Meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), Edmundo Wallace Monteiro Lucas defendeu pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), a tese de doutorado “Regionalização dos impactos das mudanças climáticas nos regimes de chuva e vazão na Bacia Hidrográfica do Xingu”, que busca avaliar os impactos das mudanças climáticas no regime de chuvas e vazões da bacia hidrográfica do Xingu, local que abriga a usina hidrelétrica de Belo Monte. A defesa aconteceu na manhã da quarta-feira (23).
Segundo o especialista, o objetivo é verificar como ficarão os índices pluviométricos e vazões na região, e avaliar o impacto disso na geração de energia elétrica na usina.
“Nós aplicamos 4 modelos climáticos globais e 2 cenários, em função do forçamento radiativo na atmosfera devido à elevação dos gases do efeito estufa. Na avaliação usamos 2 períodos futuros, o de 2021-2050, e o de 2051-2080, que são dois períodos de 30 anos, referentes a uma normal climatológica, conforme a recomendação da própria OMM”, explicou Wallace.
A análise dos cenários apontou que, para o primeiro período, com RCP 4.5 (cenário de mudanças climáticas sugerido pelo IPCC), haverá um acréscimo de chuva e vazão e, consequentemente, de energia em Belo Monte, com redução em torno de 10%.
Já para o segundo período, o cenário aponta uma redução de até 20% de vazão, chuva e energia.
Na região do alto Xingu, há também uma tendência negativa de precipitações no período chuvoso, em especial, no trimestre de dezembro, janeiro e fevereiro.
No baixo Xingu (norte da bacia), por sua vez, foi observada tendência de aumento no acumulado anual, principalmente no trimestre de março, abril e maio.
O artigo completo do autor sobre tendências de índices de extremos climáticos de precipitação e temperatura foi publicado pela revista Wather and Climate Extremes e pode ser lido aqui.
Os resultados obtidos com os cenários e modelos apresentados indicam ainda que no período seco a situação deve ficar mais crítica do que a atual na região. Isso porque Belo Monte é especialmente diferente: é uma usina fio d’água, que não possui um reservatório para armazenar água e compensar as poucas chuvas do período seco na geração de energia.
“Uma usina fio d’água depende unicamente da variabilidade natural do rio, tornando o sistema mais vulnerável a eventos climáticos extremos. Os cenários futuros demonstram que deve reduzir a chuva e vazão na bacia, uma situação que merece atenção em relação a produção de energia na região”, explica Wallace.
“Estes resultados devem servir para os tomadores de decisão e operadores do sistema adotarem políticas energéticas e medidas de mitigação aos possíveis impactos destes cenários, como investir em outras fontes de energia renováveis para compensar a perda de Belo Monte.”
Com informações da agência de notícias INMET