“Totalmente presa.” Essa é a sensação da ucraniana Zi Faámelu, que mora em Kiev e foi impedida de sair do país em meio à guerra. Em entrevista ao portal americano Vice, Zi, uma mulher trans, contou que não pôde sair da Ucrânia porque todos os seus documentos de identificação estão no sexo masculino e mencionam seu nome de batismo — diferente do nome social adotado.
Desde o início do ataque russo no território ucraniano, na última quinta-feira (24/2), a Ucrânia determinou que homens entre 18 e 60 anos não podem deixar o país. Na Ucrânia, a alteração nos documentos em caso de transição de gênero e a adoção do nome social, segundo ativistas, só são feitas após “meses de processo, com testes físicos e psicológicos, para provar”.
“Como centenas de pessoas trans na Ucrânia, sou mulher, mas tenho ‘masculino’ no meu passaporte e em toda a minha identidade”, contou Zi Faámelu, 31, ao portal. “Pessoas trans agora se sentem esquecidas, negligenciadas, abandonadas. Nós realmente somos invisíveis no momento. Nós precisamos das Nações Unidas, nós precisamos de organizações dos direitos humanos. Precisamos de pessoas para nos ajudar a sermos percebidas.”
Outras duas mulheres trans disseram temer por suas vidas e foram aconselhadas por grupos de direitos humanos a “perder” o documento de identidade a fim de sair da Ucrânia. Para ativistas da causa, o problema está colocando em sério perigo a vida de centenas de pessoas transgênero na Ucrânia, que se sentem “completamente sozinhas”.
Ao portal, Zi disse que também se sente só. Segundo a musicista, todo mundo do seu bairro fugiu do país. No meio dos bombardeiros e batalhas, a ucraniana tenta se manter otimista. “Eu vi pessoas correndo por suas vidas, e gritando umas com as outras para deixar as coisas para trás e simplesmente sair — mas eu tenho que ficar onde estou. É a única opção para mim agora.”
Correio Braziliense