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Hacker da ‘Vaza Jato’ é condenado a 20 anos de prisão
22/08/2023 / 07:40
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A Justiça Federal condenou nesta 2ª feira (21.ago.2023) o hacker Walter Delgatti a 20 anos de prisão no processo da operação Spoofing, deflagrada pela PF (Polícia Federal) em 2019. A sentença foi proferida pelo juiz Ricardo Leite, da 10ª Vara Federal em Brasília. Cabe recurso.

Delgatti foi preso em 2019 por suspeita de invadir contas de autoridades no Telegram, entre elas, de integrantes da força-tarefa da Lava Jato, como o ex-procurador e deputado federal cassado Deltan Dallagnol (Podemos-PR).

Além de Delgatti, mais 6 acusados também foram condenados pelas invasões de celulares. Além dos ex-procuradores da Lava Jato, o ex-ministro da Justiça e agora senador, Sergio Moro (União-PR), o ex-ministro da Economia Paulo Guedes e conselheiros do CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) também tiveram mensagens acessadas ilegalmente.

Na decisão, o juiz disse que Delgatti tinha a intenção de vender as conversas hackeadas da Lava Jato por R$ 200 mil à imprensa e rebateu declarações do hacker, que, durante as investigações, disse ter violado as conversas para “combater injustiças” que teriam sido cometidas durante a operação.

“Só após perceber a resistência de jornalistas a pagarem para ter acesso a este material é que houve um esfriamento inicial no ânimo de Walter de obter numerário pela troca do material“, afirmou o juiz.

Além da participação no hackeamento de autoridades, a sentença diz que Walter Delgatti obtinha dados bancários de diversas vítimas e comercializava as informações obtidas em chats especializados em crimes.

“Para melhor compreensão das técnicas de fraudes empreendidas por Walter, houve a degravação de um diálogo em que Walter se apresenta como responsável pela área técnica e segurança de uma instituição financeira e orienta um cliente de entidade bancária a realizar uma atualização em seu computador de forma a instaurar um programa malicioso”, diz o juiz.

Em nota, a defesa de Thiago Eliezer Martins Santos informou que irá recorrer da decisão porque “não concorda com os argumentos expostos” pelo juiz. Segundo os advogados, a sentença foi “baseada em declarações fantasiosas de corréus e sustentada por uma delação premiada que não condiz com a verdade dos fatos”.

“Confiamos na imparcialidade do Judiciário e esperamos que, ao final do processo, a inocência do Sr. Thiago seja reconhecida“, disse.

No início deste mês, Delgatti foi preso pela Polícia Federal em função de outra investigação, a invasão aos sistemas eletrônicos do CNJ (Conselho Nacional de Justiça).

Os policiais investigam se o ato foi promovido por Delgatti a mando da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP). De acordo com as investigações, o hacker teria emitido falso mandado de prisão contra o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes.

Entenda

Os arquivos das conversas foram apreendidos na operação Spoofing, que apura a atuação de um grupo de hackers que invadiu celulares de autoridades, como o de procuradores e de Moro, e afirmam ter tido acesso a mensagens trocadas no Telegram.

Em 25 de janeiro, Ricardo Lewandowski autorizou à defesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) o acesso ao conteúdo apreendido. Dias depois, em 1º de fevereiro, o magistrado derrubou o sigilo das conversas.

Assinado pelo perito Cláudio Wagner, o documento reúne diálogos de 3 de setembro de 2015 a 8 de agosto de 2017. O material tem, ao todo, 50 páginas.

A operação Lava Jato no Paraná foi deflagrada em março de 2014. O MPF anunciou o fim dos trabalhos do grupo dedicado às investigações em 1º de fevereiro de 2021. Durante o período da operação, advogados de Lula apontaram irregularidades nas investigações e questionaram a atuação das autoridades envolvidas.

Parte dos diálogos que estão sob guarda da Justiça veio a público em 29 de janeiro de 2021 e revelou Moro orientando procuradores sobre como apresentar a denúncia contra o petista no caso do tríplex do Guarujá. Outros diálogos também já haviam sido tornados públicos por meio da chamada “Vaza Jato“, série de reportagens do The Intercept Brasil, algumas feitas em parceria com outros veículos, com base nos diálogos.

Em 1º de fevereiro, os advogados de Lula apresentaram petição ao STF com o conteúdo das conversas hackeadas apreendidas. Pediram a Lewandowski a autorização para o uso do material em processos e procedimentos envolvendo o presidente e que estejam relacionados às mensagens, como os processos que pedem a anulação de condenações de Lula sob o argumento de que houve parcialidade de Moro ao julgar os casos.

Na petição, a defesa de Lula destaca uma das conversas obtidas, na qual a procuradora Lívia Tinôco, diretora cultural da ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República), resume e ri das falas de Lula feitas em discurso realizado no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, em 7 de abril –dia em que foi preso pela Polícia Federal depois de mandado expedido por Moro.

Na conversa, a procuradora descreve as falas do petista: “TRF, Moro, Lava Jato e Globo tem um sonho: Que Lula não seja candidato em 2018. Não querem Lula de volta porque pobre não pode ter direito”. Na mesma conversa, outra pessoa, não identificada, diz que ligou a televisão “na hora dos orgasmos múltiplos”.

“E o outro sonho de consumo deles é ter uma fotografia dele preso para terem um orgasmo múltiplo, para ter tesão. Kkkkkkkkk”, diz Lívia Tinôco.

O então presidente da ANPR, José Robalinho, fala ainda sobre avião que iria levar Lula de São Paulo para Curitiba, onde ficaria preso. “Estão dizendo que o avião eh igual ao do Teori….Mas para mim parece mais velho…kkk”.

No documento enviado a Lewandowski, os advogados de Lula afirmam que o diálogo revela “o uso estratégico do direito para fins ilegítimos, além do claro desprezo pela própria integridade física de Lula”.

Com informações de Poder 360 e Agência Brasil