O jogo de futebol e a religião são ritualidades que envolvem e revelam aspectos culturais e organizacionais de diversas sociedades antigas e contemporâneas. O esporte onde povos de diferentes crenças se relacionam, muitas vezes é confundido como um mundo a parte da sociedade.
Nos últimos tempos, tornou-se corriqueiro atletas de futebol demonstrarem sua fé, seja através de redes sociais, entrevistas ou até mesmo dentro de campo. Entretanto, na mesma proporção do crescimento desse tipo manifesto, também fez-se comum o número de casos de jogadores que sofreram, ou ainda sofrem, com restrições e sanções devido a exposição do seu credo.
CASO DE INTOLERÂNCIA NO FUTEBOL NORDESTINO
No ano de 2017, quando defendia as cores do Bahia, o volante Feijão, que teve uma breve passagem pelo Flamengo, ao fazer um post no seu Instagram pessoal, onde agradecia a Ogum pela oportunidade de ser jogador de futebol, sofreu críticas severas e de cunho preconceituoso por torcedores.
Frases como “ que diabo de Ogum, por isso que não vai pra frente”, “ô seu macumbeiro, não venha pra cá tirar sua onda não que eu não como regue de você sua carniça. Saia do Bahia miséria”. Ao UOL esporte, o volante lamentou o acontecido e disse respeitar todas as religiões.
Posterior a entrevista de Feijão, e a repercussão nacional do caso, torcedores do Bahia saíram em defesa do prata da casa.
“Quer discutir religião? Me diz onde está escrito que só a sua salva? Me fala em que você se baseia para criticar uma religião? Me dê argumentos contundentes para que eu aceite o fato de você ter cometido um crime chamado preconceito religioso.” disse uma torcedora.
JOGADOR VIRA SÍMBOLO DA LUTA CONTRA A INTOLERÂNCIA RELIGIOSA
Um caso popularmente conhecido é o do atacante Paulinho, cria do Vasco e hoje no Atlético-MG, que virou símbolo da luta contra a intolerância religiosa no esporte. Declarado “filho de Oxóssi”, o orixá caçador, Paulinho é seguidor do Candomblé, mas conhece bem também a Umbanda, religiões de matrizes africanas, às quais foi apresentado pela mãe e pela tia.
Em entrevista ao GE, em 2021, o brasileiro disse acreditar que os jogadores, com o poder e potencial midiático que possuem, são peças fundamentais no combate à intolerância.
“Creio que a gente pode, como pessoas que têm palavras públicas, ajudar a combater esse preconceito, seja nas redes sociais ou na televisão”
Vale lembrar, que na estreia da seleção brasileira nas Olimpíadas de Tóquio, em 2021, o jogador ao balançar as redes, comemorou simulando atirar uma flecha em homenagem ao orixá Oxóssi, do candomblé. Depois, na sua rede social, Paulinho escreveu: “Okê Arô! Saravá meu Pai”.