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Incelenças – Cantos de Caiana… Mestra Cida espera que documentário abra portas do local para a cultura: “quem sabe agora não gravam uma novela aqui”
19/12/2024 / 16:20
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Filme paraibano resgata cantos fúnebres da comunidade quilombola de Caiana dos Crioulos

O som dos cânticos fúnebres da comunidade quilombola de Caiana dos Crioulos, em Alagoa Grande, no interior paraibano, ganha destaque no curta-metragem “Incelenças – Cantos de Caiana”. E a Mestra Cida é a personagem principal desse filme. Ela destaca a importância que a gravação tem para o local. A preparação vocal e mobilização dos moradores são alguns dos fatores que chamaram sua atenção. Contudo, ela espera que a película possa abrir as portal do mundo cultural para a região: “quem sabe agora não gravam uma novela aqui”, resume.

Dirigido por Dina Faria e produzido pela Tuia Filmes, o filme resgata uma tradição oral que atravessa gerações e que, com o passar do tempo, corria o risco de se perder. A obra celebra a memória e a resistência cultural de um povo, trazendo à tona a força de uma prática ancestral marcada pelo luto, fé e união.

E a Mestra Cida é uma das guardiãs mais respeitadas da cultura popular paraibana. Reconhecida por sua atuação em manifestações como a ciranda e o coco de roda, Mestra Cida também é personagem do livro “Na Embolada do Coco” e, agora, estrela do documentário que eterniza os cânticos conhecidos como Incelenças.

As Incelenças: cânticos de memória e despedida

Mestra Cida explica o significado profundo dessas práticas: “As Incelenças são uma cultura viva dos nossos antepassados. Quando alguém falece, a comunidade se reúne para rezar a noite toda, em um ato de despedida e homenagem. Esse filme será uma lembrança eterna, para que as novas gerações não deixem essa tradição morrer.”

Esses cânticos são entoados em vigílias funerárias, em um misto de reverência e resistência. Segundo a Mestra, a obra é uma resposta à necessidade de preservar e dar visibilidade às tradições locais: “Sempre quis que alguém viesse registrar essa nossa cultura, mas nunca acontecia. Agora, graças a Deus, esse filme foi feito, e vai ficar para sempre”, frisa.

A força feminina no projeto

Além de Mestra Cida, a cantora paraibana Sandra Belê teve um papel crucial no filme. Sua participação incluiu a realização de oficinas vocais com os moradores da comunidade e o elenco, trabalhando a interpretação dos cânticos e ajudando a todos compreenderem algumas nuances emocionais.

Foi uma preparação muito boa, até para outros trabalhos que fazemos, como a ciranda e o coco de roda. Essa experiência vocal vai nos servir, inclusive, para melhorar nossa forma de cantar os cocos,” destaca Mestra Cida.

O filme ainda conta com a participação de outras mulheres como a direção de Produção de Wéllima Kelly; direção de Fotografia de Natália de Lorenzo; desenho de som e mixagem de Luana Flores; e Gi Ismael na Montagem, pesquisa, still e Making off. Além disso, acompanham Mestra Cida no elenco Maria Letícia e Elza Ursulino.

Impacto cultural na comunidade

Mestra Cida observa que o projeto despertou nos moradores, especialmente nos mais jovens, uma nova valorização pela riqueza cultural local.

“Às vezes, quem é da comunidade não dá tanto valor ao que tem aqui, mas ver pessoas de fora vindo registrar e apreciar tudo isso nos faz perceber a importância da nossa cultura.”

Ela também fez questão de elogiar a atuação da diretora Dina Faria na cena cultural paraibana: “Ela chegou há pouco tempo, mas já fez mais por nós do que muita gente que está aqui há anos. Dina valoriza nossa história de um jeito único, e esperamos que mais pessoas sigam o exemplo dela,” afirma Mestra Cida.

Uma janela para o futuro

“Incelenças – Cantos de Caiana” vai além do registro histórico. Para Mestra Cida, o filme é uma porta aberta para novas possibilidades culturais em Caiana: “Quem sabe, depois deste documentário, não venham fazer uma novela aqui? Precisamos de mais projetos culturais para trazer benefícios para nossa comunidade.”

O filme será lançado neste mês de dezembro, durante a programação do Natal na Usina. Sua abordagem sensível e sua celebração das raízes da cultura negra vai resgatar e pontuar na história toda a diversidade de nosso povo que não pode ser apagada.