SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Desde que a pandemia de Covid-19 afetou o fluxo de clientes nas lojas, comerciantes testam formas de vender a distância. A live commerce, também chamada de live streaming ou live shop, aparece entre as novidades.
A plataforma une os formatos dos vídeos transmitidos ao vivo pela internet, as lives, dos canais de compra na televisão e a estrutura do comércio eletrônico para divulgar produtos, promover vendas e gerar maior interação com o consumidor.
Ela é realizada em plataformas específicas preparadas para o modelo, em serviço que pode ser contratado de consultorias do setor. Em troca, elas costumam cobrar um percentual das vendas.
O internauta vê na tela ao mesmo tempo o apresentador exibindo os produtos e fotos dos itens com os preços. Caso se interesse, pode tirar dúvidas via chat, adicionar o produto ao carrinho virtual e fazer o pagamento, tudo sem deixar a transmissão.
A plataforma lembra a de canais de televendas como o Shoptime. Mas não é preciso ligar para comprar os itens que aparecem no vídeo.
“Tudo acontece no mesmo ambiente digital: a apresentação dos produtos, o chat para esclarecer dúvidas dos consumidores e as vendas”, diz Ivan Tonet, analista de relacionamento com clientes do Sebrae.
O formato, na opinião do especialista, tem potencial para deslanchar no Brasil e pode ajudar micro e pequenos negócios a sobreviver ao período de portas fechadas durante a pandemia.
A live commerce tende a ter taxa de conversão de vendas superior à das transmissões ao vivo pelo Instagram ou Facebook, segundo o analista.
Isso porque nas redes sociais é preciso haver uma troca de mensagens para fechar o pedido e liberar o link de pagamento. Na plataforma de live commerce, a compra é feita diretamente pelo canal, sem intermediários.
Quando decidiu testar o formato, Itamar Cechetto, 48, presidente da Laces and Hair, até pensou em utilizar o site da rede de salões especializada em tratamentos para o cabelo. Mas mudou de ideia diante da infraestrutura exigida.
“Apesar de termos um ecommerce sólido, não dispomos de toda a tecnologia para fazer a live e vender ao mesmo tempo”, conta.
Ele procurou, então, a Mimo, plataforma de live commerce inaugurada em 2020 pelas empresárias Monique Lima, Etienne Du Jardin e Angel Vasconcelos. Coube a elas a roteirização, a filmagem, a transmissão e a integração com o sistema de ecommerce da marca.
No evento de estreia, em janeiro passado, Itamar vendeu para quase 30% do público que acompanhou a transmissão.
Os produtos foram apresentados por sua esposa, a cosmetóloga Cris Dios, 48, filha da fundadora da marca, e pela influenciadora digital do setor Ju Ferraz.
“É uma conversão muito alta, principalmente se comparada à do comércio eletrônico, que fica entre 1% e 2%”, afirma o empresário. Em 90 minutos, ele diz ter vendido o equivalente a 25% de um dia da loja online.
Cechetto repetiu a ação algumas semanas depois e percebeu que o evento trouxe mais de 80% de clientes novas, que não estavam cadastradas no salão.
Segundo Monique Lima, da Mimo, são “early adopters”, mulheres que já participaram de live commerce de outras marcas e que gostam desse método de compra.
A consultoria recebe de 10% a 20% do valor faturado na live. Também prepara um sistema de assinatura mensal, que permitirá agendar e realizar quantas transmissões o cliente desejar.
A lista de espera da Mimo já soma 400 empresas, segundo a sócia Du Jardin. “Como hoje oferecemos uma assessoria completa, só conseguimos ter uma live por dia. Para crescer e dar autonomia aos clientes, estamos preparando um curso digitalizado completo e sem custo.”
De olho no mesmo mercado que a Mimo, a 4Show tem um modelo de negócio diferente. Ela não produz roteiro e nem indica influenciadores digitais. Apenas hospeda as lives, garantindo a transmissão e a exibição dos produtos.
Como a 4Show oferece um serviço de compra online, atende as marcas que não têm comércio eletrônico próprio.
Rogério Nath Corrêa, fundador da 4Show, conta que a empresa nasceu em janeiro. Foi inspirada em sua experiência montando, às pressas, um live commerce para uma marca de sapatos que precisava divulgar seus lançamentos em meio à pandemia. Hoje, ele tem 50 clientes.
A 4Show oferece dois modelos: a live única, para o empresário testar a ferramenta, e a assinatura, que permite 120 minutos de transmissão ao vivo por mês.
O primeiro custa uma taxa mínima de R$ 299 ou um percentual de 1% a 2,5% das vendas efetuadas, o que for maior. A assinatura sai a partir de R$ 299 por mês mais 2% do faturamento dos eventos.
Corrêa diz esperar que o live streaming seja tão bem-sucedido no Brasil quanto na China, pioneira no formato. Lá, as vendas nessa plataforma teriam somado 961 bilhões de iuanes (R$ 806 bilhões) em 2020, segundo estimativa da empresa chinesa iiMedia Consulting.