JOÃO PEDRO PITOMBO E JOÃO VALADARES
SALVADOR, BA, E RECIFE, PE (FOLHAPRESS) – Depois uma série de encontros com líderes políticos em Brasília e no Rio de Janeiro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai desembarcar em julho para um périplo entre estados do Nordeste com objetivo de reencontrar antigos aliados e buscar novas parceiras mirando a eleição de 2022.
A expectativa é de que o tour pela região aconteça em duas etapas, começando ainda na primeira quinzena de julho.
“Serão conversas políticas, sem relação com eleição. O presidente Lula quer debater sobre desenvolvimento regional, o combate à fome e a luta por vacinas”, afirma Márcio Macêdo, vice-presidente nacional do PT.
Além de alinhar o discurso com a base e motivar a tropa de militantes, a viagem também tem como objetivo estreitar as conversas com potenciais aliados na região.
Líderes locais do PSB e MDB serão os principais alvos. Os dois partidos se distanciaram do PT nos últimos anos e apoiaram majoritariamente o impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT) em um processo que deixou feridas abertas pelo caminho.
No PSB, o movimento de aproximação deve ser selado com a provável filiação ao partido do governador do Maranhão Flávio Dino, que nesta quinta-feira (17) anunciou a sua desfiliação do PC do B.
PT e PSB já haviam firmado parcerias no Piauí e Paraíba e iniciaram movimentos de reaproximação em Pernambuco e Sergipe. Na Bahia e Ceará, as alianças locais são históricas e sobreviveram às rusgas dos últimos anos.
A conversa com o PSB de Pernambuco será uma das prioridades do périplo de Lula pelo Nordeste. Já está engatilhada reunião com o governador Paulo Câmara (PSB).
A reportagem apurou que Lula pretende se encontrar com o prefeito do Recife, João Campos (PSB), um dos nomes dentro do partido que resiste a um apoio ao petista já no primeiro turno das eleições de 2022.
No ano passado, ele protagonizou uma das eleições mais acirradas da história da capital pernambucana contra a prima Marília Arraes (PT).
O antipetismo foi usado de maneira intensa na campanha eleitoral do segundo turno. Lula tem forte relação pessoal com a família Campos. A intenção do petista é também fazer uma visita a Renata Campos, mãe do político.
O PSB pernambucano, que tem peso histórico nas decisões do partido, avalia que ainda não é tempo de definir alianças nacionais, já que o partido está em ascensão, com a iminente filiação de novos quadros como Dino e o deputado federal Marcelo Freixo.
João Campos e o ex-prefeito do Recife Geraldo Julio (PSB), que deve se lançar candidato ao governo estadual, têm feito contraponto no PSB a movimentos de aproximação com o PT.
Geraldo Julio declarou, no início de maio, que defendia candidatura própria para a disputa presidencial ou apoio a Ciro Gomes (PDT).
Com o MDB, que nas últimas eleições firmou-se como um parceiro do PT nos principais estados do Nordeste, há movimentos mais claros de aproximação no Ceará e em Alagoas. Mas há espaço para conversas na Paraíba, no Piauí e até na Bahia, onde PT e MDB estão rompidos desde 2009.
Presidente nacional do MDB, o deputado federal Baleira Rossi (SP) afirma que não há impedimento para conversas com o PT, mas diz que a parcela do partido que defende o apoio a Lula é residual.
“Estamos trabalhando majoritariamente na busca de uma candidatura mais moderada, mais equilibrada. Inclusive vamos apresentar nas próximas semanas um nome do partido para essa discussão”, diz.
No Ceará, o principal líder político do MDB, o ex-senador Eunício Oliveira, afirma que estará no palanque de Lula na eleição do próximo ano. Ambos encontraram-se em Brasília no início de maio.
“A não ser que o meu partido tenha um candidato próprio com chances, eu vou votar no presidente Lula no primeiro turno, sem a menor dúvida”, disse à reportagem Eunício Oliveira.
Derrotado na onda bolsonarista de 2018, Eunício tem planos de voltar ao Senado, mas pode disputar até o governo do Ceará. Para isso, tem conversado com setores do PT que trabalham por um palanque fiel para Lula no estado.
O governador Camilo Santana (PT) tende a apoiar um nome do PDT para o governo do Ceará e deve se manter neutro no primeiro turno entre Lula e Ciro Gomes, prováveis candidatos ao Planalto.
A parceria com o MDB também está encaminhada em Alagoas, onde o PT reaproximou-se do governador Renan Filho (MDB) e apoiou a sua reeleição em 2018, cerca de dois anos após o rompimento.
A aliança deve ser mantida. O PT não tem nome competitivo para disputar o governo do estado e seguirá a estratégia do Diretório Nacional de priorizar o apoio a potenciais aliados nos estados.
Na Paraíba, uma das conversas preferenciais de Lula deve ocorrer com o senador Veneziano Vital do Rêgo. Ele é presidente estadual do MDB e apoia o governador João Azevêdo (Cidadania), que vai disputar a reeleição em 2022.
“Eu vejo a movimentação como legítima e natural. Faz parte do esforço que o candidato a presidente tem que fazer. É o fortalecimento de laços com pessoas que já estiveram juntas”, analisa o senador.
Veneziano apoiou o impeachment de Dilma Rousseff em 2016. Em 2018, fez campanha para Fernando Haddad (PT) no primeiro e segundo turno da eleição presidencial.
Lula também vai se encontrar com o ex-governador Ricardo Coutinho (PSB), com quem tem forte ligação política e pessoal. O socialista pretende disputar uma vaga ao Senado no próximo ano.
Também está na mira do ex-presidente o governador João Azevêdo, que saiu do PSB após rompimento com Coutinho, que era seu principal padrinho político. “Na Paraíba, há blocos políticos que são adversários mas que, nacionalmente, têm feito enfrentamento intenso a Bolsonaro. É importante conversar com eles”, diz o presidente do PT na Paraíba, Jackson Macêdo.
No Piauí, Lula deve selar o seu apoio à candidatura do secretário estadual da Fazenda, Rafael Fonteles (PT), à sucessão do governador Wellington Dias (PT). Há duas semanas, Dias e Fonteles estiveram em São Paulo com Lula, quando o nome do secretário foi referendado para a disputa.
A formatação da chapa local envolve o MDB como um dos parceiros preferenciais. Emedebistas trabalham para que o presidente da Assembleia Legislativa, Themístocles Filho, seja candidato a vice-governador na chapa. Wellington Dias concorrerá ao Senado.
Presidente do MDB no Piauí, o senador Marcelo Castro afirma que a parceria local com o PT está consolidada. Por outro lado, é cauteloso ao falar da eleição nacional, já que o partido trabalha por uma candidatura ao Planalto.
“Minha posição é por uma candidatura própria. Ela será possível? No momento, ainda não temos essa resposta”, diz.
Em 2018, o MDB lançou Henrique Meirelles como candidato à Presidência. Marcelo Castro apoiou Fernando Haddad (PT) desde o primeiro turno. Ele justifica o apoio alegando que Meirelles não era um nome orgânico do partido e que a candidatura foi decidida na última hora.
Na Bahia, o senador Jaques Wagner tem aproveitado as fissuras na relação entre o MDB e o ex-prefeito de Salvador ACM Neto, presidente nacional do DEM, para tentar trazer a legenda de volta para a base aliada após 11 anos.
Os dois partidos foram aliados na vitoriosa campanha que elegeu Jaques Wagner para o governo da Bahia em 2006, mas romperam em 2009 quando Geddel Vieira Lima (MDB) decidiu concorrer ao governo do estado.
Geddel cumpre prisão domiciliar desde o ano passado. Ele foi preso após a Polícia Federal encontrar malas e caixas com R$ 51 milhões em dinheiro em um apartamento ligado a ele em Salvador.
Irmão de Geddel, o ex-deputado Lúcio Vieira Lima já teve conversas com Jaques Wagner, que será o candidato do PT ao governo da Bahia, e com o governador Rui Costa. “Não existe porta fechada, converso com todo mundo”, diz o emedebista, que ainda têm forte ascendência sobre o diretório da Bahia.