A Classificação Integrada de Fases da Segurança Alimentar (IPC, na sigla em inglês) emitiu um alerta de que “o pior cenário possível de fome está atualmente se concretizando na Faixa de Gaza”.
O documento, produzido por uma revisão técnica apoiada pela ONU, afirma:
“Crescentes evidências mostram que a fome generalizada, a desnutrição e as doenças estão provocando um aumento nas mortes relacionadas à fome.”
“Dados mais recentes indicam que os limiares de fome foram atingidos em relação ao consumo de alimentos na maior parte da Faixa de Gaza e em relação à desnutrição aguda na Cidade de Gaza.”
Em maio, o IPC já havia alertado que os cerca de 2,1 milhões de palestinos vivendo em Gaza estavam em “risco crítico” de fome e enfrentavam “níveis extremos de insegurança alimentar”.
Apesar da gravidade, o novo alerta não representa uma declaração formal de fome em Gaza. O IPC informa que fará uma nova análise “sem demora”.
Na véspera da publicação do alerta, diversas autoridades de alto escalão das Nações Unidas se manifestaram sobre a situação em Gaza:
Tanto Israel quanto o Hamas culpam um ao outro pela situação humanitária em Gaza.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, declarou: “Não há fome em Gaza, nem política de fome em Gaza.”
A mesma avaliação apoiada pela ONU afirma que “apenas uma ação imediata para encerrar as hostilidades” e o acesso humanitário “sem impedimentos e em larga escala” podem evitar mais mortes e “sofrimento humano catastrófico”.
Estão entre os principais pontos do relatório:
Sobre a Gaza Humanitarian Foundation (GHF), grupo apoiado por Israel e pelos Estados Unidos, o relatório diz:
A IPC não declara formalmente a ocorrência de uma fome, mas fornece as análises técnicas que servem de base para governos e organismos emitirem declarações oficiais.
Segundo a definição formal da IPC, três critérios precisam ser atendidos para caracterizar uma fome:
Coletar dados em Gaza tem sido extremamente difícil.
Amande Bazerolle, responsável pela resposta emergencial dos Médicos Sem Fronteiras (MSF) em Gaza, disse à agência AFP que os bloqueios e os combates impedem a realização de pesquisas necessárias para a classificação formal de fome.
Jean-Raphael Poitou, diretor do programa para o Oriente Médio da ONG Ação Contra a Fome, também ouvido pela AFP, afirmou que os deslocamentos forçados ordenados pelo Exército israelense e as restrições de movimento nas áreas mais afetadas “complicam enormemente” a situação.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, rejeitou as acusações de que haja fome em Gaza.
No domingo (27/7), declarou: “Que mentira descarada. Não há política de fome em Gaza, e não há fome em Gaza.”
Enquanto o relatório da IPC era divulgado, o ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Sa’ar, falou com jornalistas.
Questionado sobre se Israel estaria bloqueando a ajuda humanitária, Sa’ar respondeu que isso é uma “mentira”, e que a “realidade” é que o país está, na verdade, facilitando a entrada da ajuda.
Segundo ele, mais de 200 caminhões com ajuda humanitária entraram em Gaza desde ontem. “Qualquer um que queira fazer isso, pode fazê-lo”, afirmou.
O ministro disse ainda que corredores humanitários foram abertos e mencionou as pausas táticas anunciadas no fim de semana, entre 10h e 20h, para que os caminhões distribuíssem a ajuda com segurança. Também citou lançamentos aéreos de alimentos realizados no sábado e afirmou: “Não há rota que não estejamos utilizando.”
No entanto, o relatório publicado pelo órgão apoiado pela ONU destaca que “a ajuda humanitária continua extremamente restrita devido a pedidos de acesso humanitário sendo repetidamente negados e a incidentes de segurança frequentes”.
Da BBC News Brasil em Londres