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Miley Cyrus troca os hits por autenticidade em álbum mais audacioso da carreira
30/05/2025 / 09:02
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Miley Cyrus – Foto: Glen Luchford / Divulgação

Miley Cyrus não está preocupada em buscar um novo hit, um desejo ousado desde que venceu seu primeiro Grammy no ano passado com a gravação do ano e melhor performance pop solo pela empoderada “Flowers” —que é, de longe, a música mais ouvida da cantora, com 2,5 bilhões de reproduções só no Spotify.

Em “Something Beautiful”, seu nono álbum, lançado nesta sexta-feira, a cantora entrega sua obra mais audaciosa, madura, visceral e diferente desde o estranho e experimental “Miley Cyrus and Her Dead Petz”, de 2015.

Esse desinteresse em buscar o próximo sucesso radiofônico é evidente, já que nenhum dos três singles lançados previamente brilhou nas primeiras posições da Billboard, nem permaneceu por semanas nas paradas. É como se ela tivesse passado pelo crivo do sucesso e agora pudesse fazer o que bem entender, mesmo que isso não agrade o público.

A pompa de mulher independente, sexy e confiante, presente em seu álbum anterior, “Endless Summer Vacation”, já não domina a temática das músicas deste novo trabalho, embora ainda se manifeste no visual do disco.

É seu projeto mais exuberante nesse aspecto, a ponto de ganhar um filme em junho com imagens que ilustram essa nova era. A própria capa do disco já antecipa a estética sofisticada que irá nortear todo o conceito do álbum em que Miley aparece coberta dos pés à cabeça com brilhos, ostentando um look de Thierry Mugler (1948-2022), da coleção de alta-costura “Les Insects”, desfilada na primavera de 1997 —figurino futurista que resgata a teatralidade e ousadia performática do estilista.

Na faixa-título, que abre o disco, a simplicidade inicial, com sua voz crua em destaque, dá lugar a uma explosão de guitarras, no melhor estilo de “Happier Than Ever”, de Billie Eilish. É ali que Miley apresenta o tema central do álbum, a busca por algo em que se apoiar, enquanto clama por ouvir “algo bonito” ou, ao menos, algo que traga algum sentido à sua vida.

Dentro de uma filosofia hedonista que enxerga o prazer como anestesia para a dor e caminho possível para a felicidade, Miley estende essa ideia à faixa “End of the World”, cujo refrão, “vamos fingir que não é o fim do mundo”, funciona como um convite a viver intensamente. A mesma tônica aparece em “Under the Golden Burning Sun”, a melhor do disco, em que a cantora se rende a um amor sublime e reforça que este também é um álbum sobre o amor.

Nessa pegada romântica, Miley deixa claro que está apaixonada. Atualmente, ela namora o músico Maxx Morando, também creditado na produção do disco. Se em “Flowers” havia suposições de que a faixa seria uma resposta ao término de seu casamento com o ator Liam Hemsworth, no novo álbum ela se mostra rendida ao amor.

O disco também explora um gênero ainda inédito na discografia da cantora. Ela se aventura pela disco pop com sintetizadores oitentistas e baladas eletrônicas. Em “Every Girl You’ve Ever Loved”, parece que estamos assistindo a um ballroom à la Madonna em “Vogue”. Isso se intensifica com a participação da modelo Naomi Campbell na faixa.

Esse clima de discoteca pop e dançante segue em “Reborn”, faixa que poderia ter saído diretamente da era “Born This Way”, de Lady Gaga —artista que, inclusive, foi citada por Miley como inspiração para este trabalho.

O trânsito entre gêneros musicais já é algo comum na discografia de Cirus. Ela já passou pelo glamour roqueiro em “Plastic Hearts” (2020), pela fase country em “Younger Now” (2017) e flertou com o pop psicodélico em “Miley Cyrus and Her Dead Petz” (2015).

Esse último é apontado pela própria cantora como seu trabalho favorito, apesar de ter dividido a crítica na época por ser um disco abertamente experimental. Essa veia ressurge em “Pretend You’re God”, faixa em que Miley clama por amor e aconchego, em uma atmosfera melosa que remete ao disco de 2015.

O álbum se encerra com “Give Me Love”, talvez a canção mais diferente de toda a sua carreira. Com versos que flertam com o místico, como “meu Éden perfeito”, Miley entrega uma despedida etérea como se tivesse encontrado a paz ou aquilo que faça sentido, ecoando o que clamava no início do disco.

Da Folha de São Paulo