O presidente Lula (PT) se reuniu no fim de semana em SP com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e com um grupo de economistas de dentro e de fora do governo que o alertaram sobre a possibilidade de uma forte alta da inflação já nos próximos meses caso o dólar siga disparando. A subida da moeda norte-americana encarece a compra de produtos e insumos importados e tem impacto direto nos preços brasileiros.
Diante do cenário adverso, Lula foi aconselhado a moderar suas falas para não dar combustível à crise —o dólar chegou a superar R$ 5,70 na terça (2). Estavam no jantar na casa de Haddad, entre outros, os economistas Guido Mantega, Luiz Gonzaga Beluzzo, Luciano Coutinho e Eduardo Moreira.
De acordo com um dos integrantes da conversa, que reuniu expoentes do chamado desenvolvimentismo, Lula está “justamente indignado” com o que seria um movimento especulativo contra seu governo –e com a tentativa de fazer a corda do ajuste fiscal estourar no lado mais fraco. Ou seja, o da população mais pobre. Por isso o presidente estaria repetindo em entrevistas que não se dobrará a essa receita. O petista, no entanto, foi aconselhado a baixar o tom de suas críticas ao mercado e ao Banco Central.
Melhor do que falar, aconselharam os economistas, seria fazer de forma mais discreta o que ele tem repetido: preservar o salário mínimo, as aposentadorias e benefícios e a área da saúde e da educação de cortes e alterações de cálculos que diminuam seus reajustes.
O grupo, de acordo ainda com convidados, não vincula a subida do dólar apenas às falas de Lula —mas também a fatores fora do controle dele, como a alta dos juros norte-americanos, por exemplo.
Os economistas ponderam, no entanto, que o tom agressivo do presidente impulsiona a crise. E teria o efeito contrário ao pretendido por ele: a alta expressiva da inflação minaria a sua capacidade de justamente proteger a população mais vulnerável. O Banco Central teria que retomar a alta dos juros. O petista ficaria encurralado, com popularidade em queda e margem reduzida para atuar.
O presidente ouviu do grupo que, ao fim e ao cabo, o que mais interessa de forma imediata para a população é o preço dos produtos na gôndola do supermercado. As projeções já indicam inflação de 12,5% no fim de 2025, contra o patamar atual de 10,5%.
Sem estabilidade na inflação, todas as outras realizações do governo, que Lula defende com entusiasmo nos encontros, não seriam mais valorizadas.
Com informações da coluna Mônica Bergamo/Folha de São Paulo