SÃO PAULO, SP (UOL-FOLHAPRESS) – A Fórmula 1 inicia o campeonato de 2021 neste final de semana, no Bahrein, com boa parte do paddock tendo recebido pelo menos a primeira dose da vacina contra o coronavírus, mas não pensa em afrouxar as regras rígidas que permitiram a realização de 17 etapas de julho a dezembro do ano passado, com apenas 78 casos positivos em mais 78 mil testes realizados.
Foi uma lição aprendida a duras penas. Há pouco mais de um ano, a categoria teve de cancelar a primeira etapa do campeonato de 2020 poucas horas antes do início dos treinos livres, após um funcionário da McLaren testar positivo para coronavírus e os dirigentes, juntamente com os organizadores do GP da Austrália, entenderem que era temerário realizar o evento. Era o dia 13 de março de 2020. O mundo tinha 132 mil casos reportados à Organização Mundial de Saúde, em 123 países diferentes, e 5 mil pessoas tinham morrido.
Do lado de fora dos portões fechados, milhares de torcedores aguardavam, sem máscaras e aglomerados, enquanto o mesmo acontecia dentro do paddock, onde havia alguns postos de higienização, mas muito pouco distanciamento social.
Demorou quase quatro meses para que o campeonato pudesse, enfim, começar, com o GP da Áustria no início de julho. E o cenário era bastante diferente: apenas um quarto das pessoas que geralmente trabalham nas provas estavam presentes, todos usavam máscaras o tempo todo e eram testados a cada três dias. Caso alguém testasse positivo, todas as pessoas que formavam sua mini-bolha entravam em isolamento mesmo testando negativo.
Na época, o chefe da Mercedes, Toto Wolff, questionava o excesso de cuidado, dizendo que “é estranho ter toda essa estrutura em um país que não tem casos, ou pelo menos nesta região”, referindo-se à Estíria, na Áustria. De fato, naquele momento, os casos na Europa continental estavam em queda, mas mesmo assim a F-1 se manteve firme, seguindo o protocolo até o final da temporada, baseando-se nas determinações do conselho médico da Federação Internacional de Automobilismo.
Todo o cuidado resultou em poucos casos positivos, sendo que os piores resultados foram depois do GP da Rússia, uma das poucas provas que tiveram público e onde as medidas de distanciamento social e uso de máscaras eram pouco observadas pela população local. Foi, inclusive, um tradutor russo que acabou infectando o maior número de pessoas no campeonato, quinze, segundo a F-1.
Agora, no Bahrein, ninguém mais questiona se as medidas rígidas da F-1 são necessárias, mesmo que o governo local tenha vacinado boa parte do paddock há duas semanas (a segunda dose será administrada após a corrida na maioria dos casos). As equipes deixaram seus funcionários livres para escolherem vacinar-se ou não e, enquanto em times ingleses alguns preferiram imunizar-se em seu próprio país, um dos mais avançados nesse sentido, entre os times italianos, a Pirelli e a Alfa Romeo, o número de vacinados foi muito maior. No caso da AlphaTauri, todos se imunizaram, de acordo com o chefe Franz Tost. Entre os pilotos, Max Verstappen disse que já tomou a vacina na Europa, enquanto Sergio Perez, que já teve covid-19, Carlos Sainz e Kimi Raikkonen disseram ter aceitado a oferta barenita.
Ainda assim, os protocolos seguem os mesmos. As equipes estão trabalhando com número reduzido (90 pessoas por equipe, sendo que 60 ligadas à operação dos carros em si) e funcionários que normalmente circulariam pelo paddock, como os da Pirelli, trabalham em esquema especial para evitarem levar o vírus de um time para o outro.
Essa sempre foi a preocupação da F-1: seria inevitável que houvesse casos positivos, mas todos os protocolos buscam evitar que as contaminações saiam do controle e o campeonato tenha de ser parado.
Neste final de semana, a categoria volta às pistas em um país que tem, no momento, 6997 casos de covid-19 em aberto, sendo 54 deles em estado crítico. No total, o Bahrein, país com 1.6 milhão de pessoas, teve 502 mortes decorrentes da doença, e é um dos países mais avançados em termos de vacinação. Mesmo com os números baixos, quando a F-1 chegou para os testes, o país passava por um lockdown parcial de duas semanas a fim de suprimir um aumento no número de casos observado no início de fevereiro. Agora, restaurantes voltaram a abrir, com protocolos especiais. Todos que entram no país precisam ter o aplicativo do governo que monitora se você entrou em contato com alguém que testou positivo. Pelo aplicativo, também, é possível acompanhar os resultados dos testes, feitos a cada cinco dias para todas as pessoas que vêm de fora.
Os primeiros treinos livres para o GP de abertura da temporada serão realizados nesta sexta-feira. A classificação e a corrida serão às 12h, pelo horário de Brasília, no sábado e no domingo.