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Mototáxi por aplicativo é “tragédia anunciada” no trânsito brasileiro, diz pesquisador
17/08/2025 / 10:21
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Foto: TÂNIA RÊGO/AGÊNCIA BRASIL

A expansão dos serviços de transporte de passageiros por motociclistas de aplicativo vem sendo vista com preocupação por especialistas em mobilidade e saúde. Para o técnico de pesquisa e planejamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Erivelton Guedes, doutor em engenharia de transporte, a prática representa “uma tragédia anunciada” em um trânsito já marcado pelo elevado número de mortes em colisões e quedas de motos.

“Qualquer regulamentação vai acabar incentivando e, talvez, dando a falsa impressão de que, seguindo aquele monte de regras, vai dar certo. É uma tragédia anunciada. Eu vejo com muito pessimismo isso evoluir”, afirmou em entrevista à Agência Brasil. Guedes foi um dos responsáveis por incluir os dados de mortes no trânsito no Atlas da Violência 2025.

Lançado em 2020, o Uber Moto já transportou cerca de 20 milhões de brasileiros ao menos uma vez, o equivalente a quase 10% da população. Os deslocamentos foram feitos por 800 mil motociclistas. O 99Moto, lançado em 2022, já alcança mais de 3,3 mil cidades e ultrapassou 1 bilhão de viagens.

Crescimento das mortes no trânsito

Atlas da Violência 2025, produzido pelo Ipea e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostra que, apesar da queda nos homicídios, os acidentes de trânsito têm crescido desde 2020.

Foram 31.945 vítimas em 2019 contra 34.881 em 2023. As ocorrências envolvendo motos foram as que mais pesaram nesse aumento: as mortes passaram de 11.182 para 13.477 no período. Em 2023, uma em cada três mortes no trânsito envolvia motocicletas.

Guedes avalia que, com a consolidação dos aplicativos, a tendência é que os números de 2024, a serem divulgados no próximo Atlas, mostrem uma elevação ainda maior. Ele lembra que o passageiro é o mais vulnerável na moto: “O motociclista, bem ou mal, está enxergando o que está acontecendo. O passageiro está passivo, sem reação diante de um sinistro”.

Outro fator de risco apontado é a falta de equipamentos adequados. “Idealmente, piloto e passageiro deveriam usar botas, calças e jaquetas de couro, além do capacete. Mas o que vemos são passageiros de sandálias, roupas curtas e até mexendo no celular em vez de se segurar na moto”, acrescentou.

Apesar dos riscos, o pesquisador acredita que dificilmente esses serviços serão suspensos: “É uma luta perdida. Existe uma pressão econômica, tanto de passageiros quanto de condutores. Muitos escolhem arriscar a vida para garantir o almoço. Enquanto não houver alternativas de emprego, a moto por aplicativo vai continuar crescendo”.

Letalidade 17 vezes maior

O presidente da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet), Antonio Meira Júnior, reforça os riscos. Ele afirma que a probabilidade de morte em acidentes com motos é 17 vezes maior que em automóveis.

Segundo Meira Júnior, a vulnerabilidade se deve à falta de proteção para motociclistas e passageiros, que absorvem diretamente o impacto em colisões. Além disso, as motos circulam entre veículos maiores, em velocidades diferentes e em condições adversas de pavimento, o que potencializa o risco de quedas e colisões. “O resultado são lesões graves, politraumas, internações prolongadas e sequelas permanentes”, alertou.

Falta de alternativas

Para o professor do Programa de Engenharia de Transportes da Coppe/UFRJGlaydston Ribeiro, o aumento do uso de motos está ligado à ausência de transporte público de qualidade, sobretudo nas periferias.

Ele reconhece os perigos, mas acredita que a simples proibição penalizaria os mais pobres, que recorrem ao serviço por necessidade. “É necessário pensar em alternativas que ampliem as opções de mobilidade e não apenas punir quem já está em situação vulnerável”, concluiu.

F5 com informações da Agência Brasil