Golpistas têm usado o Instagram para uma forma de estelionato virtual que afeta cada vez mais usuários na rede social. Após invadir a conta de alguém, criminosos tentam enganar os seguidores daquela pessoa com stories que anunciam produtos de preços atrativos e bem abaixo do praticado. Os itens são apresentados como sendo de um amigo que quer se desfazer dos bens, induzindo as vítimas a realizarem transferências via Pix para “reservar” o objeto.
Foi o que aconteceu com a psicóloga Danielle Azevedo na noite desta quarta-feira (6). Com mais de 18 mil seguidores na conta profissional do Instagram, ela teve o perfil invadido por um homem que passou a publicar stories ofertando itens eletrodomésticos. No caso de Danielle, a história se encaminhou para um desfecho inusitado após o hacker demonstrar empatia pelo transtorno causado e devolver o acesso do perfil.
“Foi como se fosse um bug, de uma hora pra outra o telefone ficou como se fosse sem rede, de internet mesmo, eu até achava que era algum problema no sinal de internet”, conta Danielle, que é natural de Natal e vive em João Pessoa.
Após reiniciar o celular e entrar no Instagram, percebeu que a conta já não estava mais logada na tela da rede social. “Aí eu achei aquilo muito estranho”. Tentou, então, acessar novamente com o login e a senha, mas a mensagem foi de “usuário inexistente”.
Desconfiando dos stories, amigas e pacientes logo começaram a mandar mensagens pelo WhatsApp perguntando se algum colega da psicóloga realmente estava vendendo os produtos. Foi quando ela conseguiu entrar na conta pessoal, ainda disponível no celular, e viu as publicações.
“Eu abri o meu perfil pessoal pra público e fiz um storie, ‘gente, o meu Instagram profissional foi invadido nesse exato momento, faz alguns minutos, denunciem essa conta, não sou eu que tô postando isso, não sou eu que estou vendendo nada, não comprem absolutamente nada, não façam nenhum depósito, não façam nada disso’, e pra infelicidade da pessoa, a minha conta pessoal fica lá na descrição [do perfil profissional] e acho que nesse meio tempo ele não pensou em fazer a alteração”.
Invasões como essa não são casos isolados e segundo o gerente de cibersegurança da consultoria Mazars, Alessandro Magalhães, têm origem quando os criminosos disparam links que instalam malwares e roubam dados, possibilitando a tomada de perfis. Outra explicação é o vazamento de senhas cadastradas em sites que são iguais às usadas nas redes.
“Se a pessoa nunca fez isso antes, os valores são extremamente atrativos e solicitarem Pix para a conta de uma terceira pessoa, é quase 100% de chances de que a conta foi invadida e trata-se de um golpe”, alerta Waldo Gomes, diretor da NetSafe Corp, empresa especializada em segurança digital.
Waldo recomenda o uso de todos os métodos de segurança possíveis no Instagram, como autenticação em dois fatores, aplicativos de autenticação, solicitações de login, códigos de reserva, dentre outros. Ele destaca a importância de entrar em contato com o titular do perfil, por outros meios, antes de efetuar qualquer pagamento. Também é importante denunciar o anúncio, caso confirmado o golpe.
Aflita enquanto tentava solicitar novos acessos pelo e-mail, Danielle recebeu mensagens de um ex-paciente que desconfiou dos stories e iniciou um diálogo com o invasor do perfil. O homem falou sobre o trabalho desenvolvido pela psicóloga através das redes sociais, e como o roubo da conta prejudicaria não somente ela, mas diversos seguidores e pacientes. A conversa teve efeito e parece ter sensibilizado o invasor, que iniciou uma troca de mensagens com a psicóloga.
“O rapaz já tava tentando inclusive falar comigo lá pelo meu direct do Instagram pessoal, aí foi quando ele tentou uma chamada de vídeo e eu aceitei”, conta Danielle. “Ele apareceu de cara limpa, um cara jovem, boa pinta, não era um ambiente feio, sujo, acredito eu que ele tava em casa, era uma imagem límpida, provavelmente de um aparelho muito bom. Ele abriu a tela e ‘oi olha, não desliga, eu não quero mais a sua conta, eu quero que você fique bem, tô vendo que você tá mal’”.
Segundo a psicóloga, o homem admitiu que queria dinheiro e chegou a classificar a atitude de “meu trabalho”.
“Foi quando eu interrompi ele e disse ‘não chame isso de trabalho, isso é dar trabalho, você dá trabalho inclusive pra tua própria mente, você não fica bem com isso, eu tenho certeza que você não dorme em paz’”, disse Danielle, que seguiu dialogando com o rapaz.
Após alguns instantes de conversa o sujeito acabou devolvendo o acesso do perfil. “Achei que vinha uma segunda sequência de golpes, só que realmente ele mandou a senha e o domínio do login”.
Apesar do desespero e da violação sofrida, Danielle consegue enxergar a situação sob outras perspectivas: “Meu choro foi de alívio e foi ainda por acreditar que existem pessoas que têm empatia, sabe, por mais que estejam nesse universo. É porque é um sistema, você acaba viciado, você é imbuído, como se fosse uma cocaína, um álcool que você precisa se abastecer daquilo todos os dias. É difícil você sair porque fica em estado de abstinência, ‘eu quero mais, meu corpo pede, minha família exige, os meus luxos exigem’, então é um dinheiro muito fácil, porque as pessoas caem. Mas é um preço muito alto que se paga e alí pelo menos eu plantei alguma coisa. Talvez ele tenha repensado em dar continuidade aos golpes dele”, diz a psicóloga.