O centro de inovação e impacto Ilha Tech promoveu na quinta-feira, 26 de junho, o primeiro Ilha Pride. O evento gratuito, realizado em alusão ao Mês Internacional do Orgulho LGBTQIA+ (celebrado globalmente em junho e com seu dia internacional em 28 de junho) reuniu a comunidade, ativistas, especialistas e o público em geral para uma noite de celebração, reflexão e fortalecimento do protagonismo LGBTQIA+ no ecossistema de inovação.
Com o tema “Orgulho que ecoa em todos os espaços”, o Ilha Pride é um espaço seguro e plural que reforça o compromisso do Ilha Tech com a diversidade, inclusão e a construção de cidades mais humanas e igualitárias.
A noite teve início com a fala de abertura de Sevy Ramo, líder de comunidades do Ilha Tech, que destacou: “Falar sobre diversidade não é mais uma opção, é uma urgência. Toda pessoa LGBTQIAPN+ que ousa existir e liderar está, por si só, inovando o mundo”.
Ele destacou o Ilha Pride como uma endocomunidade do Ilha Tech, criada para fortalecer, conectar e impulsionar o protagonismo LGBTQIA+ dentro do ecossistema, promovendo encontros, formações e projetos com a diversidade no centro da inovação e do impacto social.
Um dos palestrantes do evento, o jornalista, podcaster e vencedor do Prêmio HBO Latin America de Jornalismo Inclusivo, Mateus Silomar, emocionou o público ao compartilhar sua trajetória na comunicação. Em um relato de força e vulnerabilidade, ele contou como superou o preconceito por ser um homem gay, afeminado e nordestino no jornalismo e se tornou uma referência.
“Disseram que eu não tinha perfil pra ser repórter. Hoje, tenho quase 14 anos de carreira, entrevistei Mariah Carey, fundei o Papo Pop Cast e ganhei um prêmio da HBO por uma matéria em áudio. A mesma voz que me diziam pra esconder foi a que me projetou na América Latina”, declarou, arrancando aplausos.
“Se eu olhasse essas opiniões e me definisse através dessas opiniões, eu não taria aqui, eu não taria aqui falando pra vocês, eu não taria sendo feliz no que eu tô fazendo de fato”, afirmou. “Não precisei mudar, não precisei me enquadrar em um padrão, empostar minha voz, eu não precisei disso, eu fui eu e deu certo“, disse Mateus.
Ele enfatizou a importância de ocupar espaços e ser referência: “Não tive referências de pessoas LGBT na minha carreira, na trajetória de vida, mas que bom que o mundo tá evoluindo, e políticas públicas melhorando, e a gente tá podendo ter espaços como o Ilha Tech, o Pride, o Mês do Orgulho, pra mostrar que estamos aqui”.
Silomar concluiu sua fala com uma mensagem de esperança: “Sonhos são reais e possíveis porque eu tô aqui né gente, e o melhor de tudo, eu sobrevivi”.
Na sequência, o psicólogo Jhonatan Felipe trouxe uma perspectiva essencial com a palestra “Entre a liberdade e o burnout: Desafios de ser LGBT+ nos espaços de trabalho”. Ele abordou como o trabalho, embora seja uma fonte de autonomia e liberdade, pode gerar ansiedade, depressão e burnout para a população LGBTQIA+, especialmente devido ao “estresse de minorias”.
“Essa independência vem com uma forte autocobrança, que pode levar a ansiedade, depressão ou burnout”, explicou Felipe. Ele destacou que 55% da população LGBTQIA+ relatou piora na saúde mental e impacto financeiro devido à perda de renda e redução de rede de apoio. Um estudo realizado no Sertão paraibano em 2023, inclusive, apontou que pessoas LGBTQIA+ apresentaram níveis significativamente maiores de estresse, ansiedade e depressão em comparação a heterossexuais, com agravamento entre pessoas trans e não binárias.
Jhonatan Felipe ressaltou os medos comuns que ampliam a autocobrança, como “não dar certo”, “ter que voltar pra casa dos pais” ou “não ter sucesso”, além da vigilância constante no ambiente de trabalho por medo de discriminação, que intensifica o desgaste emocional. Sua mensagem foi um convite à autenticidade: “É melhor bancar todos os desafios de ser você do que ser um personagem”. Ele incentivou a cultivar momentos de respiro, como a arte e a cultura, para lidar com a pressão.
O evento também contou com um painel simbólico e representativo sobre pertencimento, luta por direitos e ocupação de espaços políticos. Com falas marcantes de Dhell Félix (Presidente da ONG Iguais LGBT+), Ginaldo Figueiredo (Coordenador jurídico da Iguais LGBT e Presidente da Comissão de Diversidade Sexual da OAB-PB), além de Mateus e Jhonatan, o debate abordou a urgência da representatividade legislativa, os desafios enfrentados por corpos dissidentes e a ausência de proteção jurídica para a população LGBTQIAPN+ no Brasil.
“O Brasil é o país que mais mata travestis pelo décimo sexto ano. E, ainda assim, o debate segue focado em banheiros e não em vidas”, destacou Dhell Félix.
Já Ginaldo provocou: “Qual sociedade estamos construindo se ainda naturalizamos a violência nas escolas?”.
Dhell Félix alertou sobre a vulnerabilidade da comunidade LGBTQIA+ no Brasil: “Nós LGBTs não estamos protegidos, o estado não está preparado para nos proteger, tudo que nós temos não tem segurança jurídica, nada está amarrado, pois nada passou na Câmara Federal nem no Senado”.
O painel enfatizou a necessidade de a comunidade cobrar o poder público e escolher representantes que defendam seus direitos. “Já não basta sair do armário, a gente ainda sente o aperto psicológico do armário durante boa parte da nossa vida”, pontuou Sevy Ramo, líder de Comunidade do Ilha Tech. Ele reforçou que é preciso ser referência: “Se não tem referência, seja referência… conquistem, o espaço é nosso”.
O evento culminou com uma apresentação cultural vibrante da drag queen Sula Star, Top Drag Paraíba 2024, que celebrou a alegria e a pluralidade da comunidade.