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Healthechs: Pandemia acelera negócios que unem tecnologia e saúde e atraem investimentos
27/12/2021 / 06:41
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Depois de fazer residência em cirurgia vascular, em Nova York, o médico português Rui Brandão decidiu abandonar a carreira em 2016. A decisão radical tinha um motivo: ele queria voltar ao Brasil, onde já havia morado, para se tornar empreendedor. Hoje, cinco anos depois, é sócio da Zenklub, uma plataforma especializada em saúde mental e cuidados emocionais e corporativos. Já atende mais de 300 empresas e recebeu duas rodadas de investimentos.

— Muita gente dizia que era loucura apostar em saúde emocional. Mas minha mãe passou por um episódio de burnout e vi que não havia um sistema de saúde emocional que pudesse ajudar a enfrentar o problema — conta Brandão.

Com a pandemia, as buscas pelo tema saúde mental cresceram 98% no Google, no ano passado, em relação à média dos últimos dez anos. A pergunta “como lidar com a ansiedade?” bateu recorde de procura na década. A Zenklub teve crescimento de 272% em número de clientes, entre eles gigantes como Ambev, Cyrela, Qualicorp, Natura e Loggi. Como os atendimentos são virtuais, via chat, áudio ou vídeo, a Zenklub atende 1.250 cidades do país e mira o exterior.

A mensalidade de R$ 14,90 dá acesso a conteúdos como meditação, sugestões para fazer trilhas e desconto nas consultas com os especialistas.

A Zenklub recebeu este ano nova rodada de investimentos de R$ 45 milhões da K Tarpon, GK Ventures e Indico Capital Partners, que vai ajudar a empresa a crescer, tendo inclusive nos planos o atendimento presencial. Em 2020, a Índico Capital Partners já tinha injetado R$ 16,5 milhões.

A Zenklub não é exceção entre as healthtechs, start-ups que atuam no segmento de saúde e ajudam a ter acesso a serviços privados. Essas empresas receberam, até novembro, US$ 307 milhões de investimentos (R$ 1,75 bilhão no câmbio atual). O número é da Distrito, plataforma de inovação que faz levantamento de dados. Trata-se do maior investimento da história dessa categoria, mais que o dobro em relação ao ano passado, quando foram aportados US$ 127 milhões.

— A pandemia despertou esse movimento. O setor de saúde sofreu uma crise muito grande e a tecnologia resolveu várias questões, como poder fazer consultas de telemedicina, com escala de pacientes. E os empreendedores começaram a buscar tecnologia para fazer melhor gestão dos ativos, hospitais, clínicas — diz Gustavo Araújo, CEO da Distrito.

Quase 30% das 990 healthtechs atuam com gestão de prontuários eletrônicos de clínicas e hospitais. Depois, há os negócios de acesso à saúde, voltados a quem não tem plano particular. E a telemedicina, categoria que só passou a existir oficialmente na pandemia, diz Araújo.

Previdência e seguro

Em 2020, apenas 22,4% dos brasileiros tinham plano de saúde, e uma das razões é o custo da mensalidade. Entre as empresas que se posicionam como alternativa está a Exmed, com um modelo de negócio baseado em healthtechs americanas, que tem um viés de previdência e seguro. O investimento para criar a empresa foi de R$ 5 milhões e veio dos sócios. Ela nasceu em Pernambuco e está chegando a São Paulo e Brasília.

O cliente faz depósitos mensais numa conta digital e usa o serviço para exames ou consultas numa rede de médicos e clínicas credenciados. Enquanto não mexe no dinheiro, os recursos ficam rendendo, atrelados ao CDI. A Exmed oferece a opção por um seguro que, em caso de doença mais grave, cobre os custos de internação ou cirurgia. Para administrar os recursos, é cobrada taxa mensal de R$ 20.

— É como uma reserva de emergência destinada à saúde. O dinheiro pode ser resgatado a qualquer momento, caso o cliente queira desistir de ser associado — diz Sérgio Bivar, um dos sócios-fundadores.

O custo mínimo mensal para uma pessoa com 30 anos, incluindo o seguro, é de R$ 84,96. A Exmed recomenda, entretanto, um aporte mínimo de R$ 200, para criar reserva financeira mais robusta.

Já a Livance é uma start-up que oferece coworking de consultórios médicos e está chegando ao Rio, depois de aportes de R$ 50 milhões de investidores. É uma forma de ajudar médicos, psicólogos, nutricionistas e terapeutas a montar consultório próprio. Com sistema de assinatura, a Livance oferece linha telefônica, com secretária, presença em site para agendamento, wi-fi e custo da energia embutido. O uso do consultório é feito de acordo com a necessidade das consultas do profissional.

— Por R$ 236 de mensalidade, mais o custo de uso do tempo do consultório é possível atender a qualquer hora e onde for mais acessível — diz Claudio Mifano, CEO da Livance, start-up que nasceu no Vale do Silício.

Já a Be Caps usa inteligência artificial para indicar suplementação para necessidades como melhorar o sono ou ganhar energia. O cliente responde um questionário no site e as vitaminas são feitas em farmácias de manipulação. A inteligência artificial segue dados fornecidos por nutricionistas e nutrólogos.

— Também estamos com foco no departamento de RH das empresas que querem oferecer a indicação aos funcionários — diz Rupen Kuyumjian, um dos fundadores da empresa, lembrando que o aporte inicial dos sócios foi de R$ 3,5 milhões e mais R$ 5,5 milhões serão injetados em breve.

O russo Michael Kapps, que estudou economia em Harvard, passou a trabalhar com saúde digital em 2014. Ano passado fundou a Vitalk, que com assistente virtual 24h dá suporte em situação de estresse e burnout ou problemas de relacionamento com colegas.

O atendimento é feito por conteúdos de voz e texto, baseados em inteligência artificial, com informações de psicólogos e terapeutas. No início de 2020 eram cinco clientes e hoje são quase oitenta empresas.

— A Vitalk recebeu em novembro aporte de R$ 24 milhões, liderado pela gestora de investimentos de impacto social Vox Capital, e participação de Goodwater Capital e Valor Capital— conta Kapps.

O Globo