ao foco na saúde mental, da pele a spas, não faltam opções para se cuidar da saúde e buscar descompressão por ali. Será que a melhor escola de surfe para quem é 65+ se instalará no Cabo Branco? Pelo mundo, poucas coisas são tão buscadas hoje como relaxamento com sociabilidade. O povo paraibano pode esbanjar essa hospitalidade quieta para os forasteiros. Um cenário de “White Lotus”, mas sem mal entendidos e tensões.
Assim como cidades por todo o planeta se desfiguram e viram genéricas por copiarem inspirações tão genéricas quanto Dubai, Orlando e Miami, João Pessoa pode inovar ao buscar referências menos massificadas, menos óbvias, mais ecologicamente responsáveis, com a boa arquitetura e o bom urbanismo tão em falta no Brasil, assim como a segurança. Que não envelheçam rápido. Como escrevi no início, o ponto de partida é dos melhores na região. Pode deixar algumas de suas rivais em prantos.