Com a popularização das redes sociais, muitos grupos se tornaram especialistas em “desmascarar” grandes instituições e recomendações sérias, com base em seu conhecimento prático. É o famoso “sempre fiz e nunca deu em nada”. Uma das teorias da conspiração é sobre o risco de manter o tanque do veículo sempre na reserva. Mas, afinal, quem está certo nessa queda de braço?
Não é difícil encontrar pessoas que realmente mantenham o veículo com pouco combustível. Mas de acordo com a explicação de especialistas, é questão de tempo – ou sorte – para surgirem problemas mecânicos. Principalmente ao circular na reserva.
Para Marcelo Alves, professor do curso de Engenharia Mecânica da Politécnica da USP, a prioridade na hora de escolher a melhor forma de abastecer o carro deve ser a bomba de combustível.
“Nos veículos mais modernos é usada uma bomba acionada por motor elétrico. Dependendo do projeto da instalação da bomba, em um tanque com muito pouco combustível pode ocorrer um maior aquecimento do motor da bomba e isso pode levar a uma redução da vida útil”, alerta o docente.
Segundo Marcelo, outros problemas podem comprometer o funcionamento da bomba, como a sucção de resíduos sólidos de contaminação no combustível, que pode ser facilitada quando o tanque está mais vazio.
“Um outro ponto que deve ser considerado é o risco de pane seca por indicação pouco confiável do nível de combustível. O motorista acredita que há uma quantidade maior de combustível e na verdade não há”, opina o professor da USP.
Algumas pessoas acreditam que estão fazendo a melhor escolha mantendo o carro com o tanque cheio, pois isso forçaria menos a bomba de combustível. Por outro lado, há quem prefira esperar o tanque esvaziar para completar novamente, assim, estaria sempre com combustível novo.
No entanto, na prática, o engenheiro Erwin Franieck, diretor do Instituto SAE4Mobility, afirma que esses conceitos não fazem muita diferença. Ele explica que para encontrar a forma ideal de abastecimento é necessário entender o tipo de uso do condutor.
“Quando fala em um carro que roda constantemente, consumindo dois tanques por mês, por exemplo, não há muita diferença entre completar várias vezes ou esperar baixar. Pois não dá tempo nem de forçar a bomba, nem de o combustível ficar velho. O que não pode é rodar sempre com muito pouco combustível. Isso sim sobrecarrega o sistema”, afirma o engenheiro.
Já para quem deixa o carro parado por longos períodos, acima de 15 dias, a recomendação é manter o tanque cheio. “Quanto menos contato o combustível tiver com o ar, melhor será a qualidade depois, pois não haverá oxidação. Nesse caso, também recomendo utilizar combustiveis com boa resistência à oxidação, como etanol ou gasolina aditivada. No entanto, se a viagem for mais longa e durar um ano, por exemplo, o melhor é retirar todo o combustível do tanque”, orienta o especialista.
Nas redes sociais, quem tenta refutar a ideia de que andar na reserva prejudica a mecânica do veículo chega a dizer que o argumento foi plantado por donos de postos para vender mais combustível. Mas a afirmação não faz sentido, já que o consumo de gasolina, diesel ou etanol está ligado à quantidade de quilômetros percorridos pelo automóvel, e não à frequência de idas ao posto. Também é importante ressaltar que circular na reserva não economiza combustível, apenas adia o gasto.