O avanço da inteligência artificial e da digitalização em setores produtivos está acelerando a demanda por energia elétrica em todo o mundo. No Brasil, a tendência segue em crescimento, mas especialistas apontam que a estrutura atual da matriz elétrica apresenta sinais de esgotamento para atender a essa nova carga com eficiência, segurança e custo viável.
Durante o Congresso Energia 360 Alagoas, promovido pela Origem Energia, o painel “Data Centers e IA Generativa: desafios e tendências na demanda energética global” reuniu executivos e técnicos do setor para discutir os impactos da tecnologia sobre o consumo de energia e os desafios que surgem com a transição para um novo modelo de fornecimento.
O painel foi conduzido por Donato Filho, diretor-geral da Volt Robótica, que expôs as falhas operacionais da matriz elétrica tradicional e destacou o crescimento das energias renováveis, especialmente no Nordeste, como uma alternativa mais adaptável e economicamente viável para sustentar a expansão tecnológica do país.
Donato explicou que o avanço dos data centers e da inteligência artificial generativa demanda energia com alto grau de confiança e estabilidade, especialmente em horários de pico. Segundo ele, o consumo de energia associado à IA tem perfil irregular e difícil de prever, o que pressiona o sistema tradicional, baseado em geração hídrica e térmica.
O desafio se intensifica nos horários de transição entre manhã e fim da tarde. Donato apresentou dados que mostram que, em determinados dias de janeiro de 2025, o sistema precisou acionar até 28 mil megawatts de geração térmica em poucas horas para cobrir a redução da geração solar no fim da tarde, quando a demanda aumentava.
Esse tipo de operação, segundo ele, gera custos extras, exige acionamento de usinas com baixa flexibilidade e compromete uma previsão antecipada de preços para o mercado, consequentemente para o consumidor final.
A exposição de Donato mostrou que o modelo de operação do sistema elétrico brasileiro permanece praticamente inalterado há mais de duas décadas, mesmo com o crescimento das fontes renováveis. Isso tem gerado desequilíbrios no despacho de energia, formação de encargos e perdas financeiras.
Segundo ele, modelos matemáticos utilizados hoje para prever a geração hídrica e térmica não refletem com precisão as restrições reais de operação do sistema, o que obriga o operador a intervir manualmente para garantir o abastecimento. “Estamos operando com um modelo defasado diante de um consumo que muda rapidamente com as novas tecnologias”, disse.
Na comparação entre fontes, as energias renováveis, especialmente a eólica e a solar, têm se expandido com mais rapidez, sobretudo no Nordeste. Segundo Donato Filho, esse avanço se deve principalmente à modularidade dos projetos. “As eólicas captaram algo que a indústria do gás ainda precisa entender”, afirmou. “Elas são extremamente modulares. Cada componente é fabricado na fábrica e só montado no local. Isso reduz a exposição a riscos climáticos e permite que tudo seja instalado com rapidez”, explicou.
Essa forma de construção, segundo ele, permite que os parques eólicos sejam montados mais rápido e em diferentes tamanhos, de acordo com a necessidade de cada região. Isso torna os projetos mais fáceis de expandir e menos arriscados para quem investe, mesmo quando as regras do setor ainda não estão totalmente definidas.
Segundo dados apresentados no painel, as renováveis já ultrapassaram 90 GW de capacidade instalada no Brasil, e no Nordeste concentram mais de 85% da geração eólica nacional, ou seja, a região tem se destacado na geração solar feita por grandes usinas, conectadas diretamente ao sistema elétrico nacional, o que contribui para levar energia para todo o país.
Donato também explicou que é importante usar o gás natural como apoio nos horários em que as energias solar e eólica não dão conta da demanda. Mas, segundo ele, o setor de gás ainda não conseguiu funcionar com a mesma rapidez e flexibilidade que fizeram as usinas eólicas crescerem tanto no Brasil.