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Jovem paraibano vence prêmio em festival de dança na Alemanha
18/05/2021 / 16:18
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O professor Geovan da Conceição, do Centro Estadual de Arte (Cearte), conquistou, nesse domingo (16), o segundo lugar no 25º Festival Internacional de Dança de Stuttgart, na Alemanha, edição 2021.

O bailarino disputou com cerca de 300 artistas de todo o mundo inscritos no Internationales Solo-Tanz-Theater Festival Stuttgart, considerado um dos maiores festivais de dança do mundo, construindo uma coreografia a partir de sua própria experiência de violência, dor e superação.

“Basicamente eu narrei a minha infância na comunidade da Citex, um lugar violento na década de 1990. Lá, presenciei homicídios e perdi parte da minha família. Era pobreza extrema. Eu vi muita coisa ruim e de certa forma isso mexe muito comigo até hoje”, comenta.

Geovan lembra que a família era desestruturada. O pai era traficante e vivia agredindo a mãe. Ele viu um dos tios assassinando um rapaz em sua frente e outro tio foi assassinado. Essa violência, de forma lúdica, está na apresentação.

Foto: Divulgação

“São cenas que a gente não esquece. Essa ferida para mim não sara. Então eu quis trazer toda essa parte sentimental para dentro da minha coreografia, o que não foi fácil, porque retratava muita violência. Foi muito doloroso, tanto fisicamente, porque tive que fazer movimentos bem pesados, complexos, com muita batida, muita pancada, mas também mentalmente por ter que relembrar tudo que me aconteceu. Por muitas vezes chorei montando a música, até que ela fosse ideal. Eu pensava que tinha que ser uma música visceral que mostrasse bem a realidade. Graças a Deus, eu consegui dentro do Festival repassar isso para os jurados e para o público”, explica.

Toda essa história de violência caminhou para o sucesso só depois de algumas viradas na vida.

Aos sete anos, Geovan teve a primeira virada, quando a avó dele o tirou de casa e o colocou em um abrigo, em Bayeux, região metropolitana de João Pessoa: o abrigo Morada do Betinho. Lá, começou a brecha para uma nova realidade.

Experiência no Bolshoi

Aos 11 anos, surgiu um chamado: a seleção para o Bolshoi. Mais de 64 mil crianças ficaram interessadas, mas Geovan acabou selecionado entre os 20 melhores e passou por mais uma seletiva em Joinville, Santa Catarina, quando ficou entre os 10 que de fato ganhariam a bolsa.

Ele passou oito anos em estudo e lá conheceu diversos profissionais, entre eles nomes renomados do Balé Bolshoi como Vladimir Vasiliev e Ekaterina Maximova. Teve aulas de flauta, piano, coral, danças populares, danças clássicas, contemporânea, dueto, repertório e muitos outros cursos.

Ao final do processo, em 2011, retornou para João Pessoa, pois sentia que precisava ajudar a mãe. Construiu uma casa para ela e hoje mora próximo.

Foto: Divulgação

Em 2012, começou a trabalhar no Cearte. A diretora da instituição, Laura Moreno, se mostrou exultante com a conquista de Geovan.

“Ele faz um recorte da vida dos jovens nos bairros de contextos vulneráveis da cidade, que é o que acontece com a maioria deles, ficam sem rumo e sem opção, são provocados e capturados para a destruição, em consequência da desigualdade, da violência e da discriminação. Ele é muito talentoso, teve a oportunidade da formação e fez sempre o melhor com isso”, diz Laura.

Para Geovan, o que aconteceu com ele foi um milagre. “Entre uma em um milhão, uma pessoa consegue conquistar as coisas que eu estou conquistando na vida e ter uma mudança radical como eu tive”, diz.

“No festival não foi fácil, eu recebi a proposta e eu treinei muito, me dediquei muito. Criei a coreografia, fui à pessoa que preparou e editou a música. Não tive coreógrafo, poucas pessoas me ajudaram. A grande parte fui eu que fiz. Não foi fácil. Foram alguns meses e muitas madrugadas acordando e mexendo na coreografia e na música. E hoje, recebendo um prêmio num dos maiores festivais de dança do mundo… ainda não absorvi, é muito bom. Vai me dar visibilidade. Vai mostrar a nossa Paraíba. Eu fui o único brasileiro selecionado, então não estou representando só a Paraíba, mas também o Brasil. Mas, obviamente, eu dou crédito à minha cidade e ao estado, porque sou daqui e gosto demais dessa cidade. É um prêmio que é nosso!”, comemora.