O F5 Online esteve presente no coquetel de lançamento da 19ª edição do Festival do Audiovisual Internacional da Paraíba (Fest Aruanda), nesta quinta-feira (5/12), no Cinépolis do Manaira Shopping, em João Pessoa.
A noite de abertura do 19° Fest Aruanda, maior evento audiovisual da Paraíba, foi marcada por uma especial homenagem póstuma ao cineasta paraibano Vladimir Carvalho (1935 – 2024) e a presença do seu irmão, Walter Carvalho, considerado por muitos o mais importante diretor de fotografia do país.
A edição 2024 do Fest Aruanda louva e referencia a história de vida do eterno ‘conterrâneo velho de guerra’, Vladimir Carvalho, e do fotógrafo Manoel Clemente, que nos deixaram esse ano, e em vida homenageia o ‘maior cinéfilo do mundo’, Ivan Cineminha, e as atrizes Suzy Lopes e Lucy Alves.
Apaixonado por cinema, história e filosofia (tendo sido colega de sala de aula de Caetano Veloso na graduação em Filosofia, em Salvador),o saudoso cineasta paraibano construiu uma trajetória voltada para o documentarismo, destacando a luta social contra a opressão e mostrando ao Brasil verdades desconhecidas ou mesmo escondidas. Cineasta de verdades, Vladimir Carvalho faleceu no dia 24 de outubro deste ano, em Brasília (DF), onde foi professor da Universidade de Brasília (UnB) por mais de 20 anos.
De acordo com a organização do festival, 880 filmes, entre curtas e longas-metragens, foram submetidos esse ano , um recorde de inscrições.
Na cerimônia de abertura do Fest Aruanda 2024, conversamos com o secretário de Cultura da Paraíba, Pedro Santos, com o cineasta e professor Bertrand Lira, além de ouvir o diretor Walter Carvalho.
Os filmes exibidos na primeira sessão foram o curta-metragem ‘A Bolandeira’, de Vladimir Carvalho (Documentário, 35mm, 1968, 10min, PB) e o longa-metragem ‘Malu’, de Pedro Freire, (Ficção, 2024, 103 min, RJ).
“Eu nasci aqui [João Pessoa], ele [Vladimir Carvalho] nasceu em Itabaiana, no Agreste. E a gente andava pela cidade falando da gente, falando de mim, ele me explicando a mim quem eu era, porque ele tem 13 anos mais velho do que eu. Quando meu pai morreu eu só tinha dois, um pouquinho mais de dois anos. Então o Vlad é uma mistura, ou a junção, ou uma convergência de duas pessoas, irmão e segundo pai. Ele ajudou minha mãe a nos criar, com quatorze anos, quinze anos foi trabalhar“, relembrou Walter Carvalho ao falar com jornalistas sobre o irmão, Vladimir.
“É muito difícil separar o que eu sou, sem ser o que eu sou com ele, o que eu fui. O cara que me apresentou o Sertão e me fez me apaixonar pelo Sertão, e me aplicou o cinema, de uma jornada só, de uma largada só, de uma viagem só pro Sertão paraibano, ele fez eu me apaixonar pelo Sertão até hoje, e me aplicou o cinema, e eu virei um dependente, e não tem cura essa dependência. A única maneira de amenizar essa dependência é fazer, fazer cinema, fazer, fazer e fazer. E quando você acabar de fazer, você faz de novo, e continua fazendo. E continua agora fazendo duplamente, porque sou eu sozinho, não tenho mais ele pra ajudar, e nem eu posso ajudá-lo.”
Durante a entrevista, Walter Carvalho esbarrou a mão em meu braço enquanto gesticulava, quase derrubando o celular que eu segurava para gravar a sua voz, e me pediu “desculpa”. Em seguida, disse que há duas características de Vladimir que sempre procurou imitar.
“Eu queria ter a capacidade intelectual e emocional de imitá-lo nessas duas coisas, a maneira alegre com que ele vivia as coisas simples da vida e a sua capacidade de se indignar com a injustiça social, isso era o meu irmão. Com ele, o meu irmão, eu aprendi tudo o que eu não sei, por isso eu fiquei órfão”, acrescentou o consagrado diretor, em um declaração de amor pelo cinema e por Vladimir Carvalho.
Bertrand Lira, cineasta e professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFPB, que acompanha o Fest Aruanda desde o início, recorda que o “festival surgiu numa salinha do Departamento de Comunicação e foi crescendo e chegou a esse patamar, um festival nacional reconhecido e tá também agora estendendo pro exterior, com mostras de filmes estrangeiros. Uma coisa maravilhosa, a Paraíba se estabelecendo como referência no cinema, além das produções, em festivais também. Inclusive porque também tem muitos festivais no interior, que são pequenos festivais, mas eu acredito que a Paraíba talvez seja o estado que mais tenha festival de cinema“, afirmou Bertrand.
Ele destaca que, nesse ano, o público poderá assistir filmes digitalizados em 4K pela Cinelimite e o Centro Técnico Audiovisual, como “Aruanda”, filme de Linduarte Noronha (Documentário, 1960, 35mm, 22min, PB) e “Funesto, Farsa Irreparável em Três Tempos”, de Carlos Dowling (Ficção, 35mm, 1999, 44min, PB).
“Essa questão da preservação, da memória do cinema, dos próprios filmes, isso também tem sido uma tônica do festival”, conta Bertrand Lira.
O secretário de Cultura da Paraíba, Pedro Santos ressaltou que o “governo do estado como um todo é um grande parceiro do Fest Aruanda. A gente tem a Cagepa, a PB Gás, e a secretaria de Cultura compõe essa grande parceria. No caso da Secult, a nossa parceria é com o Aruanda Play, que é a plataforma de streaming do Aruanda, ou seja, aqueles filmes que estão aqui podem também ser assistidos por quem não pode estar aqui, isso é muito legal porque permite essa democratização de acesso. E para o próximo ano a gente também tá visualizando que os produtos realizados com recursos da Lei Paulo Gustavo, eles também tenham na plataforma um canal de escoamento”, informou o secretário ao F5 Online.
“Pra gente é uma parceria que gera bons frutos, coloca a Paraíba no roteiro, fortalece essa ideia da Paraíba no roteiro dos grandes festivais de cinema, e o governo do estado não poderia tá de fora, muito menos a Secretaria de Cultura”, reforçou Pedro Santos.
O Fest Aruanda 2024 será realizado até o dia 11 de dezembro na rede Cinépolis do Manaira Shopping com entrada franca ao público. A programação completa, que pode ser conferida no site do festival, conta com mesas e debates, sessões temáticas de filmes, mostras competitivas, lançamentos literários, laboratórios, oficinas e mais.