DANIEL CARVALHO
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Um dia depois de os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministro Luís Roberto Barroso, reagirem às ameaças golpistas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao processo eleitoral e democrático do país, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), rompeu o silêncio, mas sem criticar a postura do aliado.
“Nossas instituições são fortalezas que não se abalarão com declarações públicas e OPORTUNISMO. Enfrentamos o pior desafio da história com milhares de mortes, milhões de desempregados e muito trabalho a ser feito”, escreveu Lira em uma rede social neste sábado (10), destacando a palavra “oportunismo”.
“Em uma hora tão dura como a que vivemos hoje, saibamos todos que o Brasil sempre será maior do que qualquer disputa política. Tenhamos todos, como membros dos poderes republicanos, responsabilidade e serenidade para não causar mais dor e sofrimento aos brasileiros”, seguiu o presidente da Câmara.
O presidente da Câmara é o responsável, por lei, por decidir sobre o arquivamento ou a sequência de pedidos de impeachment contra o presidente da República. Aliado de Bolsonaro, Lira tem em sua gaveta mais de cem pedidos, mas tem dito não ver razão para dar prosseguimento a nenhum deles.
Em sua primeira manifestação neste sábado, por redes sociais, Arthur Lira disse que a Câmara “avançará nas reformas, continuará a ser o Poder mais democrático e plural do país e não se deixará levar por uma disputa que aprofunda ainda mais a nossa crise”.
“A Câmara será sempre a voz de um povo livre e democrata e sempre estará pronta para ajudar o Brasil a continuar a crescer e se encontrar com seu destino de país desenvolvido e socialmente justo”.
A sequência de tuítes do presidente da Câmara encerra dizendo que seu compromisso é com o crescimento e a estabilidade do país.
“Deixemos que o eleitor tenha emprego e vacina, que deixe o seu veredito em outubro de 2022 quando encontrará com a urna; essa sim, a grande e única juíza de qualquer disputa política. O nosso compromisso é e continuará sendo trabalhar pelo crescimento e a estabilidade do país”, escreveu.
A declaração de Arthur Lira vem na esteira de declarações de Bolsonaro, que afirmou que as eleições podem simplesmente não ocorrer caso não haja um sistema confiável -segundo ele, o voto impresso.
A escalada golpista acontece em um contexto de pesquisas de opinião que apontam picos de rejeição e amplo favoritismo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2022, Bolsonaro subiu o tom de suas ameaças golpistas e, sem apresentar provas, insiste que haverá fraude no ano que vem e que o resultado já estaria definido.
Após as manifestações de Bolsonaro, os presidentes do Senado e do TSE vieram a público.
Em entrevista, Pacheco subiu o tom e afirmou que não aceitará retrocessos à democracia do país, em resposta também às manifestações de militares sobre a CPI da Covid.
Dois dias atrás, o ministro da Defesa, Braga Netto, e os comandantes das Forças Armadas divulgaram uma nota na qual repudiavam declarações feitas pelo presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), sobre os militares sob investigação e na mira da comissão.
Já Barroso afirmou em nota que qualquer tentativa de impedir a realização de eleições em 2022 “configura crime de responsabilidade”.
Também neste sábado, presidentes de oito partidos de direita, centro-direita e esquerda divulgaram uma carta afirmando que não aceitam nenhuma forma de ameaça à democracia.
O texto, assinado pelos comandos de DEM, MDB, PSDB, Novo, PV, PSL, Solidariedade e Cidadania, também indica confiança no atual sistema eleitoral brasileiro.
“A democracia é uma das mais importantes conquistas do povo brasileiro, uma conquista inegociável. Nenhuma forma de ameaça à democracia pode ou deve ser tolerada. E não será”, diz a carta.
A manifestação segue dizendo que, nos últimos 30 anos, o Brasil acompanhou muitos embates políticos, mas sempre houve “salutar alternância de poder, soubemos conviver com as diferenças e exercer com civilidade e responsabilidade o sagrado direito do voto”.
“Temos total confiança no sistema eleitoral brasileiro, que é moderno, célere, seguro e auditável. São as eleições que garantem a cada cidadão brasileiro o direito de escolher livremente seus representantes e gestores. Sempre vamos defender de forma intransigente esse direito, materializado no voto”, diz o texto.
A carta termina afirmando que “quem se colocar contra esse direito de livre escolha do cidadão terá a nossa mais firme oposição”.
Assinam o texto ACM Neto (DEM), Baleia Rossi (MDB), Bruno Araújo (PSDB), Eduardo Ribeiro (Novo), José Luís Penna (PV), Luciano Bivar (PSL), Paulinho da Força (Solidariedade) e Roberto Freire (Cidadania).
As manifestações de Lira e dos dirigentes partidários foram divulgadas no momento em que o presidente começava um passeio de moto com apoiadores em Porto Alegre.