Um estudo inédito, divulgado ontem pela Oncoguia, em parceria com o Data Favela e o Instituto Locomotiva, joga luz sobre a realidade de 18 milhões de pessoas que vivem nas favelas brasileiras em relação à oncologia oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Essa parcela da população é o principal perfil de usuário da rede pública de saúde, corresponde a 82% dos pacientes, sendo a maioria negras e da classe D/E. Mas é a que mais sofre com a falta de estrutura, de serviços e de profissionais especializados para tratar da doença.
O levantamento mostrou que há dois grandes problemas na conexão da população mais vulnerável com os cuidados em saúde oncológica: a desinformação e os gargalos para o início e a continuidade do tratamento. Um índice alto, 84% das pessoas entrevistadas tiveram contato com o diagnóstico de câncer e com óbitos por causa da doença — 60% tiveram casos na família e 44% aconteceu entre amigos ou conhecidos. Mas 62% assumiram que são desinformados sobre o assunto.
Renato Meirelles, fundador do Data Favela, explica que uma das chances de aumento na cura do câncer é o diagnóstico precoce, algo distante da realidade das favelas. “O que acontece é que o diagnóstico das favelas é muito tardio para o tratamento. Ainda que o SUS faça todo o esforço, elas não conseguem fazer os exames. Muitas vezes as pessoas não conseguem acompanhar todas as etapas do tratamento por causa do dia a dia. Muitas estão no trabalho informal. O tempo de ir até o hospital é o um dia de trabalho perdido”, explica.
“Atenção primária à saúde é a primeira forma de melhorar os números apontados pela pesquisa. Se não fosse o SUS os dados seriam muito piores, as pessoas estariam muito mais vulneráveis, mas na prevenção tem que envolver mais médicos, profissionais de saúde e eles devem ter proximidade dentro das comunidades”, frisou Meirelles.
“A nossa pesquisa mostra que as barreiras econômicas, sociais e até culturais também interferem e podem interferir muito no cuidado da saúde. As pessoas estão dizendo que se tivessem mais dinheiro, se tivessem com quem deixar seus filhos, se tivessem mais informação, se cuidariam melhor. Então, ao mesmo tempo que a pesquisa mostra que a população pede por mais infraestrutura, por médico, por exames, a gente precisa também pensar em estratégias para minimizar as barreiras”, sustentou a presidente do Oncoguia, Luciana Holtz.
O Correio questionou se o Ministério da Saúde tem novas estratégias para conter o avanço desses índices oncológicos para as pessoas mais vulneráveis. A pasta respondeu que “deve reforçar as ações e os serviços de tratamento, por meio de estratégias de prevenção, diagnóstico precoce, no âmbito da Atenção Primária e Especializada, com plano terapêutico integral e o monitoramento dos principais tipos de cânceres, com a articulação de toda a rede”.
Por Tainá Andrade, do Correio Braziliense