Desde a primeira campanha de alfabetização de jovens e adultos em 1947, quando o Brasil enfrentava uma taxa de mais de 50% de analfabetismo, a Educação de Jovens e Adultos (EJA) tem sido uma peça fundamental no que diz respeito a inclusão social e econômica do país.
Com o advento da industrialização e a entrada de tecnologias avançadas no mercado de trabalho, a necessidade de mão de obra qualificada tornou-se ainda mais premente, destacando o papel importante da EJA na formação de indivíduos capazes de acompanhar os avanços daquela época.
No entanto, apesar da importância reconhecida, o apoio do governo muitas vezes tem sido insuficiente para viabilizar políticas públicas eficazes de educação.
“É dever do governo federal incentivar os municípios financeiramente a fim de garantir o acesso à educação de qualidade para todos, independentemente da idade ou condição socioeconômica”, disse o doutor em Educação e pesquisador em EJA Eduardo Jorge Lopes.
Ele detalha que trajetória da EJA no Brasil é marcada por desafios e conquistas.
“Desde a chegada da equipe de Paulo Freire no Rio de Janeiro, que trouxe consigo uma crítica profunda ao sistema educacional vigente, até os dias atuais, a modalidade enfrenta obstáculos como a evasão escolar e o preconceito arraigado na sociedade. Um dos maiores desafios da EJA é manter a motivação dos estudantes, muitos dos quais enfrentam baixa autoestima e falta de incentivo”, concluiu
A diversidade de perfis de estudantes na EJA exige uma abordagem pedagógica flexível e inclusiva.
Para muitos, voltar para a escola não é uma decisão fácil. Adilson de Sousa Santos, 58 anos, e Maria Zuleide Bezerra, 58 anos, são exemplos de quem enfrenta desafios para buscar educação.
“Eu estou aprendendo a ler e a escrever. Não conhecia o A nem o B, agora sei o alfabeto inteiro. Comecei a trabalhar muito cedo como empregada doméstica e cuidava das crianças dos patrões; a minha patroa era professora e prometia que ia me ensinar a escrever meu nome, mas ela nunca conseguiu, porque ou eu trabalhava ou eu estudava”, disse Maria Zuleide.
Adilson de Sousa encontrou na EJA a inspiração para voltar a estudar e realizar o sonho de tirar a carteira de habilitação. Apesar de ter estudado até os 14 anos, a falta de habilidades com a leitura o impediu de seguir.
“Queria tirar a carteira de habilitação, mas não sabia ler, meu sonho era andar na minha moto sem me preocupar. Entender as leis de trânsito, saber ler o que está nas placas. Hoje eu consigo contar os números, fazer contas, escrever meu nome, e vou tirar a minha carteira de habilitação em breve”, concluiu seu Adilson.
Professora na EJA
Professores engajados e sensíveis desempenham um papel fundamental nesse processo, adaptando-se às necessidades específicas de cada aluno e proporcionando um ambiente acolhedor para o aprendizado.
Com apoio e dedicação, a professora Leoneide de Brito, que atua na EJA há 11 anos, transforma a sala de aula modesta em verdadeiro refúgio para aqueles que nunca tiveram contato com as letras. Ela ressalta que a necessidade da leitura e da escrita é o que impulsiona esses alunos a estarem ali, lutando por uma educação que lhes foi negada por tanto tempo.
“O projeto surgiu para que os funcionários fossem alfabetizados e pudessem assinar o ponto. É muito gratificante com a EJA ajudar essas pessoas a concluir seus estudos, enriquecer os conhecimentos e melhorar a autoestima. Meu trabalho é uma troca de experiência. Eu procuro me capacitar para levar o conhecimento de acordo com a vivência do aluno e eles também trazem o conhecimento deles para mim. É uma troca muito boa”, comemora.
EJA na Emlur
O projeto de alfabetização adotado pela Autarquia Especial Municipal de Limpeza Urbana (Emlur) funciona no anexo da Escola Hugo Moura, dentro da própria Emlur, no Bairro dos Estados. A EJA atende jovens a partir dos 15 anos e pessoas que não concluíram os estudos na idade certa, de forma que possam ser alfabetizados, bem como concluir o fundamental e o ensino médio.
Desde a Constituição Federal de 1988, a legislação prevê o direito à educação a toda a população, inclusive as pessoas que não tiveram acesso à escola básica nas idades apropriadas, isto é, na infância e na adolescência.
Foi no contexto da constituição cidadã que a educação de jovens e adultos – a EJA, substituiu o modelo anterior, o antigo supletivo. A lei entende que todo mundo está em constante aprendizagem- inclusive de leitura e escrita; “a própria troca do termo “supletivo” por “ensino de jovens e adultos” exemplifica esse conceito mais acolhedor”, disse Eduardo Lopes.
O pesquisador destaca ainda a importância da EJA como um direito garantido a jovens e adultos que não tiveram oportunidades de permanecer na escola.
“A EJA não é um programa, é um direito garantido a jovens e adultos acima de 15 anos que não tiveram oportunidade de permanecerem estudando. Sobretudo os que nunca puderam estudar. O preconceito e a falta de incentivo são desafios constantes. A baixa autoestima dos alunos demanda uma abordagem sensível e motivadora por parte dos professores, que se tornam verdadeiros militantes em prol da educação pública”, concluiu.
Apesar dos desafios, a EJA continua sendo um investimento necessário. Ao capacitar pessoas para uma vida mais produtiva, a modalidade contribui para o avanço da qualidade de vida e também para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.