No podcast “De Carona na Carreira” desta semana, Thais Roque recebe Fê Paes Leme. A atriz foi uma das primeiras pessoas em solo brasileiro a ser diagnosticada com covid-19, ainda antes do isolamento social ser implantado no Brasil. Ela contou como usou o seu momento em pandemia para transformar sua relação com a internet, sua carreira e conta também como foi sua saída da Rede Globo para trilhar novas oportunidades.
Quando o isolamento social foi oficialmente implantado no Brasil, Fê Paes Leme voltou a morar em São Paulo com sua família e, na convivência com seu irmão Alexandre que também é ator começou a observar a movimentação das pessoas na internet e o surgimento das lives.
“Eu comecei a perceber que, por exemplo, os jornalistas e apresentadores migraram rapidamente para esse formato fazendo suas lives, suas entrevistas. Contudo, as atrizes e os atores ainda tentavam entender como lidariam com aquele momento. Então eu e meu irmão (Alex Paes Leme) começamos a nos falar sobre como poderíamos entrar nessa nova linguagem fazendo algo diferente e tivemos a ideia da websérie em formato vertical para o celular”.
A websérie a que ela se refere é a “Fake Live”, que acabou se tornando um grande sucesso de audiência e conquistou prêmios dentro e fora do Brasil.
“O projeto era muito legal e inovador, mas a gente não sabia como ia bater nas pessoas. O Alex (Paes Leme) escreveu o roteiro, eu era diretora de fotografia, produtora executiva, amigos que de forma remota a auxiliaram, uma equipe e reduzida. Quando a gente postou o primeiro episódio, foi um surto de sucesso viralizando nas primeiras 24 horas com mais de um milhão e meio de views”.
Durante o papo sobre dramaturgia e internet, Thais lembrou a recente polêmica do produtor de elenco que colocava o número de seguidores como requisito na seleção para um trabalho no teatro. Fê deu sua opinião sobre a atual relação entre sua profissão e a influência digital.
“Eu acho que é uma infelicidade muito grande a gente pautar o talento e a capacidade de alguém por conta do número de seguidores, como um pré-requisito para você chamar alguém para um teste. Isso é muito triste, porque você desrespeita pessoas que estudam, pessoas que estão há anos numa carreira e querendo oportunidade”.
Por outro lado, fez questão de destacar que o inverso precisa ser visto sem preconceitos, ou seja, influenciadores com muitos seguidores também devem ser bem recebidos em novas oportunidades de carreira quando decidem seguir por novos caminhos.
“Isso também não quer dizer que eu sou contra pessoas que são influenciadores ou que ficaram famosas nas redes sociais terem uma oportunidade artística. Eu procuro receber essas pessoas sempre livre de qualquer preconceito. Até porque as redes sociais vão acabar em algum momento, seja porque ficaram obsoletas e novas plataformas vieram ou acabar para mim mesmo, porque estou mais velha e em uma nova fase”.
Saída da Rede Globo
A convidada da semana também falou sobre sua saída da Rede Globo, onde tinha um contrato fixo. “Quando eu saí da Globo uma porta se fechou pra mim, mas eu fui escancarando janelas. A vida segue após um contrato longo (risos). Eu saí desbravando um outro mundo e isso foi muito importante pra mim porque eu já estava ali no piloto automático, aceitando coisas que me eram oferecidas e que, muitas delas, eu não deveria ter aceitado ou poderia ter feito diferente. Foi muito bom para eu me descobrir como artista”.
Sobre o que ela teria feito diferente na carreira, Fê dá um exemplo bem do início de sua trajetória. “Eu fiz uma minissérie de muito sucesso chamada ‘Um Só Coração’, minha personagem era muito boa nessa minissérie foi praticamente meu primeiro trabalho depois que eu saí do “Sandy Júnior” (série da Globo). Naquela época, não tinha essa coisa que hoje as pessoas já vêm negociar com empresário, com assessor, todo mundo muito bem preparado. Eu fui chamada depois dessa minissérie para fazer uma participação numa novela que já estava em andamento. Eu já tinha feito teste para essa novela para um papel bom, não tinha passado, no meio do caminho me chamaram para uma participaçãozinha. Eu topei e depois fui entendendo que eu não deveria ter topado aquilo. Algumas escolhas que a gente toma definem muito o caminho que a gente vai seguir depois”.
Como para muita gente um rompimento de contrato com a Globo é considerado um grande desafio na carreira, Thais perguntou se Fê chegou a passar por um período de luto após o término de sua fase na emissora.
“As coisas já estavam começando a acontecer fora dali e eu achava que eu também tinha que ir para o mercado, me mostrar disponível para o novo. Eu senti mais um luto da forma como aconteceu, alguns rompimentos pessoais que eu tive lá por conta de alguns desentendimentos com pessoas importantes. Isso me fez sofrer. Por exemplo, a forma como eu soube que eu não ia mais seguir apresentando o Superstar. Foi uma coisa que me deixou muito triste sim e, durante muitos anos, eu deletei isso da minha memória, eu só ia para frente eu não pensava mais no passado no que eu tinha deixado para trás”.
Sobre sua trajetória de sucesso até hoje, Fê conta que sabe do seu talento, mas tem vergonha de se reconhecer um sucesso para os outros. “Eu precisava ser mais como a Anitta (risos). A gente entra num lugar que às vezes a gente quer sempre mais e não aceita aquilo que a gente tem e não dá o verdadeiro valor àquele sucesso que a gente conquistou”.
O papo completo com essas e outras revelações já está disponível no canal do “De Carona na Carreira” no Spotify, no link: