A explosão demográfica projetada pela ONU para as próximas décadas não será apenas um fenômeno populacional ou uma análise de números; será um fator determinante e um catalisador de transformações profundas no mercado imobiliário global e, de maneira específica, no contexto brasileiro. O presidente do Sistema Cofeci-Creci, João Teodoro da Silva, reflete sobre as previsões e os dados demográficos divulgados pelas Nações Unidas, indicando que a população mundial se encaminha para 10,43 bilhões até 2080. Essas projeções precisam ser analisadas sob luzes que lançam sombras e oportunidades sobre o cenário imobiliário.
A crescente demanda por moradias é inevitável diante desse panorama demográfico. Segundo ele, esse crescimento, por sua vez, inflaciona os preços, criando barreiras adicionais ao acesso à propriedade para vastas camadas da população. Contudo, ele lembra também que os desafios que se apresentarão não se restringem à mera questão quantitativa; a tipologia construtiva enfrentará uma metamorfose substancial para acomodar as mudanças nas necessidades e padrões de vida.
A criação de bairros planejados, nos quais serviços essenciais estejam a uma curta distância a pé, surge como uma resposta inovadora e necessária à demanda crescente, destaca: “Essa evolução deverá redefinir, paulatinamente, a paisagem urbana, desafiando, inclusive, os atuais conjuntos habitacionais a se reinventarem, para evitar a formação de guetos condominiais, exacerbando as disparidades sociais e isolando ainda mais as populações de baixa renda”.
O Brasil, com previsão de aproximadamente 270 milhões de habitantes em 2080, enfrentará um desafio complexo e multifacetado em seu mercado imobiliário. Regiões já cobiçadas, abençoadas por praias paradisíacas e outros atrativos, não escaparão dessa dinâmica. JT lembra que já se observa um interesse crescente não apenas de brasileiros abastados, mas também de investidores estrangeiros que vislumbram oportunidades nessas localidades privilegiadas.
Depois de trazer esse recorte sobre o Brasil, o presidente do Cofeci-Creci analisou também a situação global, lembrando que as regiões de alta densidade demográfica, como Ásia e África, deverão enfrentar desafios distintos em comparação com nações com populações declinantes, como Japão e alguns países europeus: “O excesso de moradias e os dilemas associados à manutenção da infraestrutura se tornarão cruciais nesses cenários, gerando a necessidade de adaptação e inovação em termos de construção e infraestrutura, principalmente em áreas de alta concentração populacional.
A interseção entre a explosão demográfica e as transformações no mercado imobiliário não é apenas uma questão de números, mas uma reflexão sobre a sustentabilidade, equidade e eficiência nas configurações urbanas futuras, enfatiza João Teodoro. A inteligência e a tecnologia integradas tornam-se imperativas, enquanto fontes de energia sustentável assumem uma posição central na busca por soluções viáveis.
Ao abordar as projeções demográficas futuras, João Teodoro leva em consideração o cenário global em transformação, evidenciado pelo declínio populacional previsto para o ano de 2100. Tal mudança já é observada na China, cuja população está em declínio, em contraponto ao crescimento populacional da Índia, que projeta ultrapassar 1,53 bilhão de habitantes em 2080, superando os 771 milhões da China. Ele também lembra e coloca no contexto a preocupação revelada pelo Secretário Geral da ONU, António Guterres, com a insegurança alimentar, desemprego e crises climáticas que acentuam uma pergunta crucial: até onde o planeta Terra suportará essa expansão? Dependendo dos padrões de consumo, o atual cenário demandaria não apenas todo o planeta, mas mais 75% dele. Em termos atuais, a capacidade da Terra de sustentar a vida está limitada a 4,75 bilhões de pessoas. A disparidade entre o consumo real e a capacidade de suporte é evidenciada pelo impacto, onde, se todos consumissem como no Catar, seriam necessários 9 planetas Terra; nos EUA, 5,1 terras; e no Brasil, 1,6 planeta Terra.
O consumo médio por cabeça só aumenta. Não há solução plausível no curto e médio prazo. Daí o surgimento de teorias da conspiração, como a de que o vírus da covid-19 teria sido criado em laboratório, para diminuir a população mundial. Enfim, a população continuará crescendo, ainda que mais lentamente, até 2080. Que efeitos isso provocará no mercado imobiliário mundial e no Brasil, reflete João Teodoro.
Ele finaliza suas reflexões salientando que a convergência desses fatores e cenários impõem desafios, mas por outro lado, oportunidades significativas, tanto no cenário global quanto no brasileiro. “O caminho adiante requer uma abordagem proativa, inovadora e colaborativa para moldar um futuro urbano que seja resiliente e evolutivo diante das mudanças demográficas, além de social e ambientalmente responsáveis”.