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Especialista alerta para chance de tridemia, com surtos de Ômicron, delta e influenza
18/12/2021 / 09:28
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Em entrevista à BBC News Mundo, John Swartzberg, professor emérito da cadeira de doenças infecciosas e vacinação da Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos, alerta sobre risco representado por pessoas que não se vacinam.

A descoberta da variante ômicron na África do Sul no fim de novembro levantou novas incógnitas sobre a pandemia em todo o mundo.

Seu surgimento também ocorre em um momento em que metade do mundo está vacinada, mesmo com doses de reforço, e a outra metade tem taxas de inoculação baixas ou muito baixas.

O médico John Swartzberg, professor emérito da cadeira de doenças infecciosas e vacinação da Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos, argumenta que não ter conseguido uma vacinação massiva a nível planetário, seja por falta de acesso às doses em alguns países, além da rejeição à imunização em outros, gera milhões de fábricas virais, uma para cada um desses indivíduos. Serão eles que produzirão a próxima variante do coronavírus, diz Swartzberg. O especialista acredita que, além disso, o hemisfério norte pode sofrer nas próximas semanas o que ele chama de “tridemia”, ou seja, três pandemias ao mesmo tempo, e acredita que a variante que aparecerá no mundo após a ômicron será uma que transformará o SARS-CoV-2 de uma pandemia a uma endemia.

Confira abaixo alguns trechos da entrevista de Swartzberg à BBC News Mundo, o serviço de notícias em espanhol da BBC.

BBC News Mundo: Como o senhor analisa o curso da pandemia três semanas após a detecção da ômicron na África do Sul?

John Swartzberg: Tenho uma imagem muito clara das possibilidades para as próximas seis a oito semanas e estou muito preocupado com tempos potencialmente difíceis, mais difíceis do que os que estamos passando agora. Nos Estados Unidos e em grande parte do mundo, estamos vendo um ressurgimento da (variante) delta agora. A pandemia delta não acabou, apesar de o noticiário falar muito na ômicron.

Ainda estamos no meio de uma pandemia de variante delta que está causando morbidade e mortalidade significativas, e então sobreposto a isso está a ômicron. Há uma semana, nos Estados Unidos, 0,7% dos casos estava relacionado à ômicron; agora, essa taxa é de 2,8%, quatro vezes mais. Se continuar assim, vamos ver a ômicron como a variante dominante nos Estados Unidos no início de janeiro, enquanto ainda estamos lidando com a delta. Isso é chamado de pandemia dupla. Mas minha preocupação é que não só teremos uma pandemia dupla, mas teremos uma tridemia: ômicron mais delta mais influenza.

No ano passado, tivemos pouco contágio de gripe, tanto no hemisfério norte como no hemisfério sul, mas este ano pode ser mediano. Em um ano médio temos algumas centenas de milhares de hospitalizações e entre 25 mil e 35 mil mortes em excesso (mortes além do previsto) nos Estados Unidos. Se tivermos a ômicron, a delta e a influenza ao mesmo tempo nestes meses de dezembro, janeiro e fevereiro, poderemos realmente estar em uma posição muito difícil nas próximas oito ou dez semanas nos Estados Unidos.

BBC News Mundo: Quase a metade da população do planeta completou o esquema vacinal. Qual é o risco para as pessoas que ainda não foram vacinadas?

Swartzberg: Quando pessoas que não têm imunidade contra esse vírus são infectadas, elas se tornam fábricas de vírus; eles produzem bilhões de partículas virais. E se as pessoas são fábricas de vírus, elas se tornam fábricas de variantes, porque algumas dessas bilhões de partículas virais serão uma variante.

A maioria das variantes não tem êxito, mas algumas terão. Esse é claramente o nosso problema. Não temos pessoas suficientes com imunidade, o que permite que o vírus continue a encontrar um lar em humanos que funcionam como fábricas virais para produzir mais partículas virais, e isso significa mais variantes. A única maneira de quebrar esse ciclo é vacinar os humanos a uma taxa muito maior do que temos em todo o mundo hoje.

É inútil para os EUA vacinarem toda a sua população se o restante do mundo não for vacinado. O vírus não reconhece nacionalidades. Ele simplesmente procurará e encontrará humanos para infectar. Onde quer que estejam, ele estará lá; nos Estados Unidos, na América do Sul, na África ou em qualquer outro lugar.

BBC News Mundo: O que o senhor espera de uma variante futura? Deve ser menos prejudicial do que a ômicron?

Swartzberg: Geralmente, um vírus respiratório me faz espirrar e tossir, mas não me faz sentir muito mal, porque se eu tiver febre alta, dores terríveis no corpo e não conseguir sair da cama, não infectarei outras pessoas. Se os sintomas forem mínimos, mas só produzir tosse e espirros, ainda assim irei trabalhar e fazer coisas com outras pessoas. Isso espalha o vírus e é o seu cenário ideal. Se com a ômicron o coronavírus evoluiu para um vírus menos sério, essa evolução pode continuar e se tornar mais benigna. Seria uma coisa muito boa.

Felipe Llambías – BBC News Mundo