Quando passamos por ruas de João Pessoa sem aquela pressa do dia-dia, começamos a observar detalhes de nossa Capital, que antes não percebíamos, principalmente no centro histórico onde tudo começou. Nas ruas, casas, praças, Hotel Globo, igrejas e em outros prédios, a influência do exterior visualmente é muito evidente. Tudo isso, porque a maioria das construções são dos séculos XVII e XVIII, com belas amostras dos estilos barroco (que é oriundo da Itália), rococó (que surgiu na França), maneirista (que se popularizou na Itália) e art nouveau (surgido na França). Hoje, o Centro Histórico de João Pessoa é Patrimônio Cultural e Artístico do Brasil.
Fundada em 1585, como Nossa Senhora das Neves, João Pessoa é a terceira capital mais antiga do Brasil e a cidade começou a se desenvolver nas margens do Rio Sanhauá, afluente do Rio Paraíba, no atual bairro Varadouro. Por aqui, os portugueses foram os primeiros a chegarem e fundaram a cidade. Além deles, também fez parte da colônia Nova Holanda, resultado da invasão holandesa no século XVII, que teve o intuito de colonizar grande parte do Nordeste brasileiro. Os holandeses também invadiram e ocuparam João Pessoa em 1634. Ou seja, a influência internacional em “Jampa”, vem lá do início de tudo.
Uma fatia da Itália em João Pessoa
Ao longo dos anos, várias famílias vieram para cá, de diversos países do mundo. E como a gente sabe, João Pessoa acolhe quem vem de fora, e, quem chega, não quer mais sair. Foi assim com a Família Muccini. Vindos da região de Oltrepo, do povoado de São Sisto, na Itália, os primeiros “Muccinis”, chegaram ao Brasil durante a imigração que ocorreu em 1877, onde se instalou no Sul. Na década de 90, mais precisamente em 1991, parte da tradicional família veio para a Paraíba, empreender e trazer um pouco dos sabores especiais da Itália para a capital paraibana.
“A gente vem dessa sucessão de gerações. Eu era funcionário do Banco do Brasil no Rio Grande do Sul e tinha três filhos. Desde criança eu tenho asma e esse problema, os dois filhos herdaram. Os médicos sempre me diziam: ‘vocês têm que ir morar no Nordeste’; porque no inverno lá (região Sul), uma semana um filho estava no hospital e quando saía, entrava o outro filho”, contou, Marcos Mozzini. O proprietário dos restaurantes contou ainda que não pensou duas vezes e começou a procurar uma cidade que tivesse vagas no Banco em que trabalhava e conseguiu em Campina Grande.
Com a vinda para a Rainha da Borborema, ele abriu um restaurante italiano com um sócio em Campina Grande. O sucesso da Sapore D’Itália foi tão grande que, em cinco anos, abriram cinco restaurantes.
Em 1997, Marcos precisou tomar uma decisão, após o fechamento do centro de processamento no banco em que atuava. Ele seria transferido para o Rio de Janeiro, Brasília ou São Paulo, mas decidiu ficar.
“Eu não queria ir mais embora, já tinha sido contaminado pela Paraíba, já estava com a Paraíba no sangue”
Junto com a esposa, que é a chefe de cozinha dos restaurantes, Silvana Mozzini, vieram para João Pessoa e, a mais de 30 anos, os restaurantes, Famiglia Muccini e Sapore D’Italia, trazem uma mistura do sabor do exterior com uma pitada do tempero nordestino.
Talissa Mozzini, filha do Marcos, agora é quem está tomando a frente dos restaurantes. Ela contou ao F5 Online um pouco dos desafios de dar continuidade ao sabor italiano com uma pitadinha paraibana.
“Nosso público são as famílias, nós somos um restaurante de tradição, mas queremos trazer um pouquinho de inovação, tentando balancear a inovação com a tradição.” Talissa ainda falou que quer causar experiências marcantes na vida das pessoas, além de trazer lembranças com um sabor único.
“A gente trouxe a nossa carga, nossa cultura, mas ela foi totalmente adaptada pra cá. Temos muitos pratos, pizzas em homenagem a essa terra que nos acolheu, a Paraíba”.
Em 2015, uma dupla de africanos cantando hip hop, agitou o programa Super Star da Globo. O sucesso foi tão grande que a banda, Dois Africanos, foi finalista daquela edição. O que pouca gente sabe, é que a formação dos Dois Africanos aconteceu em João Pessoa.
Os cantores não se conheciam e vieram da África para participar de um intercâmbio na Universidade Federal da Paraíba. Opai BigBig é natural do Benin e Izy Mistura, do Togo. Os dois já cantavam hip hop em seus países de origem, e o encontro aconteceu em uma das salas da UFPB, quando eles estavam aprendendo a falar português.
A professora Alexia Eloar foi uma grande parceira dos artistas na UFPB e contou um pouco ao F5 sobre o surgimento dos Dois Africanos. “Na sala mesmo, Big e Izy estavam sempre cantando, levavam violão para sala, todos cantavam, participavam das atividades. Eu sempre levava para as aulas esses artistas daqui, sempre foquei em referências da cultura independente (Escurinho, Chico Cézar, Beto Brito, algumas bandas independentes da época) para as aulas, que muitas vezes saiam inclusive da universidade, íamos para Bica, para o Centro Histórico e outros lugares.”, afirmou, Alexia.
Em entrevista exclusiva ao F5 Online, Opai BigBig e Izy Mistura falaram sobre a experiência vivida em João Pessoa.
“Somos dois africanos da Paraíba”
“A gente começou em João Pessoa, tínhamos tudo para se encontrar lá, mas o destino quis que fosse aqui, Paraíba, em João Pessoa.”, contou Izy.
A professora Alexia foi a responsável pelo primeiro show deles. O detalhe, é que eles não tinham nenhuma música para o show, até que começaram a criar. “Meu companheiro, Diego, começou a produzir as artes para CD, camisetas, procurávamos fazer shows e participações, principalmente no Espaço Mundo (espaço independente muito forte na época, que sempre foram ‘parceirões’, infelizmente hoje não existe mais). Assim, conseguimos produzir muita coisa! Músicas, identidade visual, clipes, aumentar essa rede, conhecer muita gente, participar de eventos muito legais!”, disse a educadora.
Depois disso, ela conseguiu inscrever a banda no Super Star da Rede Globo, onde o grupo foi finalista.
“João Pessoa é um lar, uma casa, um lugar onde a gente sente um aconchego”
A frase acima, foi dita pelo Izy Mistura e o Opai concluiu dizendo: “Enquanto eu estiver no Brasil, eu sinto mais saudades de João Pessoa do que meu país”
“João Pessoa é nossa casa no Brasil”
Atualmente eles moram em São Paulo e seguem levando música para todo o Brasil. Seguem produzindo com estúdio próprio e participam como jurados em um programa de televisão.
Brasil e Argentina são eternos rivais, pelo menos no futebol. Deixando o esporte de lado, os dois países têm uma, das muitas coisas em comum: pessoas que saem de um país para o outro em busca de um futuro melhor. O Argentino Ricardo Ponce já pode ser considerado um paraibano e pessoense de coração. Casado com uma paraibana há 27 anos, Ricardo começou a história de amor na praia de Pipa no Rio Grande do Norte. No estado vizinho, ele abriu a primeira pizzaria e foi um sucesso. Precisou mudar-se para João Pessoa devido a enfermidade de sua sogra, visto que ela precisava de cuidados especiais. E como uma coisa leva a outra, o Ricardo passou a trabalhar na capital paraibana em uma rede de hotelaria na área da gastronomia.
O argentino que faz comida árabe em João Pessoa. Essa parece até uma história de filme, mas é justamente o que acontece. O Maktub, localizado na avenida Sapé, no bairro Manaíra, surgiu em meados de 2020, isso mesmo, no período inicial da pandemia da Covid-19.
Ao F5, Ricardo contou que se especificou em gastronomia do oriente médio e a partir disso, surgiu a oportunidade de ser sócio de um restaurante Árabe.
Hoje, o Maktub é considerado por um do sites gastronômicos mais populares do mundo, Restautant Guro, o melhor restaurante da Capital, além de ser o restaurante melhor avaliado no Google.
“Eu estudei a gastronomia mediterrânea, que se caracteriza por usar ingredientes frescos, e aqui trabalhamos com os perfumes, com a sensações. Na nossa horta, são sete ervas diferentes, então, quando a gente senta para fazer uma degustação aqui, você tem perfumes e sabores que são únicos”, afirmou, Ricardo.
Sobre João Pessoa, o argentino disse:
“quem não conhece, que venha, quem conhece, que fique, porque é um dos melhores lugares para se morar”
João Pessoa chega aos seus 438 anos e, mesmo sendo a capital do nordeste com menos influência internacional, faz com que os turistas sintam vontade de ficar, e os que já estão, não queiram sair. Assim, concluímos que João Pessoa é rica não só em beleza, mas em diversidade, abraçando e acolhendo todas as culturas, e claro, convencendo-as que mistura é bem melhor.