Desde que viralizou por soltar um grito durante uma entrevista, a atriz Gilda Nomacce diz que está “sentindo uma felicidade extrema”.

“Virar meme, assim como a Renata Sorrah e a Fernanda Torres, é um orgulho tremendo”, afirma ela à coluna Mônica Bergamo.

Com 54 anos e mais de 100 papéis no currículo, Gilda foi definida pelo ator Selton Mello como “a musa do cinema independente brasileiro”. Ela mesma destaca que é conhecida como uma das “rainhas do grito”, como são chamadas as artistas que fazem longas de terror.

Não por acaso, o berro que viralizou aconteceu quando ela falava sobre o seu novo filme do gênero, “Enterre seus Mortos”, ao telejornal JM1, da TV Mirante, afiliada da Globo no Maranhão. Gilda respondia a uma pergunta sobre o que o público podia esperar da produção. “Vai esperar que a gente esteja lá sangrando…”, disse ela, começando a gritar na sequência. “O inesperado vai pegar você”, finalizou a atriz, rindo.

Durante o ocorrido, a apresentadora Geyce Gomes pareceu se surpreender com a performance e logo encerrou o noticiário. Gilda garante que já tinha avisado o técnico de som e a jornalista sobre o grito que daria, mas diz entender a surpresa de Geyce. “Ela, claro, não dimensionou o [tamanho do] grito. Depois assistindo, eu entendi como ela se sentiu.”

Gilda conta que tinha feito a performance pouco tempo antes, em uma mesa sobre o cinema de terror latino-americano na mostra “Los Terroríficos”, dentro da programação do Festival Maranhão na Tela. “Terminei com esse grito e foi incrível”, revela ela, que decidiu repetir a estratégia na TV.

“Mas jamais tive a pretensão de virar meme.”

Curiosamente, ela já interpretou nos cinemas uma atriz que é reconhecida por um meme. Foi no curta “5 Estrelas”, de Fernando Sanches. O enredo se passa durante uma viagem de Uber. O papel da motorista é feito por Luciana Paes.

“Ai meu Deus, depois de 35 anos de carreira, eu virei a mulher do meme”, diz a personagem de Gilda na produção, insatisfeita por ser identificada desta forma.

Reação oposta a da atriz em sua vida real. “Diferentemente dessa mulher do filme, eu sou orgulhosa de ter uma carreira imensa que agora as pessoas poderão conhecer. Tenho muitos filmes incríveis para vocês descobrirem.”

Ela também afirma estar na expectativa para que toda essa repercussão se reverta em novas oportunidades de trabalho, especialmente na TV. “Novela é a única coisa que eu ainda não fiz”, diz, destacando o apoio de colegas de profissão que têm pedido papéis para ela. Um deles é Selton Mello, com quem ela contracena em “Enterre seus Mortos”.

“Muitas caras parecidas nas escalações sempre, que Gilda brilhe muito porque merece”, escreveu ele nas redes sociais. “Não sou eu. É o Selton Mello que está pedindo papel pra mim”, fala ela, entre risos.

Gilda entrou ainda jovem e ficou por oito anos no Centro de Pesquisa Teatral, do diretor Antunes Filho (1929-2019), um dos principais encenadores do país. “Talvez eu tenha aprendido a gritar nas tragédias com ele.”

“Fiz coisas muito importantes lá dentro, viajei com eles para o Japão, aprendi muita coisa.”

Posteriormente, ela criou o seu próprio grupo, a Companhia da Mentira. Foi a partir da sua atuação nos palcos que foi chamada para estrear no cinema, no curta “Um Ramo”, de Juliana Rojas e Marco Dutra, mesmo diretor com que ela trabalha em “Enterre seus Mortos”. Depois, fez também o primeiro longa da dupla, “Trabalhar Cansa” (2011), apresentado na mostra Un Certain Regard (Um Certo Olhar), principal paralela do Festival de Cannes.

“Aí virei uma pessoa do cinema autoral. E nunca pararam de me chamar. Agora, estou com muita vontade de fazer novela e, de repente, acontece isso de me tornar popular por um meme.”

Outro desejo é ser chamada para fazer a performance ao lado de uma banda de rock em um estádio. “Sou performática”, diz.

Em toda essa comoção, a única preocupação da atriz era sobre como o meme seria recebido pela sua família. “Estava muito receosa e não comentei o assunto. Quando o meu irmão encaminhou o link [com a notícia], ele estava comemorando. Me deu um alívio e pensei: agora só tem coisas boas.”

Com Folha de São Paulo