25/03/2021 12h41
MÔNICA BERGAMO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, vai se reunir nesta quinta (25) com os 72 professores titulares da Faculdade de Medicina da USP. Ele vai visitar o Incor (Instituto do Coração), o Instituto Central do Hospital das Clínicas e o prédio da Faculdade de Medicina da USP. De lá, Queiroga vai fazer uma reunião virtual com os professores, às 10h45.
A visita movimentou os bastidores da faculdade, e os professores decidiram fazer um manifesto reafirmando o posicionamento deles sobre a epidemia do novo coronavírus. Os médicos defendem medidas opostas às que o presidente Jair Bolsonaro vinha sustentando até agora.
No texto, os titulares vão destacar quatro pontos que consideram fundamentais: que o ministério mantenha informação transparente de todos os dados referentes a vacinação, casos de Covid-19 e óbitos por causa da doença, que não apoie qualquer uso de medicamentos para Covid-19 sem comprovação científica, que adote o distanciamento social como política prioritária, e que implemente vacinação universal e gratuita no país.
O ministro confirmou o encontro à coluna. Da base aérea de Brasília, onde embarcaria para São Paulo, ele disse que foi convidado para o debate e que é necessário, neste momento, “harmonizar” e criar “uma ambiência favorável para que as coisas avancem”.
Na semana passada, os 72 professores titulares que vão se encontrar com Queiroga assinaram uma carta aberta em que apontavam que o Brasil vive um recrudescimento “assustador” do número de casos notificados de adoecimento pela Covid-19. “Já alcançamos o patamar trágico de mais de 2.000 mortes diárias pela doença”, dizia o texto.
O colegiado dizia também que é necessário desenvolver medidas de combate às notícias falsas, desinformação e más práticas de prevenção e tratamento sobre o novo coronavírus. E elencava dez medidas que devem ser tomadas para um efetivo combate à epidemia.
Leia, abaixo, a íntegra da carta, divulgada em 17 de março:
“PANDEMIA DE COVID-19: É URGENTE AGIRMOS JUNTOS E JÁ
O colegiado dos Professores Titulares da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo vem manifestar publicamente sua preocupação com o grave momento que atravessamos no Brasil.
Enfrentamos uma das maiores crises sanitárias e humanitárias de nossa história. Vivemos um recrudescimento assustador do número de casos notificados de adoecimento pela COVID-19 e já alcançamos o patamar trágico de mais de 2.000 mortes diárias pela doença.
Danos igualmente graves, são os devastadores efeitos afetivos e materiais dessas mortes para as famílias e comunidades dos que se foram; as sequelas persistentes em muitos dos que conseguiram ultrapassar a fase aguda da doença; o colapso dos serviços de saúde e esgotamento dos profissionais, não prejudicando apenas o provimento da assistência aos pacientes com COVID-19, mas também obstruindo o acesso de pacientes com outros tipos de demandas urgentes e relevantes.
Um desafiador agravante da situação é o surgimento de variantes do SARS-CoV-2, que tem tornado ainda mais urgente nossa corrida pela imunização e, mais importante, pela implementação de medidas estruturais e comportamentais de controle da pandemia.
Para isso juntamos nossas vozes às daqueles que conclamam autoridades, profissionais, formadores de opinião e cada cidadão e cidadã de nosso país a assumir radicalmente o compromisso com a construção de uma resposta efetiva e solidária para superarmos esse triste cenário.
Sabemos que a tarefa é complexa e exigirá esforço, mas já temos clareza de caminhos a seguir:
1) coordenação dos diversos níveis da administração – federal, estaduais e municipais – para otimizar a capacidade do SUS na resposta à pandemia no país, das Unidades Básicas às UTIs;
2) implementação de estratégias de testagem, rastreamento e isolamento de casos e contatos;
3) vigilância genética para identificação precoce das variantes virais;
4) adoção de medidas radicais de lockdown nas regiões mais acometidas, com estratégias socialmente pactuadas para garantir adesão e eficácia;
5) desenvolvimento de políticas emergenciais intersetoriais para prover as condições materiais e logísticas necessárias para a adequada adesão das pessoas às políticas de isolamento físico, especialmente para as regiões e populações em situações de maior vulnerabilidade;
6) realização de uma estratégia de comunicação social capaz de promover uma cultura de prevenção que oriente e estimule as pessoas ao uso de máscara, higiene das mãos e a evitar aglomerações;
7) envolvimento das lideranças de grupos atingidos e comunidades em situação de vulnerabilidade para identificar necessidades e estratégias adequadas às diversas situações locais;
8) emissão de normas técnicas para os diversos espaços de interação (escolas, indústrias, comércio, entre outros) para diminuir o risco ambiental de transmissão, cuidando especialmente do transporte público para garantir a não aglomeração atual;
9) aceleração significativa do programa de vacinação, com critérios estratégicos para priorização de populações-alvo;
10) medidas de combate às notícias falsas, desinformação e más práticas de prevenção e tratamento.
Como se vê, há a necessidade de um firme compromisso ético e político para que essas medidas sejam postas em operação e para que consigamos construir o futuro de progresso e bem-estar, com justiça social e liberdade, que buscamos para nossa população. Os Professores Titulares da FMUSP reiteram esse seu compromisso e, mais uma vez, somam-se aos que trabalham para que um futuro de saúde e prosperidade seja o mais rapidamente possível o nosso presente.”