No mês passado, o número de pacientes com Covid-19 no Bradford Royal Infirmary, um hospital no norte da Inglaterra, tinha caído em níveis não vistos desde 2020. No entanto, com a variante Delta se espalhando pelos continentes, os números voltaram a subir.
De acordo com o epidemiologista John Wright, que comanda o Instituto de Bradford para Pesquisa em Saúde, cerca de metade dos pacientes são pessoas que optaram por não tomar a vacina. Agora, diz ele, muitos lamentam a atitude.
“É preocupante que cerca de metade dos pacientes na enfermaria hoje não tenham sido vacinados. Parei de perguntar a eles o motivo, porque estão claramente envergonhados”, conta o médico Abid Aziz.
Uma dessas pessoas é Faisal Bashir, um homem atlético de 54 anos. Ele afirma que por frequentar academia e manter hábitos esportivos saudáveis como caminhada, pedalada e corrida, achava que não corria o risco de contrair a doença. “A vacina foi oferecida para mim, mas fui arrogante.”
Bashir teve alta após uma semana recebendo oxigênio e faz questão de alertar outras pessoas para não cometerem o mesmo erro. “O que vivi no hospital me humilhou”.
“As pessoas estão enchendo os hospitais ao se arriscar, e isso é errado. Eu me sinto péssimo. Eu me sinto tão mal por isso e espero que, falando abertamente, consiga ajudar outros a evitarem isso.”
Não apenas o Bradford Royal Infirmary, mas diversos hospitais da comunidade inglesa enxergam com preocupação a expansão da Covid-19 e suas variantes. Segundo os médicos, a doença avança principalmente entre os mais jovens e os pacientes têm, em média, menos idade do que nas ondas anteriores, com muitos na casa dos 20, 30 e 40.
“Alguns já tomaram as duas doses da vacina e, portanto, tiveram uma doença mais branda, mas ainda assim tiveram de receber oxigênio de forma não invasiva. Sem a vacina, eles provavelmente estariam mortos”, diz o médico Abid Aziz. “Outros acabaram de tomar a primeira dose e, portanto, não estão totalmente protegidos”, complementa.
Abderrahmane Fadil, um homem de 60 anos e pai de dois filhos pequenos, é mais um dos que lamentam terem recusado a imunização. O professor de ciências estava desconfiado das vacinas por causa da velocidade com que eram distribuídas e acabou na UTI por nove dias.
“É tão bom estar vivo”, diz ele. “Minha esposa tomou a vacina. Eu não. Estava relutante. Estava me dando tempo, estava pensando que na minha vida vivi com vírus, bactérias, e pensei que meu sistema imunológico era bom o suficiente. E eu tive sintomas de covid no início da pandemia e pensei que talvez tivesse contraído. Achei que meu sistema imunológico reconheceria o vírus e eu teria defesas. Esse foi o maior erro da minha vida. Quase me custou a vida. Já tomei muitas decisões tolas na vida, mas essa foi a mais perigosa e séria.”
Fadil deixou o hospital há cerca de um mês, mas ainda não está bem. O professor admite que foi influenciado por conversas em redes sociais e notícias falsas sobre o coronavírus.
“Eu gostaria de poder ir a cada pessoa que se recusa a receber a vacina e dizer a eles: ‘Olha, isso é uma questão de vida ou morte. Você quer viver ou morrer? Se você quiser viver, então vá e tome a vacina”, afirma.
Para o epidemiologista John Wright, embora haja muito menos mortes por Covid do que antes, elas continuam acontecendo e o número está crescendo novamente. Portanto, explica, a velocidade das campanhas de imunização continua sendo uma questão de vida ou morte.
Se há uma lição do ano passado, é nunca subestimar esse vírus, diz o epidemiologista.
Da Redação com BBC Brasil